Lançamentos online da semana de 30 de outubro de 2020

Se as grandes obras da humanidade são frequentemente retratadas em filmes e documentários, por que não falar também dos grandes fracassos? É isso que faz o excelente documentário ‘Missão Planeta Terra’, do cineasta Matt Wolf (‘Wild Combination: A Portrait of Arthur Russell’). Aqui, o espectador é convidado a mergulhar nas entranhas do experimento da Biosfera 2, um terrário hermético no deserto do Arizona, contendo uma réplica em miniatura do ambiente da Terra. Apesar das intenções positivas de um magnata do petróleo em usar essa experiência para desenvolver novas tecnologias e formas de energia, o experimento acabou se transformando em um microscópio sobre a organização social em que vivemos. Wolf, que sabe tratar o material com a atenção que merece, conduz o espectador ao caos sem deixar que perceba o caminho que está trilhando. Quase uma história dos irmãos Coen, que começa sem problema algum e logo entra numa espiral de caos -- aqui, no caso, morte de plantas, intrigas, falta de oxigênio. Além disso, é um filme que, mesmo contando uma história da década de 1990 e que se tornou um fracasso, acerta ao atualizar as discussões e não fugir de algumas reflexões espinhosas. [-]

Estamos acostumados a ver produções de romance ou comédias leves no cinema francês. No entanto, nos últimos anos, histórias com outras abordagens, como crime, trama policial e suspense, no caso de ‘Os Miseráveis’, do diretor Ladj Ly, estão se tornando mais populares. ‘Bronx’ trata sobre um esquadrão anticrime na França, em Marselha - premissa semelhante a do filme de Ladj Ly - e trata sobre rivalidade entre gangues e policiais. O longa tem Jean Reno no elenco e direção de Olivier Marchal, que tem experiência com a temática pois criou a série ‘Braquo’, que mostra a corrupção dentro da polícia francesa. ‘Bronx’ é um filme bem feito, com roteiro sólido, boas atuações e certamente vai agradar quem gosta de uma boa trama investigativa com sequências de ação. [-]

Filmes sobre serial killers sempre seguem fórmulas parecidas: crimes que surgem aos poucos, um investigador ou extremamente correto ou extremamente desajustado e peças que se encaixam quase que magicamente. 'Assassinatos em East London' segue exatamente esse estilo, devendo agradar os fãs de produções como 'O Silêncio dos Inocentes'. No entanto, vale dizer, o cineasta Richard J. Perry coloca um tempero a mais no longa-metragem. Há um bocado a mais de violência, um clima sensual interessante e, principalmente, algumas sacadas narrativas que dificultam acompanhar a trama de forma totalmente linear -- o que, acredite, é um ponto positivo. No final das contas, fica aquela sensação de mesmice, mas com um gostinho de surpresa. Os personagens, o ambiente, a proposta. Tudo é banal, tudo é igual ao que já foi feito. No entanto, felizmente, 'Assassinatos em East London' ainda consegue trazer alguns elementos que provocam, instigam e vão além. [-]

Emocionante e potente documentário, ‘Time’ é daquelas produções que ficam ecoando na mente de quem o assiste por um longo, longo tempo. Afinal, aqui, a diretora Garrett Bradley trata com habilidade e respeito a história de uma mulher lutando pela liberdade de seu marido, condenado a 60 anos de prisão. É um filme um tanto quanto formulaico, um pouco previsível em seu tratamento, mas que, mesmo assim, não perde sua importância. Afinal, assim como ficções recentes como ‘As Ondas’ e ‘Queen & Slim’, o longa-metragem documental trata da luta do movimento preto ao redor do mundo e mostra, com confiança e talento, como essa história aparentemente banal ressoa em todo o movimento. Um filme inspirador e emocionante, que deve agradar os que buscam boas histórias de luta racial. [-]

Comédias românticas costumam cair sempre em clichês e tramas previsíveis. ‘Amor com Data Marcada’ pode não fugir muito dessa fórmula de sucesso, mas consegue se inovar e trazer um certo frescor ao gênero. A química de Emma Roberts e Luke Bracey é quase invejável, especialmente quando pensamos em uma amizade entre o sexo oposto. A produção é divertida e bem agradável de assistir. A personagem de Roberts é bem carismática e faz uma crítica a pressão que mulheres solteiras que sentem - geralmente por conta de família e sociedade que pregam que a felicidade está atrelada a um relacionamento. Se você está procurando algo leve para assistir e usar como uma distração do que está acontecendo no mundo, vale a pena conferir. [-]

Hannah é a estrela de um programa de reformas, ao estilo 'Irmãos à Obra'. No entanto, apesar do sucesso do programa, ela acaba sendo mandada para sua cidade-natal, com o objetivo de reformar uma mansão. E é a partir daí que o diretor Steven R. Monroe (do terror 'Doce Vingança') começa a se valer de clichês do gênero para construir essa história de amor. Engana-se quem pensa que esses clichês são ruins ou coisa tipo. Ainda que não traga originalidade ou grandes momentos, 'Arquitetura do Amor' é daqueles filmes leves, para ver num dia chuvoso, pensando na vida, no amor e outras coisas do tipo. Com certeza, não vai mudar sua vida. Mas vai deixá-la mais leve e romântica. [-]

O drama de refugiados da África e do Oriente Médio se tornaram uma constante nos cinemas, seja documentários (‘Human Flow’, de Ai Weiwei), filmes de ação (‘Missão no Mar Vermelho’) e dramas potentes (‘Adú’). O emocional ‘O Que Ficou para Trás’ segue um caminho misto desses dois últimos estilos. Afinal, por um lado, o diretor estreante Remi Weekes dá um tom de thriller para a jornada de refugiados escapando do Sudão do Sul. No entanto, ainda assim, o drama pungente dessa família tentando sobreviver em meio ao caos social e militar da região ganha contornos emocionais e sensoriais interessantes. Dessa forma, ‘O Que Ficou para Trás’ é daqueles filmes que agradam dois tipos de público de forma complementar. E ainda por cima, no final das contas, trazendo reflexão importante. [-]

A partir da década de 1940, o mundo entrou num novo modelo de embate a partir das armas nucleares. Por conta do alto poder de destruição, a guerra se tornou silenciosa. São ameaças veladas, ataques sutis. No entanto, com a chegada do mundo digital, o eixo mudou. Ainda que as armas nucleares continuem mandando e desmandando na ordem das coisas no globo terrestre, outro fator entrou em voga: ameaças e ataques cibernéticos, que podem “desligar” uma nação. E é sobre isso que se debruça ‘A Arma Perfeita’, documentário exclusivo da HBO que conta mergulha na potência desses ataques e quais os efeitos devastadores que podem ser causados apenas com cliques em mouse ou teclado. [-]

O terror polonês agradará os fãs de filmes slash de baixo orçamento dos anos 1980. Com efeitos visuais questionáveis e uma trama bem óbvia, o longa acompanha um grupo de jovens em busca de uma conexão com a natureza que acaba se tornando vítima de um assassino em série. A melhor coisa é que o longa não se leva a sério, o que deixa tudo bem interessante nesse cenário. Um dos personagens chega a se questionar se a história não tem clichês demais. ‘Sem Conexão’ tem uma trilha sonora interessante, alguns atores parecem que saíram do clássico ‘Os Goonies’. A produção é indicada para passar o tempo, especialmente se você for o tipo de público que assiste a tudo com o celular na mão - nesse caso, importante colocar o filme dublado se você não for fluente em polonês. [-]

Na América Latina, o terror encontrou espaço em produções geralmente independentes, mas de força interessantíssima — como é o caso de ‘Aterrorizados’, ‘Juan dos Mortos’ e ‘Mal Nosso’. Agora, a Netflix coloca seu selo de exclusividade nesta interessante produção mexicana, ‘Menéndez: El Día del Señor’. Aqui, o diretor Santiago Alvarado (‘Capa Caída’) traz ecos de ‘O Exorcista’ e ‘Livrai-nos do Mal’ para falar de um padre lutando contra uma força maligna. Obviamente, os efeitos especiais ficam abaixo de produções americanas, podendo gerar desconforto ou estranhamento em alguns públicos. No entanto, aqueles que derem uma chance ao cinema latino de gênero pode encontrar, dessa forma, uma rica fonte de produções ousadas, criativas e que fogem radicalmente do lugar-comum do cinema. [-]

A animação ‘Ben 10’ é um dos maiores sucessos do canal Cartoon Network. Afinal, a trama é inventiva: conta a história de um garoto que, com seu relógio mágico, consegue se transformar em diferentes criaturas para salvar o dia. Agora, no longa-metragem ‘Ben 10 Contra o Universo: O Filme’, vemos o herói mirim calcando alguns degraus de importância na luta contra os perigos que ameaçam a Terra -- mais especificamente, ameaças de outros planetas, ainda mais poderosas. Obviamente, o filme segue a fórmula do desenho, para o bem e para o mal. Fãs do programa vão se deliciar com as novas aventuras propostas. Mas, uma pena, ‘Ben 10 Contra o Universo: O Filme’ não deve atrair novos fãs por conta da mesmice de sua proposta. Um filme divertido que deve empolgar crianças de várias idades. [-]

‘Meet the Censors’ parte de um argumento interessantíssimo que infelizmente se perde no decorrer do filme. A montagem prejudica o que poderia ser uma narrativa instigante e relevante. O diretor Håvard Fossum assume os holofotes da produção e isso acaba forçado, especialmente quando ele tenta sondar se existe um lado positivo na censura. ‘Meet the Censors’ dramatiza e enrola demasiadamente para chegar ao seu propósito. É possível que construção agrade quem está acostumado com documentários políticos, mas certamente desagradará quem não é entusiasta do gênero. [-]

E quem disse que a Índia também não faz filmes de terror? ‘A Maldição do Poço’, que carrega o selo de exclusivo da Netflix, é um bom exemplo. Dirigido pela cineasta estreante Terrie Samundra, o longa-metragem acompanha um vilarejo da Índia assombrado por um espírito do passado. Dessa forma, misturando as tradições ancestrais da Índia com um tom de terror típico dos Estados Unidos, o filme traz algumas questões interessantes para reflexão enquanto também garante alguns bons sustos. Não é realmente inventivo, tampouco tem uma qualidade a ser destacada. No entanto, de qualquer forma, é válido para embarcar na jornada de um filme indiano de terror tão banal, mas tão próprio e particular. [-]

Uma ótima animação do Studio Trigger, muito conhecida no Japão e entre os fãs de anime. ‘Promare’ tem uma incrível trilha sonora, personagens bem construídos e alguns clichês do gênero, que se adequam a história. A produção é tão interessante que poderia virar uma série. Afinal, sem dúvidas tem ganchos o suficiente para isso. O filme é extremamente bem feito no quesito técnico, é admirável ver o trabalho de iluminação, contraste, coloração e foco em detalhes. A animação em CGI ficou muito bonita. Até mesmo os mais céticos, que não gostam dessa tecnologia em animes, terão que assinar embaixo. Importante ressaltar que se você não assistiu a nenhum filme do Studio Trigger, pode não ficar tão empolgado, mas vale a indicação para conhecer melhor as produções do estúdio. [-]

Uma boa adaptação do romance homônimo de Herman Hesse, escritor alemão ganhador do Prêmio Nobel de Literatura. O único pequeno problema é que a obra literária está contida nas páginas é realmente difícil trazer isso para o cinema. Mas o filme funciona muito bem, especialmente se você ignorar o livro. A trilha sonora é bem pensada e nos remete aos desejos humanos, afinal a própria história trata sobre sentimentos proibidos. ‘Narciso e Goldmund’ é uma bela produção e muito boa em tentar trazer a essência do romance de Hesse. [-]

Interessante documentário, ‘Guillermo Vilas: Esta Vitória é Sua’ se encaixa com perfeição no gênero “nacionalista”. Afinal, nesta trama, o diretor Matias Gueilburt (de ‘Antes de que nos olviden’) acompanha a jornada de um jornalista argentino que tenta provar que seu conterrâneo, o tenista Guillermo Villas, teve a posição de nº 1 no mundo injustamente negada nos anos 1970. Sem esconder seu partidarismo e como foge de algumas questões postas em pauta, o longa-metragem acaba sendo um mergulho à carreira desse esportista e, principalmente, ao mostrar como organizações esportivas também são notadamente levadas a apoiar determinadas nações ou times. Um filme-denúncia, que só perde pontos pela falta de alguns questionamentos. Fãs do esporte, sem dúvidas, vão se interessar. [-]

Filmes sobre amizade entre animais e crianças são uma frequente nos cinemas. ‘Beethoven’, ‘O Pequeno Stuart Little’ e ‘Free Willy’ são apenas alguns bons exemplos desse tipo de filme. No entanto, apesar de ser uma fórmula um tanto saturada, que boa surpresa é o emocionante ‘Amigos Para Sempre’. Dirigido por Shawn Seet (da série ‘The Code’), o longa-metragem conta a história de um empresário (Geoffrey Rush, como sempre muito bem) que começa a relembrar seu passado e sua infância. Como foco, porém, entra a sua história com um pelicano resgatado e que se tornou sua companhia frequente. É um filme lacrimoso, com uma história conhecida por todos, mas que sem dúvidas vai agradar aqueles que buscam tramas leves, e ainda assim emocionantes, para derramar algumas lágrimas e ficar com o espírito mais leve. Destaque para Rush (‘O Melhor Lance’) e para o pequeno Finn Little (de ‘Tidelands’), que sabe emocionar na medida certa. [-]

Saqqara é um sítio arqueológico do Egito, que funcionou como necrópole da antiga cidade de Mênfis, uma das várias capitais que o Antigo Egito conheceu ao longo da sua história. Um lugar repleto de vida e morte, histórias e silêncios. A partir disso, o documentário ‘Os Segredos de Saqqara’ acompanha a jornada interessante, e um tanto quanto intimista, de arqueólogos egípcios que tentam decifrar a história de uma tumba desenterrada e intocada ao longo de mais de 4 mil anos. Uma narrativa fascinante, repleta de boas imagens sob a batuta do diretor James Tovell e que deve deixar os fãs de História antiga de boca aberta. [-]

O longa-metragem ‘Ao Fim da Trilha’, do estreante em longas Barry Tolli, é daquelas produções com endereço e objetivos certeiros. Afinal, este dramalhão religioso não poupa o espectador ao contar a história de três irmãos que vão jogar as cinzas do pai em uma montanha e, ali, encontram uma presença especial -- ao melhor estilo de ‘A Cabana’ e afins. A história é fraca, as atuações são limitadas e não há muita coisa a encontrar além da mensagem religiosa sobre luto, fé e crença. No entanto, públicos que gostam de produções desse tipo devem se satisfazer e encontrar, aqui, um alento para as dores mundanas da perda. Só não espere um filme inventivo e criativo. ‘Ao Fim da Trilha’ faz o esperado. E só. [-]