“Não abro meu cinema”, diz diretor da Reserva Cultural sobre flexibilização da quarentena “Não abro meu cinema”, diz diretor da Reserva Cultural sobre flexibilização da quarentena

“Não abro meu cinema”, diz diretor da Reserva Cultural sobre flexibilização da quarentena

Jean-Thomas Bernardini vê com preocupação a flexibilização da quarentena e diz que reabre o cinema só se estiver seguro

Matheus Mans   |  
5 de junho de 2020 16:12
- Atualizado em 17 de junho de 2020 12:18

O francês Jean-Thomas Bernardini, diretor da Reserva Cultural, está preocupado com as contas. Afinal, seus dois cinemas em São Paulo e Niterói (RJ) estão fechados. Nem o bistrô dentro da unidade da Avenida Paulista encontrou meios de funcionar. No entanto, ainda assim, ele não pensa em relaxar o isolamento social e nem quer abrir as suas salas imediatamente.

Para ele, a nova quarentena em São Paulo chegou no momento errado. Afinal, a capital paulista continua sendo o epicentro da pandemia do novo coronavírus no País. São cerca de 123 mil casos confirmados na cidade e mais de 8 mil mortos. Bernardini acredita que colocar a abertura dos cinemas no horizonte é um perigo fruto de uma “falta de coordenação”.

Ainda que, com as fases, a reabertura dos cinemas possa acontecer na capital apenas entre julho e agosto. A estimativa do Reserva era setembro.

Divisão do governo de São Paulo para a retomada da economia (Crédito: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo)

Publicidade

“Não estou entendendo nada. Afinal, a curva está subindo, a ciência mundial fala que é momento de quarentena. E já estão discutindo de abrir as salas? Não abro meu cinema”, afirma o francês ao Filmelier. “Não vou colocar em perigo clientes, meus funcionários. Há risco físico, psicológico. Se falarem para abrir semana que vem, não abro. Só com segurança”.

Além disso, o dono do Reserva acredita que essa falta de coordenação entre governos está criando uma maior insegurança. Na cidade de Niterói, onde fica o outro cinema de Bernardi, são 122 mortes pela covid-19. Tudo ainda fechado. “Há algumas semanas, pensavam em fechamento total. Tá difícil de entender. Cada vez mais, parece que é cada um por si. Não dá assim”.

Retomada da Reserva Cultural

A insatisfação do francês com a nova quarentena vai além da discussão precoce sobre reabertura de cinemas. Primeiramente, Jean-Thomas ressalta que os protocolos adotados pelo estado são inviáveis. Dentre outras coisas, cinemas terão que higienizar as salas entre as sessões, manter uma capacidade máxima de 35% e recomendar uso de máscaras dentro da sala.

“Essas medidas vão nos inviabilizar financeiramente. Não tem como manter o cinema funcionando, com tudo aberto e à disposição, com salas com menos da metade, limpeza reforçada”, afirma o dono do Reserva. “Acredito que ainda precisamos de tempo para entender o que é necessário. Hoje, ainda somos vítimas de muitas interpretações políticas. Complicado”.

Jean-Thomas Bernardini é diretor da Reserva Cultural (Crédito: Divulgação/Reserva)

Consultado pelo Filmelier, o infectologista Marcelo Otsuka ressaltou essas necessidades. “Acreditamos que é importante pular duas cadeiras entre as pessoas, pra frente, pra trás e para os lados”, afirma o médico. “É preciso usar máscara durante a sessão, evitar de comer pipoca ou tomar refrigerante. E a manutenção constante dos filtros do ar-condicionado”.

Além disso, Bernardini pontua que faltou um maior auxílio do governo às entidades do setor. “Há uma má gestão da crise do coronavírus”, acrescenta o empresário. “Mas acredito que a Agência Nacional do Cinema (Ancine) terá consciência e irá liberar fundos para salvar o setor. Se não tivermos isso nem preocupação com saúde, tenho medo da reabertura fracassar”.

Novos recursos

Apesar do momento desafiador e imprevisível, Jean-Thomas tem investido em diferentes frentes para gerar algum lucro para o Reserva e também para a Imovision, distribuidora sob a alçada do empresário francês. Primeiramente, a empresa resgatou um pedido antigo de cinéfilos e colecionadores: o lançamento de DVDs com títulos lançados pela Imovision.

“Já fazia algum tempo que estávamos pensando em voltar com os DVDs. Afinal, deixamos de vendê-los numa época em que o mercado estava desanimado. Toda semana tinha empresa do setor fechando”, conta Jean. “Agora, o clima é diferente. Tem cinéfilos pedindo a mídia física. Nos surpreendeu. Assim, nós já estamos tendo um lucro que não esperavámos”.

Além disso, Bernardini conta que está avaliando a proposta de abertura de um drive-in com a marca do Reserva. “Nós recebemos algumas propostas, estamos avaliando”, conta o francês, animado. “Precisamos entender o espaço de lotação, o valor e o tempo que isso vai durar. Afinal, antes de tudo, precisamos compreender se esse é um investimento que vale fazer”.