Festival de Berlim acaba com distinção de gênero em prêmios de atuação Festival de Berlim acaba com distinção de gênero em prêmios de atuação

Festival de Berlim acaba com distinção de gênero em prêmios de atuação

Com a mudança, Berlim se torna o primeiro dentre os grandes festivais, como Cannes e Veneza, a adotar essa política

25 de agosto de 2020 12:47

O Festival Internacional de Cinema de Berlim anunciou que não diferenciará mais gênero nos prêmios de atuação. Esse é um grande avanço na indústria cinematográfica. A partir de 2021, não terão mais as categorias de melhor atriz e melhor ator.

Segundo o Indiewire, com a mudança, os artistas agora vão concorrer a “melhor performance principal” e “melhor performance coadjuvante”. Foram extintas as divisões: Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Atriz Coadjuvante. A premiação mantinha seu formato desde 1956.

“Acreditamos que não separar os prêmios na área de atuação por gênero é um sinal para uma consciência mais sensível ao gênero na indústria cinematográfica”, afirmaram os diretores da Berlinale, Mariette Rissenbeek e Carlo Chatrian, em comunicado à imprensa. Berlim se torna o primeiro dentre os grandes festivais a adotar essa mudança.

O que dizem os profissionais de audiovisual do Brasil?

A notícia foi bem recebida por boa parte dos profissionais de cinema do nosso país, que expressaram sua opinião sobre a mudança no Festival de Berlim em uma matéria do jornal O Globo. Laís Bodanzky, diretora de cinema, conhecida por ‘Como Nossos Pais’, e presidente da Spcine, foi a favor desse novo formato.

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“Acho perfeito. Até pensei: por que não foi sempre assim? Quando a gente vê um quadro numa exposição, não interessa o gênero do autor, mas a qualidade. Muitas vezes, acontece de ter mais de uma excelente atuação de mulheres e uma única vaga: a outra é dos homens, que não, necessariamente, têm tantos trabalhos em destaque. Varia muito de ano para ano. O que vale mesmo é a categoria, a atuação principal e a atuação coadjuvante. Acho que, recentemente, na história da Humanidade, estamos entendendo que as questões de gênero e de raça não devem influenciar a nossa observação do trabalho do outro, principalmente, as expressões artísticas. Acredito que, em breve, outros festivais também vão adotar essa forma de reconhecimento”.

‘Como Nossos Pais’, filme de Laís Bodanzky, teve a primeira exibição no Festival Internacional de Cinema de Berlim em 2017 (Foto: Reprodução/Globo Filmes)

“Não acho o número de prêmios uma questão. A decisão entra numa lógica que as outras categorias já tinham, não há melhor diretor e melhor diretora. Além do mais, acaba com o fetiche em relação aos atores, que, muitas vezes são tratados como um objeto a ser consumido, desejado. Olha-se mais para a questão da mulher enquanto corpo e beleza do que, de fato, atuação. Dessa forma, se avaliará qual atuação é mais comovente, independentemente de ser homem ou mulher. Acho educativo para o público, que vai observar os filmes sem essa separação de homem ou mulher, mas qual avaliando qual trabalho merece esse reconhecimento”, completou.

Já Fernando Meirelles, diretor de ‘Cidade de Deus’, não achou que é uma mudança positiva para os artistas. “Entendo a motivação para a mudança, mas é má notícia para atores e atrizes. Agora a chance de ganhar o prêmio ficou 50% menor”, disse o cineasta.

O produtor de ‘O Farol‘, Rodrigo Teixeira, achou “interessantíssima a decisão”, mas acredita que o Festival enfrentará críticas. “Acredito que é um belo teste e que, no início, a ideia vai sofrer preconceito, mas sou a favor. É um salto na direção da igualdade. Às vezes, há 20 mulheres fazendo um trabalho melhor do que três homens e acaba tendo uma relevância maior quando unifica. Que vençam os melhores”, disse ele.

Cena de ‘O Farol’, filme de Robert Eggers, produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira (Foto: Reprodução/Universal Pictures)

Em 2021, o Festival de Berlim será presencial

No mesmo comunicado, a direção da Berlinale anunciou que a edição 2021 está sendo planejada para acontecer de forma presencial e com público. Os diretores do evento não deram detalhes de como isso vai acontecer, apenas afirmaram que “festivais com público fisicamente presente estão ocorrendo lentamente de novo em todo o mundo”.

“Os festivais e os mercados são locais de encontro e comunicação. Isso se aplica tanto ao público quanto à indústria. Vemos uma característica importante e única dos festivais em sua relação dinâmica com o público. Em tempos de pandemia de coronavírus, fica ainda mais claro que ainda precisamos de espaços de experiência analógica no âmbito cultural”, declararam Mariette Rissenbeek e Carlo Chatrian.

A edição de 2021 do Festival acontecerá entre os dias 11 e 21 de fevereiro, já com as novas categorias para a premiação.