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Ministério da Economia defende o fim da meia-entrada nos cinemas

Devido ao número de fraudes e subsídio cruzado, o benefício é visto como um desvio no setor

Raíssa Basílio | 03/08/2020 às 10:41 - Atualizado em: 03/08/2020 às 15:17


Os cinemas ainda não reabriram em várias regiões do país, mas a meia-entrada pode estar com seus dias contados. O Ministério da Economia está analisando a possibilidade de acabar com esse tipo de ingresso - considerando as fraudes e a queda das vendas de entrada inteira.

Segundo a Exame, o Sistema de Controle de Bilheteria forneceu dados que compravam que cerca de 80% das entradas vendidas nas salas de exibição no Brasil foram meia-entrada. De acordo com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), esse número tem aumentado há três anos e, por conta disso, eles abriram uma consulta pública sobre a obrigatoriedade legal da meia-entrada e seus impactos no mercado.

A venda de ingressos na categoria inteira, que era por volta de 30% em 2017, caiu para 21,6% no ano passado. Parte das meias-entradas vendidas em 2019 agregam os seguintes beneficiados: estudantes, jovens, pessoas com deficiência e adultos com mais de 60 anos.

A legislação ainda varia de acordo com a região. Na cidade do Rio de Janeiro e no estado de São Paulo, professores da rede estadual e municipal também podem usufruir do benefício. Ainda em alguns municípios, servidores públicos, doadores de sangue, portadores de câncer, doadores de medula, além de sindicatos de categorias profissionais também pagam menos.

A meia-entrada deveria acessível para as classes carentes da população, mas isso não acontece (Foto: Flickr/ben ko)

Por que a meia deveria acabar?

O ex-secretário de Política Econômica e presidente do Insper, Marcos Lisboa, vê a meia-entrada como um desvio no setor. Na visão dele, se o estado quer dar benefícios é preciso que seja pago um subsídio:

“O Brasil tem há muitos anos essa prática de criar distorções, em que se oferece um preço diferente para um certo grupo, e o que acontece é que o custo tem que ser coberto e preço cheio acaba ficando muito maior. Se todo mundo paga meia, a meia vira a entrada cheia. Isso expulsa quem paga o preço cheio do mercado, e aí o preço tem que subir mais ainda. É um ciclo vicioso.”

Vale ressaltar que o benefício é garantido por um subsídio cruzado – quem compra a inteira paga mais caro justamente para permitir que a meia seja mais barata. Além disso, a legislação não estabelece repasse de recursos do orçamento da União, estados ou municípios. O Ministério da Economia defende o fim da meia-entrada, de acordo com os dados apresentados pela Ancine.

Meia-entrada acessível

Ainda segundo a análise da Ancine, as classes C e D representam 28,5% da população, e nesse percentual apenas 17,3% dessas pessoas foram ao cinema pelo menos uma vez em 2017.

“Nesse aspecto, a política de meia-entrada, se focalizada em baixa renda, teria o potencial de estimular a ampliação do consumo de cinema para parcela da população que enfrenta maiores barreiras”, declara a agência.

UNE defende a fiscalização

O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão, acredita que o problema esteja na má executação da legislação: “A solução para qualquer problema que impacte nas receitas dos cinemas não deve ser atacar um direito conquistado e histórico da classe estudantil".

Cinema abandonado (Foto: Flickr / Cory Seamer)

"Mas justamente o de criar formas de garantir a verificação da validade das carteiras conforme padrão certificado pelo ITI (Instituto Nacional de Tecnologia da Informação). Infelizmente na maioria das salas de cinema do Brasil essa verificação ainda não é feita”, completa Montalvão.

O secretário de Defesa do Consumidor e diretor do Procon-SP, Fernando Capez, concorda com Iago Motalvão e é contra o fim do benefício: “Isso é retirar um direito consolidado do consumidor. Não há nenhuma garantia de que isso vai resultar em ingressos mais baratos”.

Sem meia-entrada, o preço da inteira deve aumentar?

A Ancine garante que não existe uma justificativa para os preços aumentaram caso a lei de meia-entrada deixe de existir. As entradas variam de acordo com os dias, aos finais de cinemas os ingressos são mais caros do que de segunda a quarta-feira.

Por outro lado, quem hoje tem direito à meia e perderia o benefício passaria automaticamente a pagar mais caro, mesmo que haja uma redução no valor da inteira.

A agência reguladora não deu um posicionamento sobre como resolver as irregularidades, mas vê apenas três possíveis cenários sobre o benefício: manter a política atual, restringir o alcance da meia-entrada ou extingui-la.


Raíssa BasílioRaíssa Basílio

Jornalista de cultura e entretenimento. Já passou pelo Papelpop e UOL, escrevendo sobre cinema, música e TV, e também trabalhou com produção na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Foi redatora do Filmelier.

Raíssa Basílio
Raíssa Basílio

Jornalista de cultura e entretenimento. Já passou pelo Papelpop e UOL, escrevendo sobre cinema, música e TV, e também trabalhou com produção na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Foi redatora do Filmelier.

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