“A câmera é um instrumento de precisão para entendermos o mundo”, diz diretor de ‘A Mãe’ “A câmera é um instrumento de precisão para entendermos o mundo”, diz diretor de ‘A Mãe’

“A câmera é um instrumento de precisão para entendermos o mundo”, diz diretor de ‘A Mãe’

Cristiano Burlan fala sobre os desafios de contar a história de uma mãe em busca do filho desaparecido

Matheus Mans   |  
8 de novembro de 2022 20:35

Quem mergulhar no trabalho do cineasta Cristiano Burlan, vai encontrar algumas similaridades. Diretor de filmes como ‘Elegia de um Crime’, ‘Antes do Fim’ e ‘Mataram Meu Irmão’, ele sabe como poucos falar sobre solidão, violência, ausências e medos com a cidade ao seu redor. O espaço esmaga, asfixia — ainda que às vezes acalente. E não poderia ser diferente com seu novo filme de ficção, ‘A Mãe‘, que chega aos cinemas brasileiros já nesta quinta-feira, 10.

Aqui, Burlan conta a história de Maria (Marcélia Cartaxo), uma mulher nordestina e batalhadora que vive sendo camelô em São Paulo. Sua vida se transforma, porém, quando o filho desaparece depois de sair com um amigo do bairro, na periferia da cidade. A partir daí, ela começa uma busca incessante não só para encontrar o garoto, mas para descobrir o que aconteceu com ele. É uma luta contra o nada, contra o sistema, contra o vazio. Afinal, o que de fato aconteceu?

Marcélia Cartaxo é a protagonista de ‘A Mãe’ (Crédito: Divulgação/CUP Filmes)

“Parte de uma história pessoal. Tenho a Trilogia do Luto e um dos filmes, o ‘Mataram Meu Irmão’, fala sobre a violência de Estado. Fala sobre como uma quadrilha de policiais mata meu irmão com sete tiros pelas costas em 2001”, explica Cristiano, ao Filmelier. “Também vem de um acontecido em São Paulo, por volta de 2006, depois dos ataques do PCC, quando o Estado reage com muita violência nas periferias da cidade, matando principalmente pobres e periféricos”.

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Ou seja: no âmago de Burlan está essa violência oficial, do sistema. Está o terrorismo de Estado. A dor o moldou e, hoje, ele a usa para fazer cinema. “É natural. A câmera é um instrumento de precisão para entendermos o mundo em que vivemos. Gostaria de fazer filmes sobre pessoas ricas de frente pro mar. Mas não é minha história”, diz. “Em algum momento vai chegar esse lugar. Agora, porém, sinto necessidade dessas histórias, que extrapolam o cinema em si”.

Marcélia Cartaxo, a força-motriz de ‘A Mãe’

Cartaxo, como sempre acontece em seus trabalhos no cinema, é a alma de ‘A Mãe’. Sua atuação passa por uma dor profunda, repleta de momentos sensíveis e emocionais. Vê-la em tela é ver uma atriz poderosa, que domina sua arte como poucas. Não só poderia, como deveria ser mais celebrada por conta de sua função. E ‘A Mãe’ é exemplo claro disso: a atriz carrega o filme praticamente solitária em suas cenas, perambulando em busca do filho desaparecido.

“O filme foi feito pensando na Marcélia. Se ela não topasse participar, não teria o filme”, comenta Cristiano. “Ela é muito generosa. É um filme difícil, de rua, filmado em locações reais. Exige empenho físico. Tem toda a questão da violência, de precisar enterrar o filho. Isso não é natural. Mas ela tem prazer em trabalhar, tem prazer pelo seu ofício”.

‘A Mãe’ estreia esta quinta nos cinemas. Se quiser saber mais sobre o filme, ver o trailer ou saber onde vê-lo, clique aqui.

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