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Netflix: “Existe um apetite fora do Brasil pelo cinema nacional”
No evento Mais Brasil na Tela, a gigante do streaming detalhou os seus planos para conteúdo brasileiro – e como a plataforma abre as portas do mundo para a diversidade do nosso país
Na manhã desta terça, 23, a Netflix realizou um evento virtual para a imprensa e o mercado brasileiros, chamado Mais Brasil na Tela. Como o nome entrega, foi o momento da gigante do streaming detalhar os seus próximos projetos em parceria com produtores nacionais – incluindo filmes, séries, reality shows e conteúdo infantil. A empresa também anunciou um livro, também chamado ‘Mais Brasil na Tela’, com relatos dessa experiência e que terá tiragem limitada.
“Faz dez anos do nosso lançamento no Brasil e estamos animados com a próxima década para trazer histórias incríveis de tantos criadores brasileiros”, afirmou Francisco Ramos, vice-presidente de conteúdo latino-americano da Netflix em depoimento no início do evento. “Na verdade, estamos dobrando os nossos esforços no Brasil com um time local incrível para apoiar o ecossistema com o propósito de trazer mais histórias brasileiras para suas telas.”
Entre os diversos anúncios, a empresa norte-americana confirmou 40 projetos brasileiros estarão em fase de desenvolvimento em 2022 – sem detalhar em quais formatos serão.
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Em termos de filmes, universo que abordamos aqui no Filmelier, a Netflix fez questão de pontuar o investimento em produções no nosso país, que começou a se acentuar em 2017 com o lançamento do primeiro longa-metragem original brasileiro da plataforma: ‘O Matador’, um western. “Hoje temos mais de 150 filmes brasileiros no serviço, entre originais e licenciados, em todos os gêneros que foram feitos nos últimos dez ou 20 anos”, pontuou Adrien Muselet, gerente sênior de Aquisição de Conteúdo da Netflix para o nosso país. Depois da estreia, o serviço de streaming passou a explorar mais comédias populares, adolescentes e românticas. “A comédia é um dos focos. Ela é muito importante para a audiência brasileira. Mas, ao mesmo tempo, o nosso foco não é um gênero em particular”, informou Muselet.
Do Brasil para o mundo, via Netflix
De acordo com a Netflix, o sucesso da estratégia foi grande: “Uma grata surpresa que a gente teve no processo descobrimos que o cinema brasileiro tem uma audiência potencial fora do Brasil muito grande. O filme brasileiro também funciona muito bem no exterior, e descobrimos que existe um apetite fora do Brasil para o cinema brasileiro”, afirmou o executivo. O posicionamento não deixa de ser importante: tirando algumas exceções (como ‘Central do Brasil‘), um dos grandes clichês do mercado cinematográfico nacional era que nossos filmes “não viajam bem” para outros países. Não por menos, o fundador e co-CEO da Netflix, Reed Hastings, deixou registrado em depoimento pré-gravado que a empresa detectou não só um crescimento do interesse pelas produções brasileiras em outros lugares do mundo – o serviço, hoje, está disponível em 190 países – e que isso, indiretamente, tem fomentado o turismo e até o interesse em estrangeiros aprenderem a língua portuguesa. “Ficamos muito surpresos que um filme como ‘Cabras da Peste‘ funcionou bem na Europa, um filme sobre dois caras e uma cabra no Ceará”, revelou Adrien Muselet. “As pessoas querem ver do folclore brasileiro em outros países. Estão mais curiosas do que muitos imaginariam” Outro exemplo é ‘7 Prisioneiros‘, suspense nacional que está há duas semanas no top-2 global de produções em língua não-inglesa da plataforma e no top 10 geral da categoria em países como Argentina, Chile, Paraguai, Marrocos e Portugal. “Nos próximos anos, o que vemos tentar fazer em termos de estratégia, é ir para outros gêneros que não fomos ainda, onde os brasileiros não tem tanta tradição. Estamos filmando o primeiro projeto brasileiro de ação para a Netflix, ‘Carga Máxima'”, anunciou o executivo. Estrelado por Thiago Martins, ‘Carga Máxima’ é um longa-metragem sobre um piloto de corridas de caminhão – que, nas últimas décadas, se popularizaram dentro de um nicho esportivo por meio das categorias nacionais Fórmula Truck e Copa Truck. Na história, o protagonista, interpretado por Martins, se envolverá com más-companhias. Não foram dados mais detalhes do enredo. “Nos próximos anos o desafio é esse: aumentar a qualidade do que estamos fazendo. Continuar tendo comédias populares, mas investir em filmes de ação e ficção científica, filmes de festivais, etc.”, concluiu Muselet. Para isso, a Netflix informa que está investindo, também, em testar possibilidades – o que permite, por exemplo, ter mais versões do argumento, testar efeitos especiais antes das filmagens, quais são os melhores diretores, diretoras, atrizes e atores ou fazer experimentos em gêneros onde o Brasil tem menos experiência em produções cinematográficas. No caso de ‘Carga Máxima’, foram três anos de desenvolvimento do projeto antes de filmar. O serviço também anunciou o longa original ‘Biônicos’, uma ficção científica com ação dirigida por Afonso Poyart (de ‘2 Coelhos’) e produção da Paris Entretenimento.
Pensar local ou global?
Já na parte final do evento, o diretor e produtor brasileiro Fernando Meirelles deu o seu depoimento sobre a parceria com a Netflix – a produtora do brasileiro, a O2 Filmes, é parceira da gigante do streaming e, pelo serviço, ele dirigiu o longa-metragem ‘Dois Papas‘, que foi indicado ao Oscar. “A Netflix é um local de produção do mundo para o mundo. Isso não existia, era impensável há quatro, cinco anos atrás. A gente finalmente está ouvindo as histórias do mundo”, definiu o cineasta brasileiro. Porém, a questão que fica é: é preciso pensar no público global ao se criar conteúdo local? Haná Vaisman, diretora de séries de ficção para o Brasil, deu algumas pistas: “A gente produz primordialmente para os brasileiros. Temos aqui um contingente enorme de audiência, no Brasil, e a nossa especialidade, o que a gente pode fornecer de único, é criar conteúdo brasileiro para brasileiros.” “Essa é uma estratégia mundial da Netflix. A gente se deu conta que quando você produz para o país, a audiência que você conhece, você atende uma autenticidade que é única. Isso o resto do mundo consegue enxergar também”, completou Elisabetta Zenatti, vice-presidente de conteúdo brasileiro. “Um exemplo muito interessante é ‘Round 6’. Foi uma produção coreana, feita por criadores coreanos para uma audiência coreana. Nunca pensaram que poderia ter esse sucesso internacional – e teve. Significa que nós enxergamos aquela conexão e por isso a gente gostou. Essa autenticidade é o que vai fazer a sua série, o seu produto, ser visto no mundo inteiro.”
Mais diversidade na tela
A diversidade também é uma preocupação da empresa. “É um compromisso que está alinhado com o nosso desejo en contar as histórias brasileiras, autênticas”, afirmou Haná Vaisman, que afirmou que esse posicionamento permeia cada escolha, como quem vai escrever, dirigir, produzir e estrelar. “Eu posso dizer, com muita sinceridade, que isso está se tornando a nossa rotina normal. Olharmos para o que estamos oferecendo e pensar: ‘isso aqui representa a nossa audiência?'”. Elisabetta Zenatti complementou, afirmando que a empresa tem uma área de fomento para implementar mais diversidade entre as equipes de produção e criadores em todo o Brasil. “É uma busca ativa. A gente vai atrás dessas pessoas, para ter essa representatividade.”