Desvalorização do real faz Netflix patinar na América Latina Desvalorização do real faz Netflix patinar na América Latina

Desvalorização do real faz Netflix patinar na América Latina

Hoje, a menor receita em dólar por usuário da Netflix em todo o mundo é na América Latina

20 de outubro de 2020 19:14

A desvalorização do real frente ao dólar não tem apenas impacto na inflação dos aluguéis (o IGP-M) e no custo dos alimentos para os brasileiros. Sobra, também, para a Netflix. Nesta terça (20), a gigante do streaming divulgou o mais recente relatório trimestral de resultados, comemorando a marca de 195 milhões de assinantes globais. Porém, teve uma região do mundo em que a empresa com sede em Los Gatos, Califórnia, patinou em termos de receita: a América Latina. Em grande parte, culpa da nossa moeda.

Até 1º de outubro de 2020 (os resultados da Netflix divulgados hoje são até 30 de setembro), o real havia perdido 40% de seu valor frente ao dólar americano no ano. De acordo com a Reuters, foi a maior desvalorização monetária em uma lista de 30 países acompanhados pela agência. No começo do 2020, US$ 1 equivalia a R$ 4,0232. No dia 1º, o valor estava em R$ 5,6546. Nesta terça, a moeda americana fechou em R$ 5,611.

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Por ser uma empresa americana, a Netflix contabiliza em seu balanço o ARPU (sigla em inglês para Average Revenue Per User, ou seja, o quanto recebe de cada assinante) em dólares. De acordo com o relatório mais recente, esse valor na América Latina foi de US$ 7,27 no último trimestre. Trata-se do menor ARPU da empresa em todo o mundo. Nos Estados Unidos e Canadá, por exemplo, o valor chega a US$ 13,40.

Sede da Netflix em Los Gatos, Califórnia (Foto: divulgação / Netflix)

Há um ano, a receita por usuário obtida pela Netflix na nossa região era de US$ 8,63. Por isso, mesmo com um crescimento expressivo de usuários na América Latina no período (de 29,38 milhões para 38,32 milhões), a receita trimestral nessa região do globo cresceu em menor ritmo: de US$ 741 milhões para US$ 789 milhões.

Com a contribuição do real, a receita média por usuários de todo o mundo da Netflix diminuiu 1,6% entre agosto e outubro.

A tendência, inclusive, é a América Latina cair para a rabeira financeira da Netflix. Por questões burocráticas, o balanço da empresa divide o mundo em quatro grandes regiões – e a América Latina é, neste momento, a terceira em faturamento. Porém, a APAC (Ásia e Pacífico) pulou nos últimos 12 meses de uma receita trimestral de US$ 382 milhões para nada menos de US$ 635 milhões. Lá, o ganho por usuário é de US$ 9,20.

Em todo o mundo, a empresa americana fechou o trimestre com uma receita de US$ 6,436 bilhões (quase de R$ 36 bilhões).

Netflix “barata” na América Latina

Fazendo uma conversão simples, o valor padrão da assinatura da Netflix no Brasil, R$ 32,90, rende hoje um faturamento de apenas US$ 5,86 para a empresa de video on demand. Na prática, são os outros países que estão evitando uma queda maior no balanço da empresa na América Latina.

A América Latina é um importante mercado para a Netflix
O ator brasileiro Rodrigo Santoro em ‘Power’ (Foto: Reprodução / Netflix)

Vale dizer que 2020 também não tem sido um ano fácil para outras moedas importantes na nossa região. O México, outro mercado relevante na América Latina, viu o seu peso mexicano perder muito valor a partir de março, no auge da pandemia. No entanto, a moeda se recuperou a partir do final de maio, recompondo parte do tombo – ainda que continue desvalorizada em relação a um ano atrás.

No México, essa desvalorização e a aplicação de um novo imposto local elevaram a assinatura padrão da Netflix duas vezes em tempos recentes. Hoje, a mensalidade padrão por lá sai por 196 pesos mexicanos – US$ 9,29 ou R$ 51,92, em valores atualizados.

Resta saber, agora, se a Netflix irá repassar para os consumidores brasileiros a desvalorização do real. O valor de R$ 9,90 cobrado pelo Amazon Prime (que inclui o Prime Video) e a promessa de um Disney+ por cerca de R$ 20 podem turbinar a competição e segurar os valores atuais por mais tempo.

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