Com Joaquin Phoenix, ‘Sempre em Frente’ reafirma importância da redescoberta Com Joaquin Phoenix, ‘Sempre em Frente’ reafirma importância da redescoberta

Com Joaquin Phoenix, ‘Sempre em Frente’ reafirma importância da redescoberta

Filme de Mike Mills repete sentimentos e emoções do cineasta ao falar sobre homem que redescobre o que é viver ao lado do sobrinho

Matheus Mans   |  
16 de fevereiro de 2022 14:34
- Atualizado em 17 de fevereiro de 2022 16:53

Redescoberta. Essa é a palavra que guia o trabalho do cineasta Mike Mills. A redescoberta da sexualidade (‘Toda Forma de Amor‘), do papel social (‘Mulheres do Século 20‘) e até de comportamentos (‘Impulsividade’). No entanto, o seu trabalho mais franco chega aos cinemas nesta quinta, 17: ‘Sempre em Frente‘ (‘C’mon, C’mon’, no original), protagonizado por Joaquin Phoenix.

Afinal, a história de Johnny (Phoenix) é pura redescoberta: ele é um homem que está sem rumo na vida pessoal e apenas focado em seu trabalho após uma separação. Sua vida muda, porém, com a chegada do sobrinho.

Sempre em Frente
‘Sempre em Frente’ mostra detalhes da relação entre o tio Johnny e o sobrinho Jesse (Crédito: Divulgação/Downtown)

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O pequeno Jesse (Woody Norman) passa por uma tensão familiar: mãe e pai estão separados, e o pai está passando por problemas psicológicos graves. Sem ter onde ficar, o tio é a saída. Eles, então, passam a conviver enquanto Johnny toca seu trabalho como radialista (ou podcaster). O que ele faz? Entrevista crianças para entender os dilemas da vida.

No entanto, ainda que ouça lições das crianças todos os dias, é de Jesse que vem os maiores ensinamentos. Parece que Johnny compreende, novamente, o que é viver — afinal, com a separação, sua vida virou algo monótono e até robótico. É, enfim, o processo de redescoberta tão trabalho por Mills em sua filmografia, chegando ao seu máximo.

‘Sempre em Frente’ e Mike Mills

Ainda que ‘Toda Forma de Amor’ seja um filme reconhecido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, é visível como ‘Sempre em Frente’ conseguiu elevar a narrativa de Mills. Geralmente cineasta associado à histórias banais até certo ponto, sem brilhantismo de grandes cineastas, ele conseguiu traduzir sua gana pela redescoberta em arte.

O longa-metragem protagonizado por Phoenix tem certas belezas que deixam tudo muito sensível, mas ainda sutil e elegante. É o caso do preto e branco. Parece sem motivo inicialmente. Pra que uma fotografia em preto e branco se a história é contemporânea? O que o diretor de fotografia Robbie Ryan quis dizer com essas imagens “sem cor”?

Preto e branco colocam a atenção do espectador no sujeito fotográfico (Crédito: Divulgação/Downtown)

Aos poucos, ‘Sempre em Frente’ mostra ter seguido um caminho sempre ressaltado pelo fotógrafo Sebastião Salgado: cores distraem. O preto e branco deixa a imagem crua. Vemos as formas, as emoções, os gestos com mais frieza. E mesmo que não tenha escutado Salgado, Robbie Ryan e Mike Mills seguem exatamente esse caminho anti-distração.

“Meu mundo é preto e branco, eu vejo em preto e branco, eu transformo todas essas gamas maravilhosas de cores em gamas maravilhosas de cinza. O preto e branco é uma abstração, é uma forma que eu tenho de sair de um mundo e entrar em outro para poder trabalhar o meu sujeito fotográfico, poder dedicar tempo à dignidade das pessoas. Isso eu consigo em preto e branco, acho que em cores eu não conseguiria”, já diria Salgado, em entrevista para a RFI.

Ainda sobre a linguagem, há uma boa mistura de real e ficção. A edição mistura cenas documentais de entrevistas de crianças e adolescentes falando sobre a vida com a ficção com Phoenix. Ainda que não seja algo novo (alô, neorrealismo italiano!), é raro ver essa estética narrativa em um filme norte-americano. Traz uma pungência necessária.

Esnobado?

Apesar de todos esses elogios, ‘Sempre em Frente’ passou longe do Oscar 2022. Tirando as conversas sobre uma possível indicação de Phoenix, o filme morreu cedo nas conversas para categorias como Melhor Filme, Melhor Fotografia, Melhor Roteiro Original e Melhor Direção. Tudo bem que há excessos nessa história de Mills, como um ou outro momento repetitivo que tira o ritmo do filme. Mas sério que ‘King Richard‘, filme óbvio, é melhor?

Isso sem falar da edição, que sabe misturar documental e ficção. As falas das crianças entram de maneira natural na produção, sem quebras. Com isso, ‘Sempre em Frente’ apresenta uma naturalidade que quebra barreiras, resistências, dores. É difícil, sentado ali na sala de cinema, não entender exatamente o que aquelas crianças estão sentindo.

Até mesmo em questão de roteiro, é complicado falar que ‘Licorice Pizza‘ é melhor que ‘Sempre em Frente’. Talvez a pedigree de Paul Thomas Anderson tenha pesado para a indicação — algo que Mills não tem. O longa-metragem merecia bem mais atenção. A Academia precisa voltar a prestar mais atenção nas produções criativas e originais.

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