A próxima fase do streaming já chegou: é a do conteúdo grátis A próxima fase do streaming já chegou: é a do conteúdo grátis

A próxima fase do streaming já chegou: é a do conteúdo grátis

Em plataformas de AVOD, que apostam em streaming grátis com anúncios, usuários encontram filmes como ‘Spartacus’, ‘P.S.: Eu Te Amo’ e a filmografia de Zé do Caixão

Matheus Mans   |  
11 de março de 2021 10:37
- Atualizado em 4 de maio de 2021 15:02

Depois de um longo período tendo apenas o YouTube como opção, os serviços de streaming grátis com propaganda finalmente estão alçando voo no Brasil. Com a chegada e consolidação de plataformas como Pluto TV e NetMovies, este formato de distribuição de conteúdo se torna uma opção para brasileiros, bombardeados com serviços pagos.

Afinal, para acessar Pluto TV ou NetMovies, por exemplo, não é necessário fazer assinatura, nem pagar um valor mensal para consumir o conteúdo. O serviço está disponível com apenas alguns cliques no controle remoto e a rentabilidade para essas plataformas vem a partir de propagandas de empresas terceiras. Não há muitas barreiras para o consumo do conteúdo.

Vivemos, assim, o surgimento de uma nova era dentro da revolução do VOD, a da “TV aberta 2.0” – ou, se preferir, do Ad-Supported Video on Demand (vídeo sob demanda bancado por publicidade, em tradução livre), mais conhecido pela sigla AVOD.

Print do streaming gratuito Netmovies
Plataformas como a Netmovies oferecem filmes gratuitos (Crédito: reprodução / NetMovies)

Publicidade

“É o formato tradicional que sustentou a televisão aberta no país até os dias de hoje. Por isso, considero forte”, comenta Ricardo Kurtz, especialista em streaming e idealizador da  ZoOme.TV, plataforma prevista ainda para este primeiro trimestre de 2021, em entrevista ao Filmelier. “A questão neste momento, no entanto, é a migração desse formato para a internet”.

No entanto, as perspectivas são positivas no Brasil. Segundo o Data Stories, análise do Kantar Ibope divulgada em dezembro, 55% dos brasileiros ouvidos preferem o streaming grátis com inserções de comerciais. Além disso, 49% dos consumidores ouvidos concordam que um menor custo mensal chamaria mais atenção para assinar um serviço de streaming hoje.

Conteúdo no streaming grátis

Hoje, o principal desafio dessas plataformas é trazer conteúdo que faça com que o espectador troque a Netflix ou o Disney+, por exemplo, por uma dessas plataformas de AVOD. A Pluto TV, hoje, é um dos pilares da estratégia de streaming da ViacomCBS — empresa controladora de marcas como Paramount, Nickelodeon e MTV. A Pluto TV é a porta de entrada.

Em recente reunião para investidores e acionistas, a empresa revelou que a ideia de ter dois serviços de streaming no mercado (Pluto TV e Paramount+) é fazer com que a plataforma de AVOD faça com que o consumidor tenha vontade de ir além no consumo de streaming, assinando o serviço pago. Ou seja: é como se fosse uma isca de conteúdo. 

‘Blue Valentine’ é um dos filmes disponíveis para assistir de graça na PlutoTV (Crédito: Divulgação / Paramount)

No Brasil, a Pluto TV tem mais de três dezenas de canais que passam o dia todo o conteúdo da ViacomCBS e de terceiros, via licenciamento. No catálogo sob demanda, é possível encontrar filmes como ‘Dois Lados do Amor’, ‘Namorados para Sempre’ e ‘P.S.: Eu Te Amo’. No mundo, são 43 milhões de usuários e um crescimento de 80% ao longo de 2020. Fora dos EUA, são 12,9 milhões de pessoas.

“A Pluto TV está superando nossas projeções iniciais. Já alcançamos, nos primeiros 100 dias de operação, números previstos para os primeiros seis meses”, conta Ari Martire, diretor sênior de Ad Sales e Partner Solutions da ViacomCBS no Brasil. “Estamos conectados com todas as plataformas de publicidade e com diversos anunciantes experimentando nosso produto”.

Ari, porém, chama a atenção para barreiras. “O principal desafio ainda está associado à conexão e consumo de dados, para que o usuário tenha uma experiência plena com o conteúdo”, complementa. “Além disso, é importante o contínuo desenvolvimento do ecossistema de conteúdo e monetização, pois a cadeia vive de respostas do mercado anunciante”.

Metamorfose

A NetMovies é uma empresa que, assim como a Netflix, nasceu a partir da lógica das locadoras. Lá no começo da década de 2010, entregava DVDs de porta em porta, num sistema de logística robusto. Depois, com a chegada do streaming, acabou apostando no modelo com assinatura. Hoje, sob comando da Encripta, dona do serviço Looke, a marca migrou pro AVOD.

NetMovies aposta em clássicos do cinema nacional e estrangeiro, como ‘A Bela da Tarde’ (Crédito: Divulgação / Studiocanal)

Na plataforma, é possível encontrar uma quantidade e variedade impressionante de filmes. Tem clássicos como ‘Spartacus’, ‘Cleópatra’, ‘O Tambor’ e ‘A Bela da Tarde’, assim como filmes essenciais do cinema nacional, como coleções de títulos de Zé do Caixão e Mazzaropi. Tudo isso, assim como a Pluto TV, ganhando dinheiro em cima de propagandas.

“A recepção é muito positiva. Temos um crescimento expressivo mês a mês, com milhões de visualizações só no mês de dezembro. É assustador”, diz Marcelo Spinassé, CEO da Encripta. “Com tantas plataformas de streaming que existem hoje no mercado, o consumidor não tem bolso pra tudo isso. E nós estamos conseguindo colocar bons filmes na NetMovies”.

No entanto, Marcelo ressalta que nem tudo são flores. Para colocar um filme no serviço, a empresa precisa comprar os direitos. É um gasto alto, além de desenvolvimento e tecnologia. “É um formato muito oneroso. A receita de publicidade ainda é muito baixa. É difícil fechar a conta”, conta o executivo. “Mas, ainda assim, sabemos que esse formato vai explodir”.

Futuro do AVOD

Para todos os entrevistados ouvidos pelo Filmelier, 2021 é o ano de consolidação do formato no Brasil. Afinal, Pluto TV e NetMovies devem fazer com que o usuário vá além na percepção de que o formato pode ir muito além do que o YouTube — e a TV aberta, de alguma maneira — proporcionava até então. O Brasil deve seguir a onda dos EUA e Europa.

Pluto TV aposta em um catálogo diverso para que o espectador tenha vontade de ir para outros serviços da ViacomCBS (Crédito: Reprodução / ViacomCBS)

“Vamos continuar avançando. Temos novas empresas internacionais chegando, lançando seus serviços”, diz Ari, da ViacomCBS. “Enquanto isso, produtores de conteúdo locais seguem focados na ampliação de modelos de distribuição e monetização. E a audiência aprova intervalos comerciais e patrocínios nativos para continuar consumindo conteúdos de qualidade”.

O especialista Ricardo Kurtz, seguindo a linha de dor da NetMovies, afirma: se faz necessário novos formatos no AVOD. “Será preciso pensar em novos modelos de monetização para os produtores de conteúdo, para que dessa forma consigam garantir conteúdos exclusivos e de qualidade para que ocorra o crescimento na base de usuários”, finaliza o criador da ZoOme.TV.

Além disso, plataformas, agregadores e distribuidores estão entendendo melhor a força do YouTube para conteúdos de maior qualidade de produção ou do catálogo da sétima arte. A própria NetMovies traz longas gratuitos em seu canal no site de vídeos do Google, iniciativa compartilhada até por grandes players como a Universal Pictures ou produtoras relevantes em seus nichos, como o Porta dos Fundos.

Por fim, Fabio Lima, diretor executivo da Sofá Digital, agregadora de conteúdos para VOD que também é a publisher do Filmelier, chama a atenção para a ordem de distribuição, algo que faz, ao menos neste primeiro momento, que a maior parte do conteúdo no streaming grátis seja de catálogo, com poucas coisas realmente inéditas ou até mesmo recentes.

“Para filmes, será a terceira janela por conta da dinâmica da monetização. Para séries, a segunda janela, se for financiada por um streaming. Para todo o resto, como notícias e esportes, pode ser a primeira. É possível que comece a acontecer, em breve, conteúdos produzidos diretamente para AVOD”, afirma o executivo.

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