A pré-adolescência é um dos períodos mais estranhos de nossas vidas. Estamos entre a infância e aquela fase chata, antes de nos tornarmos adultos. Neste período de transição, fica difícil se encaixar. É aí que, muitas vezes, a personalidade daquela pessoa se define, evolui, desenvolve. No entanto, é também aí que surgem medos, angústias e inseguranças. E é justamente sobre esse último ponto que trata o filme ‘Hora de Brilhar‘, estreia desta sexta, 29.
Exclusivo do Disney+, o longa-metragem conta a história de Ariana (Sophia Valverde), uma jovem que sonha em ser cantora. No entanto, ela morre de medo do palco — da rejeição, do erro, de ser vista pelos outros. Ela se vê forçada a se apresentar, porém, quando o namorado (Matheus Ueta) decide inscrevê-los no concurso da escola para se apresentarem em um sarau. É neste ponto que ela precisa enfrentar a insegurança e uma rival (Mharessa Fernanda).
“A gente pensou em um conflito para mostrar uma pequena jornada dos personagens principais, mas que refletisse o que essa molecada vive, como insegurança, amizade, bullying”, explica o diretor Maurício Eça ao Filmelier. “Fazer cinema é mais do que entreter. A gente queria discutir algumas coisas. O próprio elenco é formado por atores inteligentes, que já viveram questões pessoais, já viveram conflitos como esses e, por isso, buscamos naturalidade. É um musical, que entretém com todo um colorido, mas que aborda outros temas e, ao mesmo tempo, é alto astral”.
Bastidores de ‘Hora de Brilhar’
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Na essência do filme, está o desejo de fazer uma sequência de outro sucesso da produtora, com elenco bem similar, ‘A Garota Invisível‘. “O outro filme foi feito inteiramente durante a pandemia, enquanto em ‘Hora de Brilhar’ a gente queria uma integração do elenco. O outro era muito na casa dos atores, quase um ‘filme de tela’. Nesse, a gente construiu a história pra rodar dentro de uma escola, com outras situações de locações. Foi muito interessante”, explica o produtor Marcelo Braga. “Todo mundo tava em casa e a gente tava indo para o set com um elenco enorme”. Para ajudar no processo, a equipe do filme contou com apoio da própria escola. Para números musicais de Ariana, por exemplo, uma coreógrafa da casa ensaiou as crianças e os adolescentes, preparando-os para a gravação do filme. Além disso, ‘Hora de Brilhar’ vai um pouco além no quesito da trilha sonora, com músicas originais feitas sob medida.
“Todas as músicas que eles cantam foram criadas especialmente para o filme. As letras tem a ver com o enredo, com o conflito. Isso é muito especial. Em ‘Garota Invisível’, por exemplo, as músicas já existiam e foram adequadas para a história do filme”, contextualiza o cineasta Maurício Eça, também o nome por trás da direção de ‘Garota Invisível’.
Mercado audiovisual para crianças e adolescentes
Percebe-se, neste momento, que há uma força nas produções brasileiras voltadas para os públicos infantil, pré-adolescente e adolescente. Só neste ano, outros exemplos como ‘Pluft: O Fantasminha’ e ‘DPA 3’ mostram como há um fortalecimento de produções para esse público. Quem voltou a trazer esse movimento brasileiro, lá atrás, foi o próprio Maurício Eça: depois de anos adormecidas, as produções infanto-juvenis ganharam fôlego no Brasil com ‘Carrossel’. “‘Carrossel’ foi um resgate da minha infância. As crianças iam assistir Disney, Pixar, mas não tinha conteúdo brasileiro. Foi uma formação de audiência para projetos brasileiros”, diz Eça. “É um tipo de conteúdo muito leve. É especial trabalhar com adolescentes e para adolescentes. É preciso segurar o espectador, claro, senão ele muda de canal e já era. Ainda mais no streaming, já que o cara tá com o celular do lado. O enredo, a direção. Tudo isso precisa segurar”. Braga vê um futuro promissor pela frente. “O mercado nacional sempre valorizou esse público, mas de uns anos para cá tem um número maior de produções e investimentos para atingir esse público”, diz “Crianças interagem muito rápido. Espanta mesmo. A tendência é crescer mais ainda. O mercado vai buscar formas e meios para fazer com que esse público tenha mais conteúdo e entender o tipo de conteúdo. Assim como são rápidos e ligeiros, eles dispensam coisa ruim. Só vai sobreviver quem fizer conteúdo pertinente, com narrativa que agrade, que agregue, que concentre”.