Madalena

A primeira cena do longa-metragem brasileiro ‘Madalena’ começa como se fosse um documentário. Planos abertos e longos mostrando emas em um campo no interior do Brasil. Tudo é muito banal, muito natural. Até que a edição dá um corte e nos mostra, com a mesma naturalidade, um corpo estirado no matagal. É Madalena, uma mulher transexual morta e que passa invisível pelo cotidiano das pessoas daquela cidadezinha. A partir daí, acompanhamos três histórias: uma conhecida que tem uma dívida com Madalena; um homem desesperado para que ninguém veja o corpo de Madalena; e, por fim, um grupo de amigas precisando se desfazer dos pertences da personagem-título. Apesar de acrescentar algumas camadas na condição de invisibilidade de Madalena, ao não dar voz à sua personagem, o longa-metragem surpreende com um retrato frio e original sobre a invisibilidade das pessoas transexuais no Brasil, em um cenário agravado ainda pela violência contra os corpos e a vida dessas pessoas. Reflexivo e com várias boas sacadas, ‘Madalena’ é uma das grandes surpresas do cinema brasileiro em 2021.

Matheus Mans

Editor do Filmelier