O que é a Academia e quem vota no Oscar? O que é a Academia e quem vota no Oscar?

O que é a Academia e quem vota no Oscar?

Conheça aqueles que têm o poder de decidir quais são os melhores filmes do ano

12 de janeiro de 2024 23:37
- Atualizado em 23 de janeiro de 2024 12:45

O Oscar é o principal evento da temporada de premiações de Hollywood, movimentando a imprensa, a indústria do entretenimento e muitos fãs de filmes pelo mundo. Porém, a maioria não sabe como funciona o evento, qual é seu peso, quem é que escolhe os vencedores e por aí vai. Por isso, a partir de agora vamos trazer aqui no Filmelier uma série de artigos que explicam os bastidores e meandros da premiação.

Começando pelo básico:

Você sabe o que é a Academia e quem é que vota no Oscar?

Não, a Academia não é aquela de malhação, mas sim a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (da sigla AMPAS, em inglês). São os membros dela que escolhem os filmes indicados e vencedores do Oscar – que originalmente se chama justamente Academy Awards (“Prêmios da Academia”, em bom português). 

 O Fairbanks Center for Motion Picture Study é uma das instituições mantidas pela Academia (crédito: AMPAS / divulgação)
O Fairbanks Center for Motion Picture Study é uma das instituições mantidas pela Academia (Foto: AMPAS / divulgação)

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Além do Oscar, a Academia mantém o Pickford Center for Motion Picture Study, batizado em homenagem a atriz e fundadora Mary Pickford e que hospeda o arquivo da instituição, entre outras coisas; e o Fairbanks Center for Motion Picture Study, que é referência mundial na pesquisa e desenvolvimento do cinema enquanto arte e indústria. 

Atualmente a AMPAS é dividida em 17 seções, constituídas pelos mais diversos tipos de profissionais dentro do cinema americano. Elas são as seguintes: atores, diretores de elenco, diretores de fotografia, figurinistas, designers, diretores, documentaristas, executivos, editores, maquiadores & cabeleireiros, músicos, produtores, relações públicas, animadores de curtas & longas-metragens, sonoplastas, profissionais de efeitos especiais e roteiristas. 

Todos as funções
do cinema são
representadas
na Academia

É possível, também, que um cineasta que se enquadre em mais de uma categoria seja classificado como um “member at large”. Outra possibilidade é ser um membro associado, cargo reservado para profissionais que são aliados da indústria do cinema, mas não necessariamente fazem parte dela – e não possuem direito a voto no Oscar. 

No total, 10,5 mil profissionais são membros ativos na AMPAS agora em 2024.

Há diversos benefícios para esses membros. Entre eles está a oportunidade de ir ao Academy Awards, em regime de rotação (o Dolby Theatre, que recebe a festa em Los Angeles, tem “apenas” 3.400 lugares). Eles também podem assistir a filmes de graça no Samuel Goldwyn Theater, em Beverly Hills, geralmente duas semanas antes da estreia no circuito comercial – ou até, em alguns casos, recebem screeners (cópias de divulgação) de filmes ainda não lançados. Isso tudo além de poder votar no Oscar, claro. 

Como fazer parte da Academia?

A única forma de ingressar é por convite, que é feito pelo conselho da Academia após ser previamente aprovado pela respectiva seção – e, para ser elegível a um desses convites, o profissional precisa ter sido indicado a ao menos um Oscar competitivo ou ter a admissão patrocinada por ao menos dois membros da mesma seção da qual pretende fazer parte. Nesse último caso há ainda um dificultador: o interessado precisa estar creditado em filmes que tenham o “alto calibre” exigido pela Academia. 

Só é aceito quem fez
filmes de “alto calibre”

Não acabou. Cada uma das seções pode fazer exigências ainda mais específicas. A de atores, por exemplo, exige que o candidato a membro tenha papéis creditados em ao menos três filmes, sendo que um deles precisa ser lançado nos últimos cinco anos. Para produtores e diretores são exigidos ao menos dois filmes, sendo ao menos um deles lançado nos últimos dez anos. 

Para o pessoal de efeitos especiais é ainda pior: são necessários, no mínimo, oito anos de experiência em um posto criativo que seja considerado chave para a produção. 

Bong Joon Ho recebendo um dos quatro Oscars vencidos por 'Parasita', o grande filme da premiação em 2020 (Foto: divulgação / AMPAS)
Bong Joon Ho recebendo um dos quatro Oscars vencidos por ‘Parasita’, o grande filme da premiação em 2020 (Foto: divulgação / AMPAS)

Resumindo: para um produtor ser aceito nele precisa primeiro ter tido uma produção indicada na categoria de Melhor Filme (que é nominal aos produtores) ou ter feito ao menos dois filmes bons o suficiente (e que um deles seja recente) para que dois outros produtores que já são integrantes possam endossar essa admissão. Se o conselho aprovar, ele é formalmente convidado. 

Em 2021, 395 pessoas foram convidadas para a AMPAS. Em 2020, esse número foi de 819. Em 2014 foram apenas 271. 

Depois de ser admitido, a filiação nunca expira – mesmo que a pessoa passe por dificuldades financeiras, pare de trabalhar em filmes ou tenha outros problemas do gênero. 

#OscarsSoWhite

Tudo isso (a filiação que não expira, tortuoso caminho para novas admissões e a necessidade de padrinhos para a admissão) fez a Academia se descolar da realidade do resto dos Estados Unidos e da própria indústria. Um estudo em 2012 feito pelo Los Angeles Times, por exemplo, indicava que 94% dos integrantes da AMPAS eram brancos, 77% homens e 86% com mais de 50 anos de idade. A idade média de um membro era de 63 anos. 

Em 2012, o membro-padrão
da Academia era um
senhor branco de 63 anos

Essa composição passou a ter impacto diretamente naqueles que são indicados ao Oscar – afinal, é mais fácil um profissional indicar alguém próximo a ele (e, por consequência, com origem social ou étnica parecida) do que profissionais mais distantes de sua realidade. A situação chegou ao ápice em 2016, quando o fato de todos os indicados serem brancos originou o movimento #OscarsSoWhite nas redes sociais. 

A solução encontrada para a Academia foi mudar o paradigma na hora de escolher os novos integrantes e, já naquele mesmo ano, aumentou o número de convites para mulheres e pessoas de outras etnias dentro da indústria. 

Em 2015, a Academia fez festas em Nova York e em Los Angeles para receber os novos membros (crédito: AMPAS / divulgação)
Em 2015, a Academia fez festas em Nova York e em Los Angeles para receber os novos membros (Foto: AMPAS / divulgação)

Em 2019, pela primeira vez na história, houve paridade de gênero entre os novos convidados para a AMPAS: 421 eram homens e 421 eram mulheres. Em 2020, 45% dos admitidos foram do gênero feminino, enquanto 36% eram de etnias “subrepresentadas”, de acordo com a própria instituição. Já no ano passado, a Academia fez questão de frisar que os novos membros vieram de 50 países diferentes.

Ainda assim, tais políticas só devem mudar o panorama geral dos eleitores do Oscar se forem recorrentes e no longo prazo. De qualquer forma, a vitória de ‘Parasita‘ em 2020 – vencendo em quatro categorias, incluindo a de Melhor Filme – já pode ser vista como um reflexo dessa maior diversidade.

Quem faz parte e vota no Oscar?

Desde 2022, a presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas é a produtora Janet Yang, quarta mulher a ser escolhida para liderar a Academia e a primeira de origem asiática.

Entre os brasileiros, Alice Braga, Carlinhos Brown, Petra Costa, Rodrigo Santoro, Kleber Mendonça Filho, Walter Carvalho, Karim Aïnouz e Vânia Catani, entre outros, fazem parte da AMPAS recentemente.

Até hoje, seis pessoas foram expulsas da organização de forma pública: Carmine Caridi (por vazar cópias de divulgação dos filmes, infringindo direitos autorais); Harvey Weinstein (por conta dos diversos casos de assédio); Bill Cosby, Roman Polanski (em 2018, após a Academia ser questionada sobre as condenações de ambos por estupro) e Adam Kimmel (o mais recente, em 2021, também por assedio sexual).

Artigos da série:

– Qual é o processo de qualificação de um filme para o Oscar?
– Como começou o Oscar?
– Como são escolhidos os indicados e vencedores do Oscar?
– Como é por dentro do Dolby Theatre, a casa do Oscar?
– As verdades (nada) secretas do Oscar

Matéria originalmente publicada em 9 de janeiro de 2020 e atualizada com informações de 2022.

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