Crítica de ‘Fale Comigo’: terror de traumas, depressão e vícios Crítica de ‘Fale Comigo’: terror de traumas, depressão e vícios

Crítica de ‘Fale Comigo’: terror de traumas, depressão e vícios

‘Fale Comigo’ aborda temas como vícios, traumas e solidão, mas também é um filme de terror envolvente

Lalo Ortega   |  
16 de agosto de 2023 08:32

O social e o psicológico têm acompanhado o cinema de terror desde seus primórdios expressionistas. No entanto, essa faceta raramente é bem equilibrada com o entretenimento popular, a outra faceta do gênero buscada pelo público. Fale Comigo é um desses grandes casos de sucesso que consegue o complicado equilíbrio entre ambos os elementos.

Laureado como um dos melhores filmes de terror e em geral nos últimos anos (discutível, embora não inteiramente sem mérito), o longa-metragem de estreia dos irmãos Danny e Michael Philippou (conhecidos pelo canal do YouTube Racka Racka), uma produção independente australiana apoiada pelo selo A24, é elegante e eficiente em sua direção.

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Com seus modestos recursos econômicos e apesar de contar com certa previsibilidade, consegue ser um filme de terror que funciona como entretenimento puro, mas cujo subtexto também aborda temas relevantes associados à saúde mental.

(Não é) apenas mais um filme de possessões demoníacas

Uma rápida olhada nos trailers e outros materiais promocionais de Fale Comigo dá um bom resumo superficial da trama: um grupo de adolescentes decide brincar com uma mão embalsamada que, misteriosamente, lhes permite ser possuído por demônios e interagir com eles. Os jovens se divertem gravando tudo para o TikTok e, para evitar riscos, estabelecem um limite de tempo para as possessões.

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Adolescentes brincam com objetos sobrenaturais e, obviamente, tudo dá errado (Crédito: Diamond Films)

A protagonista é Mia (Sophie Wilde), uma garota cuja mãe faleceu há algum tempo e que não conseguiu superar a perda. Sua relação com o pai se deteriorou, ela não tem facilidade em fazer amigos e só pode contar com sua amiga Jade (Alexandra Jensen) e com o irmão dela, Riley (Joe Bird), para socializar.

Após o primeiro contato com a estranha mão, Mia não demora a ficar obcecada por ela devido à emoção e sensação de êxtase. Isso, apesar de seu primeiro contato ter parecido trazer uma ameaça para Riley. Previsivelmente, as coisas não demoram a sair do controle, lançando Mia em uma espiral de culpa após uma sessão em que aparentemente encontra o espírito de sua mãe.

Fale Comigo é uma arrepiante abordagem da saúde mental

Neste ponto, o filme mal esconde suas metáforas sobre solidão, luto, trauma, culpa e vícios. Mia, pertencente a uma geração cujas interações sociais às vezes se reduzem a pais distantes e mensagens em redes sociais, encontra-se emocionalmente isolada, deprimida e incapaz de se conectar. Ela encontra refúgio, como costuma acontecer, em um vício que apenas agrava seus problemas.

No entanto, com Fale Comigo, os diretores conseguem uma abordagem do tema que é ao mesmo tempo perturbadora e humana. O sofrimento da protagonista – brilhantemente representado por Wilde – nunca é trivializado. É fácil não apenas simpatizar com ela, mas também nos aproximarmos da experiência solitária da depressão.

A atuação de Sophie Wilde em Fale Comigo nos aproxima da experiência de depressão, solidão e vício (Crédito: Diamond Films)

Nesse sentido, esse filme consegue ser uma representação equilibrada, sem cair na exploração, das doenças mentais. Mais emocionante e comercialmente apropriado do que Relic, por exemplo, mas muito menos grosseiro do que o fracassado Sorria.

Mas por causa disso, e apesar de os irmãos Philippou não insistirem na metáfora, é inevitável sentir o desfecho um tanto moralista se se der essa leitura ao filme. Isso não tira o mérito de uma direção eficaz que dosa a tensão narrativa sem cair nos sustos baratos.

Dito isso, Fale Comigo também cumpre como uma proposta de terror no plano do entretenimento superficial. E isso é sempre bem-vindo, independentemente de um filme aspirar àquela condição abstrata de “terror elevado” (seja lá o que isso signifique).

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