King Kong en Asunción

Filme de estética apurada, ‘King Kong en Asunción’ começa a instigar desde seu título, inusitado e até divertido. King Kong, no caso, não é o clássico gorila gigante dos cinemas. É, na verdade, a história de um matador de aluguel idoso que, ao contrário do personagem de Nelson Xavier em ‘Comeback’, está deixando a profissão totalmente de lado. Para compor esse personagem interpretado brilhantemente pelo falecido Andrade Júnior, porém, o diretor e roteirista Camilo Cavalcante (‘A História da Eternidade’) aposta em um experimentalismo conscientemente vazio: o protagonista vai de lá para cá na América do Sul, em busca de meios de deixar seu passado para trás e encontrar uma filha que nunca teve uma boa relação -- tudo isso, ainda por cima, com uma narração lenta e tão contemplativa quanto as imagens colocadas na tela por Cavalcante, que vai pontuando os sentimentos e ações do personagem de Andrade. É um filme difícil de acompanhar, até mesmo complicado, já que ele parece afastar o espectador o tempo todo, assim como o seu protagonista afasta a sua realidade. No entanto, quem gosta de experimentalismos no cinema, vai encontrar aqui uma peça rara do cinema nacional, que usa e abusa da linguagem como uma forma de fazer com que a história ganhe vida, ainda que moribunda.

Matheus Mans

Editor do Filmelier