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‘Zombi Child’ é uma história sobre liberdade e a situação do mundo hoje, diz o diretor
Longa-metragem do cineasta francês Bertrand Bonello se debruça sobre a história de uma garota na França e de seu avô ‘zumbi’
O cineasta francês Bertrand Bonello, nos últimos anos, tem se debruçado sobre a juventude. Em ‘Nocturama’, ele falou sobre perda de inocência e a radicalização. Em ‘Saint Laurent‘, sobre um jovem genial. Agora, em ‘Zombi Child‘, sobre as amarras da vida com o passado e a sensação de liberdade
Na trama do filme, que chegou ao streaming nesta semana (clique aqui para saber onde assistir), a jovem haitiana Mélissa (Wislanda Louimat) tenta se enturmar com amigas na França, principalmente com Fanny (Louise Labeque). Assim, ela entra numa luta entre presente e passado, memória e identidade, vida e raízes.
Afinal, a história da menina está intimamente ligada com a história do Haiti. Seu avô, Clairvius Narcisse, era o chamado “zumbi haitiano” — são as pessoas que entram num estado de entorpecimento e são escravizadas. Como lidar com a conexão ao passado? Deve esquecer pra se enturmar? Questionado pelo Filmelier, o diretor confirmou o objetivo de falar sobre liberdade e vê um paralelo entre a história e a situação com o mundo hoje. Afinal, vive-se uma completa incerteza sobre o futuro e os próximos passos. “É sobre a transmissão e a sensação de liberdade. Há algo, ali, que se fala sobre o hoje. Tanto pessoal quanto nacional”, disse o diretor, enquanto fumava um cigarro eletrônico. “A protagonista não tem certeza do que fazer com sua história, nem tem certeza do seu futuro. É um vácuo existencial”. Além disso, o cineasta destaca a importância de resgatar a figura política do zumbi. “Em filmes clássicos do gênero, há significados políticos”, diz o diretor. “O meu não fala sobre invasão zumbi, mas mais sobre a origem daqueles zumbis. E isso traz um aspecto político até sobre a escravidão”.
Bastidores de ‘Zombi Child’
A história do “zumbi haitiano” Clairvius Narcisse é real. Por mais surreal que seja, o haitiano foi drogado e levado para um campo de trabalho forçado. Bonello entrou em contato com essa saga há 20 anos. Desde então, tem pensado na história e elaborado meios de levá-la às telas dos cinemas. A oportunidade, assim, surgiu há dois anos. O cineasta pensava numa maneira de abordar a temática dos zumbis de maneira diferenciada. Logo a história de Narcisse voltou à sua mente. Começou a elaborar o roteiro e, no final das contas, acabou criando a história que transita entre Paris e Haiti. “Nós tínhamos dois sets de filmagem. Um na França e outro no Haiti. A primeira viagem para lá foi uma verdadeira emoção. Afinal, não é fácil um branco francês chegar e falar: ‘ei, quero fazer um filme sobre zumbis haitianos e vudu'”, disse o diretor. “Aprendi muito, ouvi muito. Isso ajudou”. Além disso, Bonello deixou que os próprios haitianos o explicassem sobre a figura de Narcisse e o vudu. O diretor não queria interferir em nada disso. “Quando estava escalando o elenco no Haiti, testei 30 homens para o papel de Clairvius. Todos faziam o zumbi da mesma maneira: a caminhada, o som. São histórias que eles conhecem desde quando eram crianças”, disse. “Aprendi muita coisa com a equipe de lá. Os atores sabiam mais do que eu”.