'As Verdades', a violência contra a mulher e a sororidade feminina
Bianca Bin, Edvana Carvalho e Drica Moraes falam sobre o longa-metragem, que vai além de uma trama criminal banal
Você pode nunca ter escutado esse nome, mas o escritor japonês Ryûnosuke Akutagawa revolucionou a literatura. Os contos 'Dentro do Bosque' e 'Rashomon', que inspiraram o longa-metragem que repete o nome deste último texto, trouxeram a ideia da "história de versões". São narrativas que falam sobre um mesmo acontecimento a partir de perspectivas distintas, jogando para o leitor (ou espectador) a responsabilidade de saber o que está certo. Agora, esse formato de história chega aos cinemas brasileiros com 'As Verdades', que estreia na tela grande já nesta quinta-feira, 30.
Dirigido por José Eduardo Belmonte ('Alemão 2'), 'As Verdades' conta a história de um crime cometido em um pequeno município baiano: a tentativa de assassinato de um político local, Vladmir (ZéCarlos Machado). É o primeiro caso de Josué (Lázaro Ramos), um delegado recém-chegado na cidade e que tenta deixar ideias pré-concebidas de lado. Depois disso, a história é contada de pontos de vista diferentes, dos três personagens presentes no momento do crime: Cícero (Thomas Aquino), o matador de aluguel; Francisca (Bianca Bin), a noiva do político; e o próprio Vladmir.
No entanto, não se engane: não é uma história criminal convencional. Ainda que comece com um pé no cinema noir, com esse delegado narrando acontecimentos e até mesmo com uma suposta "femme fatale", nada disso segue no roteiro. "O filme fala muito sobre sororidade feminina. Minha personagem se compadece com o sofrimento das outras mulheres e liberta a personagem da Drica Moraes, [mãe de Francisca], enquanto os homens aprontam e eles mesmos se perdoam", diz Edvana Carvalho, que interpreta a delegada Samia. "O filme provoca reflexão sobre o silenciamento".
'As Verdades' e a violência contra a mulher
Ainda que o filme cometa alguns deslizes, como a questão de ter um personagem masculino centralizando toda a história, é profunda a forma que o 'As Verdades' absorve o roteiro de versões para uma história sobre violência contra a mulher. Há a sensação, infelizmente mais próxima da realidade do que realmente deveria ser, de que a voz dessa mulher nunca pode ser realmente ouvida. Só o que ela diz não vale. As verdades circulam, existem, resistem na opinião das pessoas que, muitas vezes, sequer estão envolvidas no que está acontecendo. É uma violência generalizada.
"O filme é sobre a normalização do abuso feminino. Essa é uma grita que é um passo pra frente e três pra trás. A gente precisa continuar gritando e esse filme grita essa verdade", diz Drica Moraes, em coletiva de imprensa. "Minha personagem vive na normalização do abuso, já que é de uma época em que isso nem era crime de verdade. Era uma coisa natural. Falamos de uma insurreição que a gente não pode admitir mais. Está no campo do inaceitável, do inegociável. Mas, apesar disso, isso ainda acontece em muitas casas, em muitos lugares. Precisamos gritar sempre".
Bianca Bin, enquanto isso, fica no centro das atenções. É a personagem dela que mais sofre -- desde o relacionamento com Vladmir, passando pelas cantadas que recebe de Cícero e até o momento do crime em si. Como escapar?
"Não é só um crime. A história se baseia na tentativa de assassinato, mas são vários os crimes que movem a história", diz Bianca Bin, também na coletiva, quando questionado sobre a narrativa do filme. "O que me encanta é a trajetória de libertação feminina. É uma personagem de alma essencialmente livre, mas é uma criança que foi violentada, que cresce em uma família desajustada, que fica órfã de pai… É a luta dessa mulher para sobreviver de tudo isso".
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Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.
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