Crítica: ‘A Sindicalista’ choca com história sobre machismo e injustiça Crítica: ‘A Sindicalista’ choca com história sobre machismo e injustiça

Crítica: ‘A Sindicalista’ choca com história sobre machismo e injustiça

Longa-metragem, que está em cartaz nos cinemas brasileiros, traz Isabelle Huppert em um papel forte, difícil e emocionante

Matheus Mans   |  
23 de agosto de 2023 15:01

Maureen Kearney (Isabelle Huppert) é uma mulher decidida. É ela que trabalha junto aos executivos de uma grande empresa de energia elétrica nuclear francesa para defender os interesses dos trabalhadores, representando o sindicato e impedindo que esses profissionais sejam constantemente descartados. Até que as coisas saem do controle e o filme A Sindicalista, filme que passou pelos cinemas brasileiros e que estreia no streaming nesta quarta-feira, 23 de agosto.

Afinal, conforme aumenta a pressão em cima de Maureen e ela começa a bater de frente com os novos e inclementes executivos da empresa, as coisas vão ficando cada vez mais perigosas. Ameaças por telefone, carros seguindo na rua e por aí vai. Até que um dia, sozinha em casa, Maureen é atacada: uma pessoa encapuzada a prende em uma cadeira, marca uma letra em sua barriga com uma faca e a estupra com o cabo dessa mesma arma.

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É um acontecimento chocante, absurdo, mas que o diretor Jean-Paul Salomé (de A Dona do Barato) nunca ultrapassa um limite. Deixa a história chocar por si só. E isso funciona: afinal, apesar desse acontecimento surgir na narrativa ali pela metade, A Sindicalista vai aumentando de tom por conta própria. Maureen, vítima de um sistema inclemente, logo se torna suspeita de ter armado essa situação. A polícia, rapidamente, fica contra a francesa.

Cena do filme A Sindicalista
Protagonista de ‘A Sindicalista’, Huppert rouba a cena (Crédito: Synapse)

A Sindicalista: um filme que choca por sua história

A partir daí, é um show de horrores. O longa-metragem, que tem um tom quase documental em muitos trechos e que preza por uma linguagem mais crua, visceral, vai colocando essa mulher decidida, geralmente muito firme, em um redemoinho de situações que a consomem. Ao contrário de um filme como Detroit em Rebelião, para falarmos de uma outra história marcada pela injustiça, o diretor se tira de cena. A câmera quase nunca é sentida.

A Sindicalista conta com uma filmagem delicada, que quase desaparece, para que o espectador preste atenção única e exclusivamente no que está sendo contado e no que está acontecendo com a personagem. Precisamos sentir a história, não admirar a forma que nos é mostrada. Com isso, as coisas não apenas ficam mais frias e cruas, mas também abrem espaço para que as emoções fiquem à flor da pele – nossas e dos personagens.

Há um perigo nisso que é, talvez, distanciar demais a história e os personagens do público. Tornar o filme asséptico, apático até. Mas isso é evitado aqui não apenas pelo bom trabalho de Salomé, mas também do elenco. Grégory Gadebois (Está Tudo Bem, O Tesouro do Pequeno Nicolau), sabe transitar entre a apatia e a intensidade, aqui como o marido de Maureen. Pierre Deladonchamps (Um Estranho no Lago), o investigador, dá raiva.

Mudança de comando da empresa é o início do pesadelo para Maureen (Crédito: Synapse)

Mas é Huppert que rouba a cena. Ela, que neste ano já foi vista em Eo, Belas Promessas e Uma Vida sem Ele, sabe como modular as emoções de Maureen: ela geralmente tenta passar uma frieza quase exagerada como essa personagem que parece carregar todo o peso do mundo, mas, quando precisa, explode. Uma cena mais no final do de A Sindicalista, em um tribunal, é de uma força impressionante. Huppert em seu melhor.

A decisão do cineasta em não transformar isso tudo em um thriller batido — que emularia o que há de menos criativo no cinema hoje — também ajuda o longa-metragem a mostrar sua força. É um drama, que tem si seus aspectos de suspense e filme de investigação, mas sabe quais são os seus limites para não embaçar a mensagem. Se seguisse por esse caminho, clamaríamos por uma solução barata do mistério, não por justiça.

Assim, A Sindicalista é um ótimo filme, que surpreende pela forma que trata sua história potente sem nunca exagerar na tentativa de emocionar. Deixa os fatos falarem por si só, mostrando os bastidores de um mundo machista que parece ter gosto por fazer as mulheres sofrerem. Ah, e sempre bom lembrar: mais do que uma ficção, a história de Maureen é verdadeira. Realmente aconteceu. E, com isso, o filme se torna ainda mais implacável.

A Sindicalista está disponível para compra e aluguel em plataformas. Clique aqui para saber mais.

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