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Sir Patrick Stewart fala sobre saúde mental, música e ‘A Última Nota’

Por conta do lançamento de 'A Última Nota', o Filmelier conversou com Sir Patrick Stewart para entender melhor seu personagem

Matheus Mans | 30/07/2020 às 12:02 - Atualizado em: 02/08/2020 às 22:05


Sir Patrick Stewart é um ator completo. Apesar de ter ficado conhecido do grande público por conta de filmes como ‘X-Men’ e ‘Logan’, o cavalheiro britânico não deixa o cinema independente de lado. Frequentemente, ele embarca em produções menores para novas e melhores experimentações.

No elogiado ‘Match’, por exemplo, ele viveu um bailarino conceituado que começa a reviver demônios do passado. Em ‘Sala Verde’, ele interpreta uma espécie de mercenário. Agora, em ‘A Última Nota’, o octogenário ator dá vida a um músico que decide fazer uma volta triunfante aos palcos. 

Em 'A Última Nota', Sir Patrick Stewart faz dupla com Katie Holmes (Foto: Divulgação/Synapse)

Mas nada é tranquilo nesse retorno. Afinal, numa relação parecida com a mostrada em ‘Match’, o personagem de Stewart aceita dar entrevistas para uma simpática jornalista (Katie Holmes, de ‘Quase Famosos’) enquanto luta contra uma crise de ansiedade, que o impede de desfrutar da fama.

“O filme é sobre saúde mental. Quando acontece uma tragédia, que tem um grande impacto na vida do personagem, isso acaba se tornando algo que tira muito a confiança em si mesmo e enfraquece seu lugar no mundo”, conta Patrick Stewart, em entrevista feita por telefone ao Filmelier. 

Abaixo, você pode conferir o bate-papo na íntegra com Sir Patrick Stewart:

Filmmelier: Antes de tudo, Sir Patrick, conte-me como você entrou no elenco de ‘A Última Nota’.

Sir Patrick Stewart: Me enviaram o roteiro e ele me intrigou na hora. O assunto de um artista vivendo sua confiança e crença em si mesmo é algo que eu acho que a maioria das pessoas criativas já presenciou em algum momento na vida. Eu sei que eu já, apesar de não da mesma forma, nem com a mesma intensidade. Afinal, nunca fui hospitalizado por isso, mas tenho a experiência de estar muito nervoso por conta de algo. Assim, eu fiquei fascinado quando me ofereceram a oportunidade de explorar essa situação. E, além disso, eu amo músicas tocadas no piano e foi uma ótima oportunidade para eu tocar piano, ainda que eu não consiga fazer isso.

Filmmelier: Aproveitando esse assunto, conte-me um pouco mais sobre sua relação com a música.

Sir Patrick Stewart: A  música foi uma estrada sinuosa para mim porque na casa que eu cresci, nós só tínhamos rádio. Nós morávamos em uma casa de 2 dormitórios apenas, era tudo o que tínhamos. Meu pai controlava o rádio, então, como um jovem, não tinha muita coisa que eu gostaria de ouvir que meu pai gostava de ouvir. Música foi algo desconhecido ao que me cabia. A grande coisa aconteceu quando eu tinha 11, 12 anos. Na escola que eu estudava, nós tivemos uma visita de uma pequena orquestra, de 20, 25 músicos, e toda a escola foi chamada para o auditório uma tarde.

Essencialmente, foi um concerto de uma hora e também teve uma palestra do líder da orquestra, que nos perguntou o que nós gostávamos de ouvir. E a primeira coisa que eles tocaram foi a abertura de ‘Peer Grynt Suite’ de Edvard Grieg, a música de uma de suas famosas peças chamada ‘Morning’. E eu sentei no auditório e escutei aquelas maravilhosas, charmosas, relaxantes e lindas músicas. Assim, cerca de um ano depois, eu conheci outro garoto da escola, um ano e pouco mais velho que eu, que tinha uma coleção de música clássica. E eu ia na casa dele e passávamos horas apenas escutando Chopin e Bizet, e era uma experiência maravilhosa.

"Música sempre esteve
na minha vida"

Filmmelier: Então realmente é algo que o sr. está acostumado a lidar.

Sir Patrick Stewart: Música sempre esteve na minha vida. E claro, depois dessas minhas experiências iniciais, chegaram os Beatles e eu fiquei viciado. Hoje, aos 80 anos, sou casado com uma incrível cantora, musicista e compositora. Então, a música está na minha vida de forma muito pessoal. Eu a experienciei de perto, assim como as questões e circunstâncias de um músico, especialmente em tempos de coronavírus.  

Filmmelier: No filme, seu personagem, o Sir Henry, está enfrentando alguns problemas relacionados à sua saúde mental. Quão importante é falar de saúde mental atualmente, especialmente durante a pandemia?

Sir Patrick Stewart: [O filme] é sobre saúde mental. Quando acontece uma tragédia na vida do meu personagem, que tem um grande impacto em sua vida, é algo que tira muito a confiança em si mesmo e enfraquece seu lugar no mundo. E ele está instável, seriamente instável. Não há menção à suicídio, mas é algo que acontece com as pessoas que experienciam isso. Fica implícito. Em qualquer trabalho criativo você corre o risco de perder a coragem e isso é um aspecto muito importante da criatividade, sabe? Você precisa acreditar em si mesmo, você precisa acreditar no que está fazendo. E se isso vai embora, você tem um problema. Então eu fiquei interessado em interpretar um personagem que eu pudesse explorar isso. 

No filme, ator britânico é um pianista experiente (Foto: Divulgação/Synapse)

Filmmelier: O senhor já experienciou algo desse tipo?

Sir Patrick Stewart: Eu tive experiências pessoais vendo atores que tiveram um surto e não puderam mais trabalhar, que não puderam mais estar nos palcos. Acho que estar no palco é mais desafiador do que estar na frente das câmeras. Se você está nervoso, é mais fácil na frente de uma câmera do que num palco com várias pessoas te olhando.

"Eu acho fascinante continuar
estudando, como ator,
porque tenho a necessidade
de ser convincente"

Filmmelier: Seu personagem está quase se aposentando e lidando com a idade. Você pode me contar um pouco da sua experiência pessoal com isso? 

Sir Patrick Stewart: Primeiramente, músicos são conhecidos por não se aposentarem, performando em idades mais avançadas. Se o cérebro e o corpo estão funcionando, eles podem continuar fazendo o que fazem. Se torna mais desafiador conforme o passar da idade, é por isso que eu tenho tanto respeito por esses artistas que continuam seu trabalho criativo. Eu acho fascinante continuar estudando, como ator, porque tenho a necessidade de ser convincente. Acho que o principal do filme, lógico, além de tratar questões como barreiras mentais e romance, é ele conseguir abraçar a música de novo, como ele já fez no passado, e o resultado do filme é muito otimista, porque ele de fato abraça seu talento e suas habilidades. 


Matheus MansMatheus Mans

Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.

Matheus Mans
Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.

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