Como são escolhidos os indicados e vencedores do Oscar? Como são escolhidos os indicados e vencedores do Oscar?

Como são escolhidos os indicados e vencedores do Oscar?

O Academy Awards tem um sistema de votação complicado, que muitas vezes premia o filme mais agradável – e não exatamente o melhor na visão dos membros da Academia

12 de janeiro de 2024 23:10
- Atualizado em 16 de janeiro de 2024 13:12

Antes do Oscar, como acontece todo começo de ano, há uma ansiedade generalizada sobre quem serão os indicados para o Academy Awards. Qual será o filme mais lembrado? Quem será esnobado? A responsabilidade fica nos ombros dos integrantes da Academia de Artes e Ciência Cinematográficas (AMPAS, da sigla em inglês), que participam desde os indicados até a escolha dos vencedores.

Trata-se da parte final de um processo com algumas idas, vindas e particularidades, que possuem impacto direto naqueles que serão considerados os melhores longas e curtas-metragens na maior premiação do cinema mundial. Entender esse processo é, em última instância, entender os motivos das vitórias e das derrotas no Oscar.

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Para começar, como você leu aqui no Filmelier, um filme precisa ser elegível para a premiação. É um primeiro corte, importante, que reduz o número de produções que podem aparecer no Oscar. 

Além disso, quem vota para os indicados e, depois, os vencedores são apenas os integrantes da Academia, com os quais você já foi apresentado em um artigo anterior desta série.

Escolhendo os indicados

A primeira parte da saga chamada Oscar é quando os, hoje, 10,5 mil membros da Academia recebem as cédulas (que, desde 2013, são digitais) para escolherem os indicados ao prêmio. A AMPAS é composta por 17 seções, divididas entre as mais diversas funções dentro da indústria do cinema, e um integrante de uma seção só pode votar para os indicados dentro dela mesma. 

Ou seja, o Ben Affleck, que faz parte da seção dos atores, pode votar para os indicados a Melhor Ator, Atriz, Ator Coadjuvante e Atriz Coadjuvante; Steven Spielberg vota no Melhor Diretor; e assim vai. Na prática, são os profissionais votando em seus próprios pares, por isso esta é considerada uma premiação de mérito. 

Além de tudo, todos possuem direito a voto na maior categoria: Melhor Filme. 

Todos os indicados ao Oscar 2020, em um almoço realizado uma semana antes da premiação (Foto: divulgação / AMPAS)

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Cada eleitor indica cinco indivíduos, filmes ou grupos nas categorias em que tem direito a voto, em ordem de preferência. A Academia instrui seus integrantes a “votarem com o coração”. 

Todos esses votos são contabilizados, em um processo auditado pela PricewaterhouseCoopers, de uma forma bastante peculiar – em um processo conhecido como Voto Único Transferível (VUT, ou SVT em inglês), que é um sistema de votação proporcional de voto preferencial.

A Academia adota
um sistema de
voto proporcional

Para cada categoria existe um “número mágico”, que é calculado a partir de todos as cédulas recebidas e do máximo possível de votos, mais um. Por exemplo: a AMPAS recebe 900 cédulas para Melhor Diretor, número que é dividido por seis (cinco votos em cada célula, mais um). O número mágico, nesse caso, é 150.

Aí é simples: um diretor precisa alcançar um mínimo de 150 votos para ser indicado. 

Todos as cédulas, então, são distribuídas de acordo com a primeira escolha de cada eleitor. Quem não recebeu votos como primeira escolha de nenhum dos integrantes da AMPAS é, automaticamente, eliminado. Por exemplo: Denis Villeneuve (de ‘Duna‘), em um caso hipotético, foi votado em peso pelos outros diretores e diretoras, mas nenhum deles colocou o canadense como primeira opção. Esquece, ele está fora. 

Mesmo com ‘Duna’ indicado em dez categorias, o diretor Denis Villeneuve foi esquecido pela Academia em 2022 (crédito: divulgação / Warner Bros.)

Pelo exato oposto, se um dos possíveis nomeados ultrapassou o número mágico de acordo com a primeira escolha dos eleitores, ele passa a ser oficialmente um indicado. Outro exemplo hipotético: Jane Campion (de ‘Ataque dos Cães‘) recebe 150 votos, alcançando o nosso número mágico, e está dentro.

Nesse momento entra uma nova particularidade desse sistema de votação: todos as cédulas que votaram no primeiro indicado são desconsideradas. Esqueça a segunda, terceira, quarta ou quinta opções na lista do eleitor. Elas não valem mais.

Os integrantes da AMPAS então pegam o candidato(a) com menos votos de primeira opção e ele também está eliminado, com essas cédulas sendo redistribuídas a partir da segunda opção de quem votou, sendo somados ao total anterior. 

Sim, a conta parece confusa, e realmente é. Digamos que Maggie Gyllenhaal (de ‘A Filha Perdida‘) foi a menos votada como primeira opção entre os diretores e foi eliminada. Dentre dos, digamos, 43 eleitores que votaram nela, 10 também escolheram o Paul Thomas Anderson como segunda opção. O diretor de ‘Licorice Pizza’ já tinha 140 votos de primeira escolha e, com esses dez, chegou ao nosso número mágico hipotético. Pronto, está indicado. 

Assim é feito para o terceiro, quarto ou quinto indicado, em um processo que, muitas vezes, pode causar injustiças.

Por outro lado, se um filme consegue reunir um grupo, mesmo que pequeno, de integrantes da Academia realmente empolgados com o título, e que eles coloquem-no sempre como primeira opção, a chance de ser indicado é muito grande. 

Voltando ao nosso exemplo hipotético: você não precisa de muitos votos, no geral, para ser indicado ao Oscar, mas sim 150 pessoas realmente empolgadas com o diretor para selecioná-lo como primeira ou, no máximo, segunda opção. 

Tudo isso, na visão da Academia, para que cada membro tenha a máxima influência dentro do processo eleitoral, não só escolhendo candidatos, mas também dando peso a eles. 

Com todos os votos contabilizados, os indicados são geralmente divulgados na segunda semana do ano. Assim acaba a primeira parte.

Votando nos vencedores

Após a divulgação dos indicados, os integrantes da Academia têm algum tempo para assistir aos filmes que, porventura, ainda não tenham visto. Neste ano foi de um pouco mais de mês.

A votação final então começa. Para escolherem os vencedores, todos  os membros da AMPAS têm direito de votar em todas as categorias. Um ator pode votar em figurino, um figurinista em atuação, o diretor em roteiro e assim vai. Sempre uma única escolha por categoria.

A votação
dos vencedores
vai até o dia
22 de março

A Academia desencoraja votos em categorias desconhecidas pelo eleitor – o que não quer dizer que, na prática, isso não aconteça. 

Esses votos são contabilizados de forma mais simples: o mais votado em cada categoria é quem vence, com as estatuetas sendo entregues em 10 de março.

Isso em todas as categorias, menos uma: a principal.

Escolhendo o Melhor Filme

O método para determinar o Melhor Filme do Oscar é um pouco diferente desde 2009, quando foi adotado um “modelo preferencial”. Desde então, a categoria poderia ser entre cinco ou dez indicados, dependendo daqueles que alcançarem o número mágico. Para este ano, a AMPAS fixou: serão sempre dez longas-metragens.

Método preferencial pode ter prejudicado ‘Ataque dos Câes’, que perdeu para CODA em 2022 (Foto: divulgação / Netflix)

Quando chega a hora de escolher o vencedor, os critérios são parecidos com aqueles da votação para determinar os indicados: cada membro define a sua ordem de preferência entre todos os dez longas nomeados, em um ranking de melhor para o pior.

No momento da contagem, todas as cédulas são organizadas a partir do primeiro voto. Se um filme foi escolhido por 50% dos votantes como o número um da lista, como o melhor filme, pronto, temos um vencedor. 

Se isso não acontecer é aí que as coisas ficam um pouco mais turbulentas. O filme com menos votos como número um é excluído da disputa, com essas cédulas sendo redistribuídas a partir da segunda escolha.

Se nessa segunda rodada um dos nove filmes soma 50% das cédulas elegíveis, ele é o Melhor Filme. Se ainda assim isso não acontecer, novamente o filme com menos votos é eliminado e as cédulas redistribuídas a partir da terceira opção para os oito títulos restantes.

Isso até algum longa chegar em 50% dos votos – um número que, considerando os membros da Academia em 2024 e imaginando que 100% deles enviaram suas cédulas, seria de 5250 votos. 

O elenco, equipe e produtores de 'Green Book' recebendo o Oscar de Melhor Filme em 2019 (Foto: divulgação / AMPAS)
O elenco, equipe e produtores de ‘Green Book’ recebendo o Oscar de Melhor Filme em 2019 (Foto: divulgação / AMPAS)

Os críticos desse modelo apontam que, na prática, a AMPAS não define o melhor filme na visão de seus integrantes, mas aquele que mais agradou a maioria. Imagina-se que isso tenha acontecido com ‘Green Book: O Guia’ em 2019: não foi filme mais votado pela maioria como a primeira opção, mas, dentro de um eleitorado dividido, foi escolhido como o segundo, terceiro ou quarto melhor por muitos eleitores. 

“É contraintuitivo”, disse Brian Cullinan, da PricewaterhouseCoopers, em entrevista ao Los Angeles Times em 2015. “Muitas vezes, um filme listado como terceira, quarta ou até quinta opção em muitas cédulas pode acabar ganhando. É difícil para as pessoas entenderem”. 

Por outro lado, se um membro da Academia escolhe só um título – porque, na visão dele, só um merece ser o Melhor Filme do ano -, ele pode estar jogando o voto fora.

No final das contas, o Oscar não é sobre quem é melhor ou pior, é sobre quem tem mais influência – e, principalmente, sobre quem consegue agradar a maioria, mesmo que não seja exatamente como a primeira opção em seus corações. 

Artigos da série:

– O que é a Academia e quem vota no Oscar?
– Como começou o Oscar?
Qual é o processo de qualificação de um filme para o Oscar?
Como é por dentro do Dolby Theatre, a casa do Oscar?
As verdades (nada) secretas do Oscar

Matéria originalmente publicada em 30 de janeiro de 2020 e atualizada em 12 de janeiro de 2024.

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