‘O Predador: A Caçada’ é o melhor filme da saga por ser “anti-Schwarzenegger” ‘O Predador: A Caçada’ é o melhor filme da saga por ser “anti-Schwarzenegger”

‘O Predador: A Caçada’ é o melhor filme da saga por ser “anti-Schwarzenegger”

Produção exclusiva do Star+, ‘O Predador: A Caçada’ se passa séculos antes do filme original

Lalo Ortega   |  
5 de agosto de 2022 10:16
- Atualizado em 8 de agosto de 2022 12:58

Um alienígena com habilidades de combate letais, equipado por armamento muito superior ao da civilização humana, desce à Terra para caçar por esporte, e os humanos devem lutar contra ele para sobreviver. Em maior ou menor grau, essa é a premissa de todos os filmes da saga ‘Predador’, e ‘O Predador: A Caçada‘ – que chega nesta sexta, 5, ao Star+ – não é diferente.

Em outras palavras: nunca houve muito espaço de manobra na franquia para inovação. O filme original lançou as bases para a fórmula, com uma força paramilitar liderada por Dutch (Arnold Schwarzenegger) lutando contra o monstro. A sequência mudou a ação para Los Angeles. ‘Predadores’ apenas adicionou mais alienígenas e ‘O Predador‘ os tornou mais fortes.

Na superfície, ‘O Predador: A Caçada’ também não faz muito para mudar a fórmula. Em vez disso, volta ao básico. Tão básico, na verdade, que troca os comandos paramilitares da Guerra Fria por uma tribo Comanche em 1791, com arcos e machados em vez de metralhadoras e lança-chamas (o elenco é formado por atores descendentes dos povos originários das Américas).

'O Predador: A Caçada' é o melhor filme da saga por ser "anti-Schwarzenegger"
‘O Predador: A Caçada’ apresenta a primeira protagonista feminina da saga (Crédito: Divulgação/20th Century Studios)

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Essa é uma das duas pequenas mudanças que o prequel traz para a série. A segunda e mais importante é que coloca uma mulher, Naru (Amber Midthunder, da série ‘Legion’) como protagonista. Uma modificação que parece pequena, mas que muda radicalmente o discurso da saga toda e, em particular, modifica os valores dissemidados pelo longa original da franquia.

O significado do primeiro ‘O Predador’

Primeiro, vamos voltar às raízes com ‘O Predador’, lançado em 1987. Em suma, o filme é um dos exemplos mais emblemáticos do cinema hollywoodiano dos anos 1980 que glorificou o poderio militar americano, na mesma gaveta de ‘Top Gun: Ases Indomáveis‘ ou em todas as sequências de ‘Rambo‘.

O clássico de ação seguiu a força paramilitar de Dutch, designada para resgatar prisioneiros de um grupo guerrilheiro na “selva centro-americana” (assim, de bem forma ambígua). Eles aniquilam um grupo guerrilheiro em uma das maiores orgias de chumbo, fogo e testosterona que os filmes já viram, antes de perceberem que foram manipulados para impedir uma operação financiada pelos soviéticos. Tudo isso, antes mesmo de saberem que estão sendo caçados por um alienígena mortal.

‘O Predator’ baseia-se na ideia de que, na cadeia alimentar, existe sempre um peixe maior e mais forte. Por um momento, a lei da natureza parece se aplicar também aos americanos: apesar de sua experiência e armamento, todos os companheiros de Dutch sucumbem à brutalidade do monstro, um por um.

Isso é claro, até que Dutch encontre uma maneira de se camuflar (em grande parte por acaso) e derrotá-lo. Ainda em desvantagem tecnológica, o estereotipado herói macho alfa americano (que embora, na verdade, seja austríaco) consegue se destacar como o principal “predador”. E que herói americano: ele pode matar outros humanos sem vacilar, mas um senso moral distorcido o leva à indignação quando ele e sua turma são enganados.

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‘O Predator’ é, em essência, um filme sobre quem tem o maior… bíceps (Crédito: Divulgação/20th Century Fox)

Junto com Rambo (e Sylvester Stallone, por extensão), ‘O Predator’ e o sr. Schwarzenegger são talvez símbolos do herói de ação masculino americano ideal: musculoso, transbordando testosterona, capaz e disposto a assumir qualquer missão por seu país sem vacilar. Um ideal que tem sido a pedra angular da irregular franquia (sem falar em todo o gênero de ação no cinema).

Estes são os fundamentos da saga. ‘O Predador: A Caçada’ é sua antítese absoluta (uma essência encapsulada por seu título original sucinto em inglês, ‘Prey’, traduzido simplesmente como “Presa”) e, como tal, é sua melhor e mais interessante sequência até agora.

‘O Predador’: a presa e a violência do feminino

Aqui vale a pena mencionar que, no fator ação, ‘O Predador: A Caçada’ não perde nada para seus antecessores. Toda a brutalidade e visceralidade da luta está aqui, e há até coreografias complexas executadas em planos sequenciais. Como cereja do bolo, a tensão nos momentos de suspense é muito bem gerenciada pelo diretor Dan Trachtenberg (responsável pelo também excelente ‘Rua Cloverfield, 10‘).

'O Predador: A Caçada' é o melhor filme da saga por ser "anti-Schwarzenegger"
Esta versão do Predador é tão mortal quanto todas as anteriores (Crédito: Divulgação/20th Century Studios)

A prequel é mais do que satisfatória para o público que está simplesmente à procura de uma história emocionante com sequências de ação em ritmo acelerado e uma dose saudável de terror. No entanto, o roteiro de Patrick Aison (‘Wayward Pines’) também propõe uma crítica à violência e ao que a motiva, do mundo feminino em contraponto ao masculino.

No início da trama, Naru (Amber Midthunder), uma jovem guerreira comanche, aspira a ser uma caçadora reconhecida por sua tribo. Ela se prepara para sua “grande caçada” (um rito de passagem), mas seu irmão, Taabe (Dakota Beavers), mostra que ela ainda tem muito a aprender.

Naru ainda comete erros e é provocada pelos outros guerreiros, todos do sexo masculino. Por insistência de sua mãe, ela é relegada a ser uma colecionadora (um trabalho de mulher), enquanto seu irmão é promovido a “Chefe de Guerra” por suas façanhas.

As habilidades de Naru como rastreadora a fazem suspeitar que há algo maior e mais perigoso do que um urso na floresta, mas ninguém acredita nela: ela ainda não é considerada digna de respeito. Então ela decide ir à procura da criatura para obter provas e provar que ela é digna de ser reconhecida.

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Naru é a única mulher no grupo de guerreiros em ‘O Predador: A Caçada(Crédito: 20th Century Studios)

O que se segue, em grande parte, mantém a fórmula da saga: a protagonista e os demais guerreiros são caçados pelo alienígena, e a situação é matar ou ser morto. No entanto, ‘O Predador: A Caçada’ apresenta uma de suas principais ideias antes de tudo isso, quando Naru é questionada por sua mãe sobre o objetivo da caça. A mulher afirma que é, pura e simplesmente, sobreviver.

A afirmação ganha bastante força, lembrando que a protagonista vem de uma tribo Comanche e é fácil fazer um paralelo e considerar a história de opressão dos índios nas mãos dos colonizadores. O filme, então, é contado a partir da perspectiva de uma mulher desprezada em uma sociedade já oprimida (o título original, ‘Prey’ – ‘Presa’, em português -, ganha um significado maior).

É isso que coloca Naru em um lugar diametralmente oposto aos protagonistas e antagonistas típicos da saga. Não caça por esporte, como o monstro. Ele não caça para provar seu valor, como seus companheiros comanches, nem pertence a um exército invasor, como Dutch.

Naru pode ser mortal quando quer, mas também é capaz de mostrar compaixão quando necessário. Nunca é motivada por crueldade ou noções artificiais (e tradicionalmente masculinas) como honra, ou demonstrações de força, habilidade ou coragem. Ela só luta para viver.

'O Predador: A Caçada' é o melhor filme da saga por ser "anti-Schwarzenegger"
Demonstrações de coragem geralmente levam os homens a uma morte prematura (Crédito: Divulgação/20th Century Studios)

Além de ser uma excelente proposta de ação e terror, esta produção dirigida por Trachtenberg mostra que uma franquia antiga ainda pode ter algum propósito, se suas convenções forem desafiadas.

‘O Predador: A Caçada’, portanto, aposta em um paradigma diferente para os protagonistas do cinema de ação, especificamente as femininas: personagens imperfeitos e perfectíveis, capazes de recorrer à violência sem fetichizá-la, usando o intelecto e a compaixão em vez da força, e livres de sexualização banal.

Já está na hora de mais filmes como esse.

‘O Predador: A Caçada’ está disponível no Star+. Se você quer saber mais sobre o filme, conferir o trailer ou encontre o link para assistir online, clique aqui.

Publicado primeiro na edição mexicana do Filmelier News.

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