Diana Rigg deixa um legado muito maior que ‘Game of Thrones’ Diana Rigg deixa um legado muito maior que ‘Game of Thrones’

Diana Rigg deixa um legado muito maior que ‘Game of Thrones’

Após influenciar uma geração com seu estilo na TV dos anos 60, a atriz foi uma das Bond girls mais marcantes do cinema e lutou por equiparação salarial entre homens e mulheres

10 de setembro de 2020 12:59
- Atualizado em 16 de setembro de 2020 11:47

Poucas coisas representam a cultura (principalmente a britânica) dos anos 1960 quanto a série ‘Os Vingadores’. Se você não sabe ou não conhece, muito antes do filme dos heróis da Marvel existiu um agente secreto e sua fiel companheira que, utilizando essa mesma alcunha, defendiam o país de Sua Majestade com muito status e ainda mais chá.

Patrick Mcnee já estrelava a produção da BBC, com o seu gentleman inglês chamado John Steed, quando os produtores perceberam que precisavam de uma nova mulher fazendo contraponto ao personagem – e que, ao mesmo tempo, funcionasse como um sex symbol que representasse aqueles tempos. Afinal, o ano era 1965 e a sociedade estava efervescendo de transformações.

Chegaram em uma personagem: Emma Peel – uma corruptela de “man appeal”, ou “apelo masculino”. Para o papel, escalaram a jovem inglesa Diana Rigg, então com 27 anos. Com papéis na Royal Shakespeare Company, Diana tinha a sua casa no teatro – onde já se destacava e que nunca abandonaria. Uma legítima cria da dramaturgia britânica.

Diana Rigg em ação na série ‘Os Vingadores’: ícone da cultura inglesa dos anos 1960 (Foto: divulgação / ITV / Warner Bros. Television)

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O sucesso foi enorme. ‘Os Vingadores’, a partir de então gravado em película e exibido também nos EUA, se transformou em um sucesso ainda maior. A vida de Diana Rigg mudou completamente da noite para o dia – e ela mesma virou um símbolo sexual. Suas roupas, corte de cabelo e trejeitos influenciaram toda uma geração.

Salários iguais

O sucesso não veio sem um preço. A falta de privacidade e justamente a imagem de sex symbol passaram a incomodar a atriz. Certo dia, ela descobriu que recebia um salário menor até que o do cinegrafista.

“Eu não tinha nada contra o cameraman, mas eu reclamei e foi uma confusão”, disse a atriz em 2018, em entrevista para a AFP durante o Festival de Cannes daquele ano. “Eu fui chamada de diversas coisas e ninguém me apoiou”. Aquela foi a primeira dela contra a “autoridade masculina”, completou a atriz.

“Eu fiz barulho e exigi mais… Mas não havia uma irmandade naquela época para ajudar. Era cada uma por si. Acho que é ultrajante que as atrizes ainda sejam mal pagas. Se elas são da mesma dimensão que a do homem com quem estão atuando, deveriam receber o mesmo”, disse.

O ritmo de gravações para a TV também já era extenuante naquele tempo e, bom, fazer sempre o mesmo personagem não era o que a motivava. Juntando tudo, a atriz resolveu deixar ‘Os Vingadores’ no auge do sucesso.

Entra o cinema

Como passo seguinte na carreira, Rigg aceitou um desafio ainda maior: foi ser a Bond girl de ‘007 a Serviço Secreto de Sua Majestade‘. O filme é uma quebra de paradigma da franquia, pois trazia George Lazenby substituindo Sean Connery como James Bond e tinha Rigg vivendo uma co-protagonista diferente das anteriores.

Diana Rigg com o James Bond de George Lazemby (Foto: divulgação / MGM)

Antes, dentro do contexto de uma outra época, a produtora EON já tinha colocado Bond girls com destaque na série: Pussy Galore, de ‘007 Conta Goldfinger’ (outra ex-atriz de ‘Os Vingadores’, Honor Blackman) seguia nessa linha, por exemplo. Porém, a condessa Teresa di Vicenzo foi a primeira mulher a não ser usada apenas como interesse fugaz de Bond. Além de ter um papel importante dentro da trama em si, ela consegue o que nenhuma outra Bond girl havia conseguido antes: o coração sincero do agente secreto.

Tanto é que a morte da personagem, logo após o casamento com o amado e pelas mãos do vilão Blofeld, é até hoje um dos acontecimentos mais marcantes da cinessérie.

Diana Rigg antes de ‘Game of Thrones’

A partir de então, Diana Rigg emplacou papéis em alguns filmes – como ‘Júlio César’ (1970) e ‘A Little Night Music’ (1977). Porém, o destaque e a aclamação da crítica vieram novamente apenas em 1981, no longa ‘Assassinato num Dia de Sol’, baseado na obra de Agatha Christie e com Maggie Smith no elenco. Depois, ela interpretou a rainha má da versão de ‘Branca de Neve’ pela Cannon Films, famosa por seus longas de baixo orçamento.

Na TV, novamente teve destaque nas minisséries britânicas ‘Rebecca’ e ‘Mother Love’, ambas da BBC. Pelo mesmo canal, foi homenageada com uma aparição em ‘Doctor Who’, em 2013. No mesmo ano, Diana Rigg foi escalada como Olenna Tyrell, personagem regular de ‘Game of Thrones’ – e ganhando os corações de mais um fandom.

Diana Rigg em Game of Thrones
Diana Rigg em ‘Game of Thrones’ (Foto: divulgação / HBO)

Com tudo isso, Diana Rigg venceu venceu dois BAFTAs de TV por ‘Mother Love’, um Tony por ‘Medea’ e um Emmy por ‘Rebecca’.

“Os gregos achavam que as vidas deles era predeterminada pelos deuses”, disse a atriz sobre Medea, a protagonista da peça interpretada por ela. “Ela disse ‘foda-se isso! Eu não quero isso. Eu vou viver minha vida do jeito que eu quero'”. Como podemos ver, realidade e ficção tinham as suas similaridades.

Diana Rigg morreu nesta quinta, 10 de setembro, aos 82 anos, após uma luta contra o câncer. Por aqui, ela deixa uma contribuição para além das telas e dos palcos. Foi uma protagonista feminina em uma época na qual poucas tinham destaque na televisão, se transformando em um modelo para muitas mulheres (incluindo até a ex-primeira ministra Theresa May). Não se curvou às diferenças salariais e ao uso de sua imagem de uma forma que não concordava.

Este é um legado que continuará vivo enquanto lembrarmos de seus trabalhos na TV, no teatro e no cinema.

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