Lançamentos: destaques da semana nos cinemas e no streaming

20 Dias em Mariupol é um filme chocante – para dizer o mínimo. Afinal, o longa-metragem ganhador do Oscar de Melhor Documentário é o resultado de um trabalho arriscado de Mstyslav Chernov, jornalista ucraniano que decidiu ficar na cidade que dá nome ao filme até quando os russos já estavam entrando com tanques pelas ruas. A partir daí, em um relato com muito sangue e lágrimas, acompanhamos o registro cru do que aconteceu nesses 20 dias de cerco em Mariupol, com uma narração bastante pessoal de Chernov acrescentando detalhes dos horrores dessa guerra. Um filme forte, que exige compromisso do espectador, e que nos faz questionar muitas coisas – do que move uma guerra até a ética do jornalismo.

O retorno do diretor Michael Mann (Fogo Contra Fogo) após oito anos afastado do cinema traz um filme que ele tentou fazer ao longo de três décadas: "Ferrari", inspirado na biografia "Enzo Ferrari: The Man, the Cars, the Races, the Machine", escrita por Brock Yates. O filme narra um período turbulento na vida do fundador da famosa montadora (interpretado por Adam Driver): estamos em 1957, seu casamento com sua esposa e co-fundadora (Penélope Cruz) está em ruínas, ele esconde um filho ilegítimo com outra mulher (Shailene Woodley) e sua empresa está à beira da falência. Sua única esperança é apostar na vitória na corrida Mille Miglia para atrair investimentos, um jogo com um equilíbrio delicado entre sua reputação pública e sua vida privada, que ele tentará controlar a todo momento. Deixando de lado os questionáveis sotaques italianos, as atuações são boas (Cruz, em especial, está monumental), e todos os elementos contribuem para uma história sobre a desesperação de manter o controle diante das consequências dos atos mais vis. Leia mais na nossa crítica completa de "Ferrari".

Os documentários de crime real ou true crime da Netflix são tão bem-sucedidos quanto previsíveis: um caso é apresentado, algo não se encaixa, uma nova revelação surge, e a polêmica ou o choque se instalam. E assim é também em O que Jennifer fez? (What Jennifer Did), um documentário que aborda o controverso caso de Jennifer Pan no Canadá durante 2010. Se você se lembra das notícias, já sabe do que se trata a história. E se não, você logo descobrirá: o documentário segue a mesma fórmula do crime real, então espere reviravoltas e surpresas na narrativa.

Em termos muito simples, a produção argentina 'O Mal Que Nos Habita' (‘Cuando acecha la maldad’), do diretor Demián Rugna (Aterrados), é um dos filmes de terror mais perturbadores dos últimos anos. E não apenas pela brutal violência física que representa na tela - e há de sobra -, mas porque o que a motiva é ainda mais impactante e desolador. A história se passa em um remoto vilarejo rural na Argentina, onde dois irmãos descobrem a existência de um "encarnado": uma pessoa cujo corpo foi possuído por um mal parasitário que busca se alimentar dele para "nascer". As tentativas de se livrar do encarnado desencadeiam uma calamidade na cidade, revelando o pior do espírito humano na comunidade. Um filme inspirado no contexto local da Argentina, mas que é universal em sua crueldade, egoísmo e intolerância apresentados na tela. Leia mais na nossa crítica completa de 'O Mal Que Nos Habita'.

Evidências do Amor é uma comédia nacional que traz uma premissa pra lá de divertida: toda vez que Marco (Fábio Porchat) ouve a música Evidências, cantada por Chitãozinho e Xororó, ele volta no tempo. O problema é que ele e sua esposa (interpretada por Sandy, numa sacada inteligente) estão vivendo uma crise e, ao voltar no tempo, essa relação se complica mais -- e Marco começa a perceber o que está fazendo de uma errado. Uma comédia romântica divertida e simpática, que reafirma a força do Brasil como um grande contador de boas histórias de comédia.

Sangue Frio (Cold Meat) é um intenso thriller de sobrevivência em uma trama repleta de tensão e suspense. A história segue um motorista, após um ato heroico, que se vê preso em um desfiladeiro durante uma tempestade de neve, enfrentando não apenas as adversidades climáticas, mas também um psicopata e uma criatura misteriosa.

A terceira parte oficial na saga dos Caça-Fantasmas, Ghostbusters: Mais Além, foi uma sequência que funcionou por seu caráter nostálgico e autorreferencial: reconhecia o passar do tempo e a separação do grupo original (na frente e atrás das câmeras), prestando homenagem e passando o bastão para uma nova geração. A sequência parece jogar tudo isso pela janela. Ghostbusters: Apocalipse de Gelo (Ghostbusters: Frozen Empire) continua a história de Phoebe Spengler (Mckenna Grace) e sua família como os novos Caça-Fantasmas, de volta a Nova York para combater o paranormal. No entanto, aos poucos, começam a surgir subtramas que envolvem novos personagens (Kumail Nanjiani é um dos melhores) assim como outros já introduzidos na nova geração, mas também um retorno de quase todos os personagens clássicos. O resultado é uma teia desnecessariamente complicada de subtramas e uma sobrecarga de personagens, o que acaba diluindo o impacto das ideias mais divertidas e emocionantes do filme. Não é um desastre, mas definitivamente teria funcionado melhor se tivesse abraçado o espírito inovador de sua predecessora para deixar o passado para trás.

Um emocionante thriller de ficção científica estrelado por Morgan Freeman, Josh Hutcherson e Greg Germann. A trama segue um blogueiro de tecnologia que, após impedir um ataque a um influente guru da tecnologia, descobre um anel misterioso que lhe permite voltar 57 segundos no passado. Com essa habilidade extraordinária, ele planeja uma vingança meticulosa contra a corporação responsável pela morte de sua irmã, embarcando em uma jornada cheia de desafios, dilemas morais e reviravoltas inesperadas.

Mais conhecido por seus documentários do que por seus filmes de ficção, o cineasta alemão Wim Wenders (Paris, Texas) retorna com um drama aparentemente pequeno, mas grande em suas perguntas e emoção. Dias Perfeitos é a história de Hirayama (Kōji Yakusho), um zelador empregado pelo The Tokyo Toilet que passa seus dias em uma rotina pacífica de limpar banheiros, comer tranquilamente, cuidar de suas plantas, ler e dormir, dia após dia, sempre sozinho. Através de sua manipulação do tempo e da repetição quase ritualística dessa rotina, Wenders nos mostra, por um lado, uma existência ascética e aparentemente desejável, mas também convida a questionar o preço desse estilo de vida - e as razões que poderiam ter levado seu personagem a isso. 

Um envolvente thriller de horror e mistério que explora o impacto devastador de um jogo online sinistro nas redes sociais. Situado em uma cidade russa, o filme segue a jornada de Dana, uma estudante que mergulha no mundo virtual para desvendar o suicídio de sua irmã mais nova. Ela enfrentará uma trama sombria que mistura suspense psicológico com o terror digital moderno.

Dizem que a música tem a capacidade de nos transportar ao passado, e The Greatest Hits leva isso como uma premissa literal. A trama deste filme, selecionado no Festival SXSW 2024, segue uma jovem mulher (Lucy Boynton de Sing Street) que tem tentado superar a morte repentina de seu namorado há anos, mas descobre que certas músicas permitem que ela viaje ao passado... e questione tudo. Semelhante ao já clássico Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, este filme explora de forma alegórica a experiência de perder alguém amado, as perguntas que surgem disso (poderia ter sido diferente? houve algo a fazer para evitar?), mas também a importância de aceitar, deixar ir e viver no presente. É irregular, mas a premissa é interessante, e Boynton entrega uma atuação bela e melancólica.