Representatividade trans no cinema “é muito importante”, diz ator de ‘Cowboys’

Os filmes de faroeste ganham uma nova cara com ‘Cowboys’, segundo longa-metragem da cineasta Anna Kerrigan. Dando uma modernizada em um gênero que é bem enraizado em Hollywood, a diretora traz uma discussão familiar sobre saúde-mental e aceitação ao mostrar a história de um menino transgênero incompreendido pela mãe.

Aclamado em festivais como o L.A. Outfest e Tribeca, a produção está disponível a partir desta semana, para compra ou aluguel, nas plataformas de streaming brasileiras. Por isso, entrevistamos a diretora e o protagonista, interpretado por Sasha Knight, que encara seu primeiro papel e surpreende ao entregar uma atuação sensível.

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O elenco do filme conta também com as ótimas performances de Steve Zahn (visto recentemente na série da HBO ‘The White Lotus’), Jillian Bell (‘Fada Madrinha‘) e Ann Dowd (‘The Handmaid’s Tale’). ‘Cowboys’ foi premiado no Festival de Tribeca 2020 em duas categorias: Melhor Ator (Steve Zahn) e Melhor Roteiro (Anna Kerrigan).

Ao trazer uma narrativa LGBTQIA+ a um ambiente rural, que costuma não lidar bem com essas questões, Kerrigan dá uma modernizada nos westerns escalando um ator transgênero, o que dá ainda mais força à trama e à diversidade, que ainda estão em falta no cinema.

“Eu cresci em Los Angeles, nos Estados Unidos, mas passava muito tempo em Montana quando era criança e amava. Eu sabia que queria escrever alguma coisa se passasse lá. Quando eu comecei o roteiro sabia que seria sobre a fuga de um pai e seu filho, conforme fui maturando a ideia, decidi que eles seriam fora da lei modernos. O pai lidando com problemas de saúde mental e seu filho transgênero crescendo em uma zona rural. Eu queria uma história simples norte-americana com um retórica de caubóis”, conta a diretora Anna Kerrigan.

Como citamos acima, ‘Cowboys’ conta a história de Joe (Sasha Knight), um garoto transgênero, que tem dificuldades para se relacionar com a mãe, Sally (Jillian Bell), que se recusa a aceitar a identidade do filho. Apenas o pai, Troy (Steve Zahn), que é um homem instável, encoraja Joe em sua jornada. Com a separação dos pais, Joe se recusa continuar vivendo com a mãe e com o pai em direção ao Canadá, em uma jornada que reforça os laços familiares da dupla.

‘Butch Cassidy’ foi uma das inspirações de ‘Cowboys’

Para mergulhar no ambiente de faroeste, ela assistiu a filmes das décadas de 1960 e 1970, mas usou também outras referências para compor o visual.

“Em termos de estética discutimos muito sobre ‘Cada um Vive como Quer’ (1970) e ‘Butch Cassidy’ (1969), esse tipo de produção. Outras referências foram ‘Conte Comigo’ (2000) e por mais que eu tenha o visual dos Irmãos Coen, eles também foram uma inspiração”, completa a diretora.

Sasha Knight é uma versão
jovem Paul Newman,
na aparência e no talento

Sasha Knight, de 11 anos, tem um ar de Paul Newman, que o deixa ainda mais carismático. Ao Filmelier, ele comentou que sua mãe diz o tempo todo que ele é muito parecido com o ator, que inclusive está em ‘Butch Cassidy’. O jovem disse que se divertiu muito nas filmagens e que entende o poder de ‘Cowboys’. Mesmo via vídeo-chamada, Knight cresce na telinha e encanta tanto quanto na produção.

“Foi tão divertido e claro que, pessoalmente para mim, eu acho que é muito importante contar e ouvir essas histórias – e não apenas para as pessoas LGBTQIA+, mas para todos. É relevante essas narrativas continuarem sendo contadas e isso é incrível, fizemos um trabalho maravilhoso”, disse ele.

Como um ator trans, King embarcou em uma trama que tem similaridades com sua vida: “Eu meio que naveguei na minha própria experiência, morei em uma pequena cidade do Colorado por três anos e essa experiência ajudou muito a entrar no personagem. Eu consegui projetar esse ambiente rural, que não costuma aceitar pessoas LGBTQIA+, já que eu tenho essa experiência pessoal. ”

A produção marca a estreia dele no cinema e diretora Anna Kerrigan conta sobre como foi trabalhar com o ator: “Era muito importante achar uma criança que fosse transgênero ou não-binária, sabíamos que isso seria difícil. Primeiro escolhemos o elenco adulto, os pais, e para achar a criança fomos atrás de grupos de cinema e acampamentos de verão com atores trans. Acompanhei toda a seleção de perto com a equipe de elenco e assim que vi a audição em vídeo de Sasha eu pensei: ‘claramente, achamos a criança’”.

“Era muito importante achar
uma criança que fosse
transgênero ou não-binária”

“Ele nasceu para este personagem e para ser o filho de Steve Zahn e Jillian Bell. Então passei a trabalhar com Sasha ao vivo e foi incrível, ele tinha dez anos quando o conheci e rapidamente entendeu seu papel. Ele sempre esteve muito presente emocionalmente e entregou uma atuação incrível. Senti que podíamos discutir sobre o filme de uma maneira mais holística e eu acredito que isso seja raro para uma pessoa tão jovem”, completa.

Kerrigan fala também de Steve Zahn, que está tão incrível quanto Sasha no filme. Uma das melhores atuações na carreira do ator, que foge do que estamos acostumados a assistir com ele.

“Assim que começamos a pensar no Steve, que, claro, é bem conhecido por papéis de comédia e é ótimo nisso, mas ele também tem personagens sérios e bagagem de ator de teatro. Eu o vi em ‘O Sobrevivente’, com Christian Bale, há alguns anos e fiquei impressionada com a atuação dele. Isso ficou na minha mente. Eu acho que é muito mais difícil ser engraçado do que apenas dramático na maior parte das vezes. Frequentemente olho atores de comédia e penso nisso, quais nuances da personalidade deles estão sendo explorados ali, naquele papel. ”

Não é só a diretora que é fã de Zahn. Sasha Knight adorou trabalhar com o parceiro de cena: “Ele é incrível, o melhor, ele é tão legal. Eu aprendi tanto com Steve e com todo mundo durante as filmagens, foi uma experiência incrível”.

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