‘Andança’ celebra Beth Carvalho e a memória do samba de raiz

“Brasil é um país sem memória”. Aposto que você já ouviu essa frase, ou variações dela, quando se fala em grandes nomes do nosso passado que raramente são lembrados ou celebrados. Por isso, é tão importante exaltar filmes como ‘Andança: Os Encontros e as Memórias de Beth Carvalho‘, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 2 de fevereiro.

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Dirigido por Pedro Bronz, de ‘A Farra do Circo’, o documentário fala, essencialmente, sobre a vida e obra de Beth Carvalho. No entanto, esqueça aquele formato quadrado das cinebiografias, de pessoas sentadas na frente de uma câmera tecendo loas ao biografado, imagens de arquivo aos montes e outras coisas do tipo. Aqui tudo é diferente.

Em ‘Andança’, o cineasta se vale de um arquivo produzido por Beth ao longo de décadas. Ela, como diz em um determinado momento do filme, tinha cabeça de pesquisadora. Ela registrava tudo: desde conversas até ensaios.

“Minha mãe era uma grande amiga da Beth. Elas se conheceram quando tinham oito anos de idade, estudaram juntas no colégio. Tomaram rumos profissionais diferentes, mas continuaram amigas. Cresci vendo a Beth, que era muito próxima da família”, diz Pedro ao Filmelier. “Falei com ela, ainda em vida, sobre essa possibilidade do documentário com esse material que a Beth filmava. E ela gravava tudo, tudo. Fui atrás do material e comecei a resgatar o material”.

Segundo ele conta, eram caixas e caixas de material, que estavam espalhados na casa de Beth, com amigos, familiares e seu secretário. “No final, conseguimos juntar mais de 800 fitas de vídeo, com quase 2 mil horas de material”, diz Pedro. “A primeira coisa que a gente fez no projeto foi um processo de restauro de todo esse material da Beth. Foi um processo de quase dois anos. Era essencial. O projeto nasceu a partir do conhecimento da existência desse arquivo.

História de Beth Carvalho e de ‘Andança’

Bronz tem ouro em mãos. Não só conseguimos mergulhar nas idas e vindas da madrinha do samba, como também conseguimos participar de alguns momentos históricos do samba. É de arrepiar, por exemplo, o momento gravado em som por Beth Carvalho em que Cartola apresenta, pela primeira vez, os sambas ‘As Rosas Não Falam’ e ‘O Mundo é um Moinho’. É o ponto alto de ‘Andança’, mostrando como é mais do que uma cinebiografia. É uma celebração.

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“A Beth deu o axé para o projeto. Inclusive, a gente fez a última entrevista com a Beth nesse projeto, que é um áudio que ela comenta sobre o Arlindo Cruz. Foi uma semana antes dela morrer”, diz o diretor de ‘Andança’.

Depois, são outros grandes momentos que vão se sucedendo, trazendo uma registro poderoso. Não tem como ficar impassível ao encontro com Fidel Castro, quando ele pede uma nota de real e Beth não apenas entrega uma para ele, como também a autografa. É brilhante. Os momentos de troca com outros grandes sambistas, como Jorge Aragão e Arlindo Cruz, também dão uma sensação de como esse filme é único. Para fãs de samba, difícil segurar a emoção.

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Agora, inclusive, Pedro pensa em ir além do que mostrou em ‘Andança’. “A TVZero, que é a produtora, já está começando a desenvolver uma série com o material da Beth e que também vai além do material em si. Ela era midiática e tem muita coisa”, diz o cineasta. “Eu também estou interessado em fazer um podcast com esse material”.

Com isso tudo, ‘Andança’ é uma das produções mais brilhantes desse primeiro trimestre do ano. Não só é corajosa por seguir um formato diferente (ainda que um tanto quanto linear, infelizmente), como também é uma celebração à memória. Memória da madrinha Beth Carvalho, de Nelson Cavaquinho, de Cartola, do Cacique de Ramos, do Fundo de Quintal. É uma beleza rara de se encontrar, ainda mais em um país que simplesmente não celebra o passado.

‘Andança’ está em cartaz nos cinemas desde quinta-feira, 2 de fevereiro. Para comprar ingressos, clique aqui.

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