‘A Barraca do Beijo 2’ tenta consertar naturalização do machismo do primeiro filme ‘A Barraca do Beijo 2’ tenta consertar naturalização do machismo do primeiro filme

‘A Barraca do Beijo 2’ tenta consertar naturalização do machismo do primeiro filme

A continuação, que já está disponível na Netflix, foca na amizade e deixa o sexismo de lado

24 de julho de 2020 09:54
- Atualizado em 10 de agosto de 2021 16:30

Nesta sexta-feira (24), ‘A Barraca do Beijo 2’ chegou ao catálogo da Netflix. O primeiro filme também exclusivo da plataforma e lançado em 2018, ‘A Barraca do Beijo’, foi um sucesso. A história é a adaptação do livro homônimo da escritora britânica Beth Reekles e agradou parte do nicho a que ele foi destinado, que anseia e vibra pelos romances teens atuais.

No entanto, desagradou na mesma dimensão aqueles que cresceram com os filmes de John Hughes. Afinal, Molly Ringwald, que ficou famosíssima com as comédias adolescentes de Hughes, está no elenco – e isso acabou misturando os dois públicos, ainda que com opiniões totalmente opostas.

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Entre as críticas do primeiro longa, a mais comum foi a de ter personagens machistas. Apesar de reforçar ideais machistas e conservadores, é inegável que a produção consegue prender o espectador do começo ao fim – mesmo que este perceba os problemas da trama.

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Mas afinal, o que os fãs acham da produção? Conversamos com Ana Paula Silva, jornalista de 26 anos, e a estudante Georgia Kayla Mackenzie, de 21 anos e dona de um fansite sobre a atriz Joey King (protagonista do filme), para saber se elas enxergam problemas na trama.

Mas por que o primeiro filme foi acusado de ser machista?

Lee (Joel Courtney) e Elle (Joey King) continuam inseparáveis em ‘A Barraca do Beijo 2’ (Foto: Reprodução / Netflix)

Na história, a protagonista Elle (Joey King) é uma menina inocente, que está tão envolvida em seu primeiro amor que não vê o comportamento abusivo dele. O alvo de seu afeto Noah Flynn (Jacob Elordi) é um típico bad boy – daqueles que são retratados como homens atraentes há anos e têm suas atitudes abusivas relevadas (a famosa passada de pano).

Flynn tem um corpo escultural e se mostra super protetor, em um nível de ameaçar qualquer garoto da escola que chegue perto de Elle. Uma das crítica recebidas é a forma como o filme pinta tudo como se fosse fofo parece que o sonho de qualquer menina deva ser esse: um namorado manipulador.

“Filmes de comédia romântica muitas vezes tendem a recorrer a clichês batidos, o que geralmente não é um problema. Mas, ‘A Barraca do Beijo’ infelizmente apela para alguns clichês bastante negativos, especialmente no que diz respeito à relacionamentos abusivos e estereótipos de beleza”, analisa a jornalista Ana Paula Silva.

Por outro lado a estudante Georgia Kayla Mackenzie não acha que o filme é completamente machista, mas acredita que a protagonista poderia passar uma mensagem mais fortes para as mulheres. “Eu concordo que em determinados pontos o filme foi machista porque a maioria dos caras sempre pensavam nas meninas como um objeto e elas são muito mais que isso. Até o fato de todas babarem pelo Noah demonstrava a falta de interesse pelo interior e, sim, o exterior. Achei que faltou um pouco mais de empoderamento feminino por parte principalmente da Elle como protagonista”.

Como se Flynn não fosse o bastante, o irmão dele, Lee (Joel Courtney), que é o melhor amigo de Elle, também apresenta problemas. Eles têm diversas regras para que continuem com a boa amizade, porém Elle se vê em um dilema quando se encontra apaixonada por Noah e precisa esconder isso de seu amigo. Lee também demonstra uns comportamentos tóxicos ao se mostrar contra a felicidade de Elle, se isso depender de namorar seu irmão mais velho. Essa situação dá a impressão de que ele passa a tratá-la também como uma propriedade.

Noah (Jacob Elordi) e Elle (Joey King) formam o casal romântico de ‘A Barraca do Beijo’. (Foto: Reprodução / Netflix)

Esse tipo de conteúdo, na visão de quem faz a crítica, acaba moldando nossa personalidade sem que possamos entender. Infelizmente, por mais que pareça sem intenção, certos comportamentos abusivos e machistas são normalizados quando representados na mídia.

Ana Paula Silva concorda que esse é um grande problema no filme – tratar com naturalidade abusos. “Gostaria, por exemplo, que não normalizassem o comportamento do protagonista. Muitos filmes adolescentes retratam esses caras como bad boys que, no fim, só precisam de um pouco de carinho e atenção para revelar um lado bom. Isso faz com que muitas meninas relevem comportamentos agressivos, explosivos ou controladores em seus parceiros, achando que aquilo é normal e que ‘com tempo e amor’ eles revelarão um lado mais amável. Acho essa atitude extremamente perigosa numa fase em que estamos em desenvolvimento”.

“Fora que Noah é extremamente controlador e usa a frase ‘com uma saia assim você está pedindo’ ao se referir a um abuso sofrido pela protagonista. Cena extremamente desnecessária”, completa ela, se referindo a uma cena do primeiro filme. Nela, um rapaz coloca a mão debaixo da saia de Elle e a culpa disso cai nela e não no assediador. “Acho um personagem bastante problemático e é triste pensar que agora ele é cobiçado por fãs adolescentes”, finaliza Ana Paula.

O que esperar da sequência?

‘A Barraca do Beijo’ dividiu opiniões pelos motivos citados acima. Ainda assim, assisti à sequência para ver se os mesmos pontos continuam incomodando ou se a produção levou em conta as críticas que o primeiro filme recebeu. De fato, a continuação está longe – com ressalvas – de ser um longa problemático.

Em ‘A Barraca do Beijo 2’, Elle e Noah Flynn continuam namorando,dessa vez sem esconder de Lee e em estados diferentes, pois Noah foi estudar em Harvard. Vemos a protagonista lidar com o relacionamento à distância enquanto traça planos de estudar com seu melhor amigo na mesma faculdade ou se mudar para perto do namorado.

Em meio a isso, ela também não sabe se consegue confiar na fidelidade de Noah, agora que ele está em Massachusetts e ela na Califórnia – e que se tornou bem próximo de uma moça chamada Chloe (Maisie Richardson-Sellers). Sem dar nenhum spoiler da história, é possível dizer que Elle está mais madura e, mesmo que ainda sinta uma certa influência de Noah em suas decisões, consegue medir o que é melhor para ela.

Marcos (Taylor Zakhar Perez) chega para bagunçar os sentimentos de Elle (Joey King) em ‘A Barraca do Beijo 2’ (Foto: Reprodução / Netflix)

A adição de outro personagem masculino ao enredo também ajudou na evolução da protagonista. Marco (Taylor Zakhar Perez) é o novo galã do colégio em que Elle e Lee estudam, já que Noah se formou. Tanto ele quanto Chloe trazem novos conflitos para o casal e boas lições sobre como ter uma relacionamento saudável – amoroso e de amizade.

Inclusive, esse é o ponto que Georgia Kayla Mackenzie mais gostou na história – ainda que se tratando do primeiro filme. “Além de ser estrelado pela Joey King, que é uma das minhas maiores inspirações, o que eu mais gosto é da amizade entre a Elle e o Lee. O modo como eles compartilham os melhores e piores momentos juntos, incluindo o aniversário, tem uma ligação maior do que qualquer outra no filme. Eles são quase como gêmeos e eu acho incrível. Sempre sonhei com uma amizade tão verdadeira e pura quanto a deles”.

A Barraca do Beijo 2‘ já está disponível na Netflix. Clique aqui para encontrar mais informações sobre o filme, ver o trailer e encontrar o link para assistir online.