Crítica: ‘Loucas em Apuros’ diverte com visão feminina do besteirol Crítica: ‘Loucas em Apuros’ diverte com visão feminina do besteirol

Crítica: ‘Loucas em Apuros’ diverte com visão feminina do besteirol

Filme assume a difícil (e quase impossível) tarefa de equilibrar a comédia besteirol com um profundo drama familiar fincado no coração da China

Matheus Mans   |  
3 de agosto de 2023 10:00

As chamadas “comédias de besteirol” eram uma frequente nos cinemas nos anos 2000. Sucessos como American Pie e Superbad impulsionaram o subgênero do humor, trazendo uma tonelada de histórias sobre rapazes entrando numa fria — geralmente em busca de garotas, drogas, bebidas ou tudo misturado. Foi apenas nos anos 2010, principalmente na segunda metade, que a situação começou a mudar, com o esgotamento da fórmula. A saída? Deixar os rapazes de lado e começar, aos poucos, a colocar as mulheres nessas histórias. Loucas em Apuros é resultado desse movimento.

Estreia desta quinta-feira, 3 de agosto, o longa-metragem tem uma mistura curiosa, que não se via antes de filmes como Perfeita é a Mãe!, Missão Madrinha de Casamento e Viagem das Garotas desbravarem o território. É aquele humor mais sujo, muitas vezes de conteúdo sexual, mas que traz uma visão feminina sobre identidade e até memória.

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Na trama, Audrey (Ashley Park) é obrigada a ir para a China para negociar com um empresário de lá. Para isso, ela conta com a companhia de Lolo (Sherry Cola) e Olho de Peixe Morto (Sabrina Wu), enquanto uma antiga amiga, Kat (Stephanie Hsu), já está no país asiático esperando para ajudar por lá. As coisas ganham outra escala, porém, quando Audrey se vê obrigada a encarar suas origens e, com isso, entender melhor quem ela é e, é claro, de onde veio.

Uma mistura inesperada

É, curiosamente, uma estranha mistura de A Despedida com American Pie. Afinal, de um lado, há toda essa história sobre asiático-americanas em busca de identidade e de suas raízes, compreendendo melhor os laços entre essas duas culturas. Por outro, a direção de Adele Lim (roteirista de Podres de Ricos e Raya e o Último Dragão) não pensa duas vezes antes de trazer o besteirol, com várias piadas sexuais e que colocam essas personagens como pessoas, não como estereótipos que flanam pela história — algo que acontecia com frequência no besteirol típico dos anos 2000.

Uma cena divertida, mas que perde toda a verossimilhança de Loucas em Apuros (Paris Filmes)

Nessa mistura incomum de histórias, estilos e narrativas, Loucas em Apuros inegavelmente agrada. Há toda uma comédia que faz rir (na maioria das vezes, aquele riso genuíno, largo) enquanto também traz uma carga interessante de sensibilidade. Mérito não só de Lim como diretora, mas também como roteirista ao lado de Cherry Chevapravatdumrong (Uma Família da Pesada) e Teresa Hsiao (American Dad!). União incomum e muito funcional.

Com isso, aqueles que buscam uma comédia mais pesada e ousada, que não tem medo de colocar um ângulo de dentro de uma vagina, por exemplo, vão se surpreender encontrando uma história sensível emoldurando isso tudo. Já aqueles que buscam uma história de redenção e origem também vão encontrar espaço para dividir a lágrima com o riso. Difícil lembrar de algum besteirol de olhar masculino que tenha uma união tão interessante, criativa e original.

Loucas em Apuros é realmente bom?

No entanto, pode-se dizer que é exagerada a reação de parte da crítica especializada, que colocou Loucas em Apuros como um dos melhores filmes do ano — o longa-metragem está com 91% de aprovação no agregador Rotten Tomatoes. Sim, é bom. Mas tanto assim? Primeiramente, o filme se atrapalha nesse equilíbrio principalmente em relação ao elenco: nem todas as quatro protagonistas conseguem passear entre os gêneros de história aqui vistos.

Cena do filme Loucas em Apuros
Elenco está bastante instável entre as diferentes necessidades da história (Paris Filmes)

Park (Emily em Paris), por exemplo, se sai muito bem nos dois estilos, conseguindo ir da comédia exagerada para o drama em um piscar de olhos — é muito boa uma cena em que ela descobre coisas sobre seu passado, carregada de emoção, assim como a ótima cena dela descobrindo como se comunicar na China com o tal empresário. Já Cola e Wu se equilibram, entre o absurdo e a quietude. Enquanto isso, Hsu (Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo) não se sai tão bem assim: sua personagem exige demais da indicada ao Oscar, que não convence nem no drama ou na comédia.

Fora que algumas piadas acabam perdendo um pouco a direção da história. Afinal, quando ela se propõe a misturar o drama familiar com a comédia besteirol, Loucas em Apuros assume um risco complicado: se torna exageradamente realista, com um drama pessoal compartilhado por milhares (milhões?) de pessoas. Quando passa o limite do realismo com a cena da vagina, por exemplo, o filme acaba ficando em uma corda bamba impossível de ser equilibrada.

Loucas em Apuros, assim, acaba saindo do prumo no seu terceiro ato, quando a mistura de drama e besteirol não se sai tão bem. Fica a lição, porém, que o cinema pode e deve ousar, com histórias que saem do lugar-comum. Pode não ser perfeito, não tem problema. O importante, assim como o filme, é tirar o público de um conforto cada vez maior.

Loucas em Apuros chega aos cinemas nesta quinta-feira, 3 de agosto. Clique aqui para comprar seus ingressos.

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