Não tem como: ‘Pluft: O Fantasminha‘, livro escrito pela inexorável Maria Clara Machado, tem inflexões de sua época. A história do fantasminha com medo de gente prezava muito mais pelas figuras masculinas. Enquanto a garotinha Maribel era a donzela indefesa nas mãos do Pirata da Perna de Pau, ao seu redor apenas homens e meninos tentavam dar um jeito para salvá-la — Tio Gerúndio, os três marinheiros, o próprio Pluft.
Essa é apenas uma das novidades que traz o texto do longa-metragem, uma leitura contemporânea que traz a essência do texto de Maria Clara Machado, mas trazendo o que há de mais importante no mundo atual. “A grande mudança do filme é a Maribel. Ela é mais combativa, é mais aguerrida. Enfrenta o Pirata em vários momentos”, contextualiza a diretora Rosane Svartman (‘Como Ser Solteiro’), durante entrevista coletiva de imprensa com a presença do Filmelier. “A ideia não era só respeitar o texto, mas respeitar o universo, muito precioso para o filme”.
A história, afinal, é a mesma contada por Maria Clara Machado. Pluft (Nicolas Cruz) continua sendo um fantasminha que vive em uma casa abandonada com sua mãe (Fabíola Nascimento) e que morre de medo de gente. Até que ele se depara com Maribel (Lola Belli), uma garotinha em apuros e que acabou de ser sequestrada pelo Pirata da Perna de Pau. Com isso, ela, Pluft e os marinheiros João, Sebastião e Julião precisam dar um jeito de escapar. Quem celebra essa decisão é Lola Belli, intérprete de Maribel. “Ela tem uma frase que a representa muito bem, de que as pessoas não sabem do que as meninas são capazes. Mostra como ela é contemporânea”, diz Lola. “É uma menina forte e empoderada. Me inspiro muito na Maribel. Gosto que ela seja assim para inspirar meninas e até mulheres para enfrentar medos com coragem e afeto. Afinal, é uma heroína, mas com as suas inseguranças. Tem medo, passa frio”. Além disso, há a transposição do teatro para o cinema. Do palco para as telas. Na encenação original de ‘Pluft: O Fantasminha’, toda a história se passa no sótão. Svartman, ao lado de um roteiro afiado, precisou reimaginar tudo o que acontece fora daquele espaço. “‘Pluft: O Fantasminha’ é quase uma caixinha de música, que se passa totalmente no sótão. A gente se fez perguntas: onde o Pirata vai com a Maribel? Onde os marinheiros procuram a Maribel? Até que a Cacá [Mourthé, roteirista,] percebeu que a gente precisava se apoiar no Pluft e fazer com que ele conte a sua história. Pegamos coisas de um disquinho que Maria Clara conta essa história e voltamos o olhar pro Pluft”, diz Rosane.
Tecnologia de ponta em ‘Pluft: O Fantasminha’
Não é só os temas de ‘Pluft: O Fantasminha’ que foram atualizados. A tecnologia ao redor do longa-metragem também evoluiu. Aqui, ao invés de investir em efeitos digitais mais pesados para apresentar a fluidez dos fantasmas, a produção encontrou uma saída inteligente: colocou os atores em um tanque de água. Há alguns errinhos no processo de filmagem, como a dublagem dessincronizada que acontece em alguns diálogos ou as bolhas de água que aparecem no cabelo dos personagens, principalmente de Pluft. Mas não atrapalha e os efeitos continuam inteligentes. Além disso, o longa-metragem conta com efeitos em 3D. Ainda que sejam um pouco limitados, funcionam bem quando aparecem cenas de bolhas de sabão na tela ou, ainda, os perfumes que a mãe de Pluft usa — e também bebe. Com isso, ‘Pluft: O Fantasminha’ se torna o filme infantil brasileiros mais caro da história, com orçamento na casa dos R$ 12 milhões. “A gente foi pra debaixo da piscina. Convencemos de que aquela fluidez ia ajudar na narrativa”, comenta Clélia Bessa, produtora do longa-metragem, também durante a coletiva. “O cinema brasileiro é muito inventivo. Até o último minuto seguimos com a prerrogativa de usar tecnologia 100% nacional, com produção totalmente brasileira”.