Crítica de Ricos de Amor 2: Sequência de filme da Netflix aposta em crítica social, mas perde o foco no romance Crítica de Ricos de Amor 2: Sequência de filme da Netflix aposta em crítica social, mas perde o foco no romance

Crítica de Ricos de Amor 2: Sequência de filme da Netflix aposta em crítica social, mas perde o foco no romance

Ricos de Amor 2, sequência da comédia romântica brasileira com Giovanna Lancellotti e Danilo Mesquita, estreou na Netflix com crítica social e representatividade indígena

3 de junho de 2023 17:44
- Atualizado em 7 de junho de 2023 17:32

Ricos de Amor 2, a aguardada continuação da comédia romântica brasileira de sucesso da Netflix, chegou ao serviço de streaming na última sexta-feira, 2 de junho. A continuação do filme estrelado por Giovanna Lancellotti e Danilo Mesquita traz de volta os personagens carismáticos e os conflitos amorosos que conquistaram o público no primeiro filme. Além de um enredo repleto de amadurecimento pessoal, humor e representatividade cultural.

Nessa nova jornada, somos reapresentados aos protagonistas Paula e Teto, enquanto eles enfrentam os desafios de um relacionamento à distância e buscam encontrar seu lugar no mundo. Saindo do eixo Sudeste-Sul, a produção aposta em um enredo que vai para a Amazônia e aborda a cultura dos povos originários.

Qual é a história de Ricos de Amor 2?

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Quando a idealista Paula retoma seu trabalho como médica voluntária na Amazônia, Teto convence seus parceiros a estabelecer sua cooperativa de tomates num vilarejo da região. Só que para reconquistar o coração de Paula e salvar a empresa da falência, Teto precisa superar definitivamente seus hábitos de playboy mimado e enfrentar os interesses de um poderoso fazendeiro, que está em seu caminho.

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O amadurecimento dos personagens e a busca pelo autoconhecimento em Ricos de Amor 2

O desenvolvimento de Teto: do mimado ao amadurecido

No novo filme, Teto continua sendo retratado como o jovem ciumento, mimado e cabeça-dura que conhecemos anteriormente, aparentemente incapaz de amadurecer desde os eventos do primeiro Ricos de Amor. A teimosia dele é evidente, e praticamente todos os personagens do filme percebem e verbalizam a necessidade de Teto aprender a ouvir e respeitar os outros.

O ciúme ainda é uma questão presente, levando-o a vivenciar um triângulo amoroso com Paula e o Dr. Tawan, quando Teto presencia um beijo entre eles em um momento oportuno, por coincidência. Aliás, esta é uma de muitas escolhas rasas do roteiro, que faz questão de não deixar dúvidas de qualquer atitude e acontecimento – ocorrendo somente como um recurso para engatilhar uma ação ou reviravolta.

Danilo Mesquita como Teto em Ricos de Amor 2, comédia romântica da Netflix
(Crédito: Netflix)

No entanto, ao longo da trama, Teto passa por um processo de autoconhecimento e começa a compreender a importância de ouvir e respeitar as escolhas de Paula, mesmo que isso signifique abrir mão de seu próprio desejo.

Sua jornada de amadurecimento ganha destaque, enquanto ele lida com as consequências de suas atitudes impulsivas e busca encontrar um propósito maior em sua vida. A atuação de Danilo Mesquita traz um toque de autenticidade ao personagem, cativando o público com seu carisma e vulnerabilidade.

Romance fica em segundo plano

Embora o relacionamento entre Paula e Teto ainda seja o cerne da trama, Ricos de Amor 2 traz uma abordagem um tanto desequilibrada. A história prioriza o amadurecimento e o desenvolvimento individual de Teto, deixando o relacionamento de Paula e Teto em segundo plano. 

Personagem de Giovanna Lancellotti perde protagonismo

Giovanna Lancellotti como Paula e Danilo Mesquita como Teto em Ricos de Amor 2
(Crédito: Netflix)

Infelizmente, essa mudança de foco resulta em Paula perdendo o protagonismo que tinha no primeiro filme. Em Ricos de Amor, a personagem de Giovanna Lancellotti era forte e determinada, que conquistava o protagonismo ao lado de Teto. No entanto, em Ricos de Amor 2, ela acaba sendo deixada de lado, perdendo o destaque que tinha anteriormente. 

Paula aceita as atitudes de Teto sem muita resistência, e algumas brigas entre eles surgem de informações mal interpretadas ou ouvidas sem contexto. A consistência no desenvolvimento do relacionamento fica comprometida, deixando o espectador com uma sensação de falta de motivação. 

É decepcionante ver a personagem reduzida a praticamente um papel secundário, especialmente considerando o potencial que ela demonstrou no filme anterior. Os conflitos e as idas e vindas do casal acabam minando o empoderamento feminino de Paula. Desta forma, o roteiro cai em um senso comum de Mansplaining, marco dos filmes de comédia romântica dos anos 90 e 2000, mas inconcebíveis em um produto de massa como um longa da Netflix dos anos 2020.

Atriz de Barraco de Família segura humor de Ricos de Amor 2

O humor desempenha um papel importante em Ricos de Amor 2, especialmente na dinâmica entre Teto e Monique. A atuação de Lellê, que recentemente brilhou em Barraco de Família, adiciona um toque divertido e cativante à história. As interações entre esses personagens proporcionam momentos divertidos, que trazem leveza à narrativa.

Entretanto, Ricos de Amor 2 resolve reprisar elementos já conhecidos do primeiro filme, como a troca de lugares entre Teto e Igor (Jaffar Bambirra); além de resoluções fáceis e inverossímeis para conflitos do humor “pastelão”.

Ricos de Amor 2 amplia a representatividade e aborda temas importantes

Giovanna Lancellotti como Paula e Dr Tawan em Ricos de Amor 2
(Crédito: Netflix)

Em comparação com o primeiro filme, Ricos de Amor 2 se destaca por expandir os cenários e explorar outras regiões do Brasil. Enquanto o filme original se passava principalmente no centro Sul-Sudeste, a sequência nos leva a conhecer locais pouco explorados no cinema mainstream, proporcionando uma visão mais ampla do país. Essa expansão geográfica é uma maneira interessante de diversificar a trama e mostrar diferentes realidades. Isso proporciona uma oportunidade de mostrar ao público outras regiões do país e suas particularidades culturais. Apesar de suas falhas, o filme desempenha um papel importante ao ampliar a visibilidade dessas localidades.

Filme da Netflix abre espaço para discussões sobre cultura indígena

Uma das novidades de Ricos de Amor 2 é a inserção de elementos da cultura indígena, com destaque para a comunidade amazônica. O filme aborda rituais, medicamentos naturais e seres da floresta, oferecendo um retrato mais autêntico e respeitoso da riqueza cultural dos povos originários do Brasil. A trilha sonora, com canções compostas por Alok em colaboração com artistas indígenas, adiciona um toque contemporâneo e diversificado à experiência cinematográfica.

Ainda que seja válido trazer essa representatividade, há momentos em que a abordagem parece forçada. Colocar Teto, um personagem branco, em contato com os costumes indígenas pode parecer uma tentativa de encaixar essa temática de forma conveniente na trama.

Danilo Mesquita como Teto e Wunim em Ricos de Amor 2, comédia romântica da Netflix
(Crédito: Netflix)

A crítica social e a abordagem exagerada

Ricos de Amor 2 também traz críticas sociais, abordando a corrupção e o poder das elites. No entanto, em alguns momentos, essa crítica pode parecer exagerada e simplista, reforçando estereótipos. A caricaturização dos vilões, como garimpeiros e empresários corruptos, pode comprometer a consistência narrativa em prol de uma mensagem política.

Apesar de seus pontos fracos, Ricos de Amor 2 merece destaque por abordar temas relevantes. A representatividade dos povos originários e a crítica à corrupção são pautas importantes presentes na narrativa. É válido ressaltar que, mesmo que de forma imperfeita, o filme traz à tona questões sociais relevantes, levando esses temas para um público amplo através do streaming da Netflix. Ainda que haja espaço para melhorias, é um passo significativo para ampliar a visibilidade e o reconhecimento dos povos originários do Brasil.

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