Os melhores filmes contemporâneos em branco e preto

Um dos filmes em preto e branco contemporâneos mais populares da segunda década do século 21 é 'O Farol', de Robert Eggers (diretor de 'A Bruxa'). Rodado em filme 35mm, emulando a aparência do filme ortocromático do século 19 (quando a história se desenrola), o longa assim a aparência das fotografias da época com uma trama ousada e experimental. [-]

Embora dirigido pelo americano Noah Baumbach e lançado em 2013, 'Frances Ha' captura muito do espírito rebelde da Nova Onda do Cinema Francês dos anos 1960. É algo que foi intencional a partir da escolha de uma câmera não profissional e, claramente, o preto e branco. Não foi à toa que o filme e a própria protagonista, Greta Gerwig, foram comparados a Jean Seberg e ao filme carro-chefe da época, ‘Acossado’, de Jean-Luc Godard. [-]

Os fãs de Tim Burton sabem muito bem da predileção do diretor pelos clássicos filmes de monstros da Universal Pictures. 'Frankenweenie' (um remake em stop motion de seu curta-metragem de 1984) é uma homenagem óbvia aos longas desses outros tempos, sem mencionar outras produções icônicas em preto e branco como 'Godzilla'. Assim, era natural e necessário que essa animação também fosse replicada com aquele estilo visual. [-]

Quando se trata de filmes em preto e branco contemporâneos, não podemos esquecer esta obra-prima de Michael Haneke. 'A Fita Branca' trata, de acordo com seu diretor, sobre "a origem do mal" do terror político e religioso e retrata a crueldade transmitida por pais às crianças alemãs dias antes do início da Primeira Guerra Mundial, semeando o nazismo. A estética em tons de cinza e quase sempre a luz natural responde, segundo Haneke, ao desejo de replicar as fotos da época e de provocar um distanciamento emocional. [-]

'Nebraska', de Alexander Payne, poderia ser definido como um "road movie" moderno ou a antítese dos expoentes convencionais do gênero, conhecidos por idealizar paisagens americanas. O contraste do preto e branco neste filme, por outro lado, responde ao contraste do "sonho americano" e seus resultados decepcionantes, inúmeras histórias de mal-entendidos e sonhos desfeitos. Com atuação deslumbrante, ainda, de Bruce Dern. [-]

Talvez ‘O Artista’ seja uma produção um tanto óbvia em termos de uso do preto e branco: é uma homenagem e uma réplica dos filmes mudos de antigamente. Assim, não poderia ter uma estética muito diferente. O resultado é uma carta de amor ao início de Hollywood e, como a indústria vive apaixonada por si mesma. Não é surpresa que ela tenha levado para casa o Oscar de Melhor Filme, consagrando o ator Jean Dujardin fora do cinema francês. [-]

O diretor Alfonso Cuarón disse que, para além dos aspectos autobiográficos de 'Roma', este filme foi feito em preto e branco mas com câmeras capazes de filmar em 4K. Afinal, segundo ele, este é um olhar ao passado do México a partir do presente. O resultado é um retrato do México dos anos 1970 que ainda parece tristemente familiar, apesar da reconstrução digital de locais obsoletos, sempre com um olhar angustiante sobre o futuro. [-]

Um filme contemporâneo em preto e branco quase em cores. Na época do set, o diretor de fotografia Lukasz Zal tentou reproduzir o visual dos filmes soviéticos em Technicolor para a 'Guerra Fria'. No entanto, o claro-escuro profundo era um ajuste melhor para a história de amor de dois pólos opostos no meio do conflito entre Oriente e Ocidente, parcialmente baseado na história dos pais do diretor, Paweł Pawlikowski. Indicado ao Oscar em 2019. [-]

Em um contexto tão conservador e proibitivo como era a União Soviética nos anos 1980, talvez não houvesse melhor estilo visual para retratar a cena do rock underground russo do que este. Em “Verão”, novamente contrastes ideológicos informam a estética, que também exalta a precariedade que cercava a cena musical underground. Para ver e cantar junto. [-]

Entre os filmes em preto e branco contemporâneos, "O Abraço da Serpente" se destaca como uma verdadeira obra-prima latino-americana. Novamente, a escolha visual responde à recriação das formas de representação fotográfica disponíveis no momento em que parte da história se passa (no caso, os daguerreótipos do início do século XX). Porém, o preto e branco tem outra função. Afinal, depois, há alguma cor neste longa-metragem colombiano. [-]

Ainda que parece uma contradição, ‘O Artista e a Modelo’ fala de artes plásticas sem usar cores. Afinal, o inventivo diretor Fernando Trueba (‘Chico e Rita’, ‘A Rainha da Espanha’) tira a atenção do espectador das obras que estão sendo criadas para fazer com que toda a história seja direcionada à relação entre o artista e a modelo. A partir de gestos, olhares, silêncios e falas, o longa-metragem é construído com uma delicadeza ímpar e que só mostra como a escolha de ser em preto-e-branco não é apenas uma muleta estética para agradar saudosistas. Destaque para Jean Rochefort, em um de seus últimos trabalhos. [-]

E também tem cinema nacional sendo feito em branco e preto. Em ‘A Febre do Rato’, o cineasta Cláudio Assis (de ‘Amarelo Manga’ e ‘Big Jato’) conta a história de um poeta inconformado e anarquista, que preenche seus dias com seus poemas subversivos até conhecer a bela Eneida, que injeta uma história de amor em sua vida mundana. O preto e branco serve como contraste entre a vida do protagonista e seus desejos sexuais intensos, nunca alcançados. Provocador e intimista, é um filme brasileiro urgente e necessário. [-]