Disney+, Star+, Hulu e muito mais: a estratégia da Disney para a guerra do streaming Disney+, Star+, Hulu e muito mais: a estratégia da Disney para a guerra do streaming

Disney+, Star+, Hulu e muito mais: a estratégia da Disney para a guerra do streaming

Durante o Investor Day, a Disney abriu de vez todas as suas armas e apresentou uma nova plataforma de video on demand para o Brasil

11 de dezembro de 2020 11:14
- Atualizado em 23 de dezembro de 2020 10:35

The Walt Disney Company revelou as suas armas e estratégias para aquela que é a batalha que está ditando o presente e determinará o futuro da indústria do entretenimento: a guerra do streaming. Ontem, 10, o grupo trouxe todos esses detalhes em uma longa apresentação, de mais de quatro horas, no Disney Investor Day, evento com foco nos investidores – mas que teve muitas informações para o público final.

A principal notícia para nós brasileiros foi, claro, uma já aguardada: o anúncio da chegada do Star+. A nova plataforma de streaming por assinatura irá atracar na América Latina em junho de 2021.

Bob Chapek, CEO da Disney, no Investor Day de 2020 (Imagem: reprodução / Disney)

Não é só isso: haverá também o Star, uma sexta marca de conteúdos dentro do Disney+ que estará disponível na Europa e em outros mercados.

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Porém, como tudo isso se encaixa nessa miríade de opções do grupo do Mickey? O que é cada plataforma e para quem estará disponível? Vamos, aqui, explicar.

Disney+

Esse você já conhece: o Disney+ foi lançado nos EUA no final do ano passado e chegou ao Brasil agora em novembro. De acordo com anúncio feito no próprio Investor Day, a plataforma de video on demand chegou a 86 milhões de assinantes em todo o mundo. A Netflix, que lançou o seu streaming em 2007, tem hoje 195 milhões de membros pagantes.

O Disney+ é, até agora, a única plataforma da Disney efetivamente pensada para ser global (Imagem: divulgação / Disney)

Como você já deve ter percebido usando o Disney+, o serviço é pensado para ser “família”. Os conteúdos ali são para ter apelo para todos, desde crianças a adultos. Além disso, a plataforma é ancorada em cinco grandes marcas, que funcionam como verticais para os filmes e séries disponíveis: Disney, Marvel, Star Wars, Pixar e National Geographic.

Esta é, também, a única plataforma de streaming por assinatura da Disney efetivamente pensada para ser global.

Na parte final do Investor Day, ao responder perguntas da imprensa, foi esclarecido que, apesar de algumas críticas, não se trata de uma plataforma de streaming para crianças. E que, inclusive, a maior parte dos assinantes são pessoas sem filhos.

Premier Access

O Premier Access é a estratégia para lançar filmes que, antes da pandemia, eram pensados para os cinemas, mas, com exibidores fechados, tiveram que ser lançados no Disney+. ‘Mulan‘ foi o primeiro caso, chegando aos assinantes da plataforma por uma cobrança adicional de US$ 30, caso quisessem. No Brasil, o filme foi lançado depois e sem qualquer custo a mais.

O próximo longa-metragem que chegará ao Disney+ no mesmo formato é ‘Raya e o Último Dragão’. O filme animado será lançado nos cinemas e no streaming no mesmo dia.

‘Raya e o Último Dragão’ terá lançamento simultâneo nos cinemas e no Disney+ (Imagem: divulgação / Disney)

Sobre a estratégia, os executivos da Disney informaram que “funcionou muito bem durante a pandemia” e que a intenção é ganhar mais experiência com o formato e ver “como será no mundo com covid e no mundo pós-covid”. Mais de uma vez, a empresa deixou claro que está de olho não só no cenário da pandemia, mas na mudança de comportamento que ela está gerando no público.

Além disso, o Disney+ continuará tendo outros conteúdos exclusivos, pensados originalmente para a plataforma ou transplantados para lá por causa da covid, independente do Premier Access. ‘Soul’, por exemplo, chega agora em dezembro.

Vale dizer que, na semana passada, a WarnerMedia anunciou algo parecido com os filmes de cinema no HBO Max – mas sem qualquer cobrança adicional para quem já é assinante. A notícia, no entanto, deixou muita gente irritada no estúdio.

Hulu

Você já deve ter ouvido falar, em algum momento, do Hulu. A plataforma de streaming que só existe nos EUA foi fundada em 2007 por meio de uma joint venture de diversos grupos de mídia. Hoje, 67% do serviço é da Disney – que é a única a atualmente ditar os seus rumos.

O Hulu tem um formato bem diferente daquele que estamos acostumados: há a opção de assinar um plano básico, com publicidade e mais barato, ou um mais caro, sem qualquer anúncio. Além disso, há opção de adicionar canais ao vivo, formato parecido com o que o Globoplay começou a fazer recentemente.

Na prática, o Hulu preenche um espaço no streaming que não é ocupado pelo Disney+, trazendo uma programação para nichos específicos e sem a preocupação de ter apelo para toda a família. Também não há a divisão por grandes marcas da plataforma irmã.

No Investor Day, a Disney deixou nas entrelinhas que o Hulu não será internacionalizado – não, ao menos, dentro dos planos que possuí hoje. É uma plataforma de streaming que faz sentido dentro do solo dos Estados Unidos.

ESPN+

O ESPN+ é a plataforma de streaming esportiva dentro da estratégia da Disney para os EUA. Não pense nela como uma versão “go” dos canais lineares: o serviço é vendido à parte e foram anunciadas séries exclusivas para lá.

Ao menos pela estratégia adotada hoje, o ESPN+ não virá para o Brasil – explicaremos a seguir o que teremos no lugar.

Disney+ Hotstar

Quem viu a apresentação do Disney Investor Day pode ter se surpreendido com uma plataforma que nunca ouviu falar antes: o Hotstar.

Rebecca Campbell, presidente de operações internacionais, apresenta o Disneu+ Hotstar (Imagem: reprodução / Disney)

Originalmente lançado pela empresa Star na Índia em 2015, a plataforma foi comprada pela Disney em 2019. O motivo foi entrar no mercado indiano de streaming, aquele que talvez seja o mais aquecido e competitivo do mundo.

Se antes o Hotstar era conhecido por conteúdos como a Premiere League de críquete indiana, o conteúdo do SVOD foi combinado com o do Disney+, se transformando em Disney+ Hotstar. Hoje, é considerado o serviço de streaming mais popular da Índia. Há uma versão grátis e o serviço pago custa a partir de 399 rúpias por ano – ou por volta de 27 reais. Isso dá uma mensalidade de R$ 2,25.

Antes de virar Disney+, o Hotstar foi lançado na América do Norte e, já como Disney+ Hotstar, chegou à Indonésia.

Star

O Star é, de certa forma, a expansão do conceito do Hotstar para outros países. Inclusive, Star é justamente o nome da empresa indiana que a Disney adquiriu para ter o Hotstar em seu portfólio.

Em parte da Europa Ocidental, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Singapura, o Star será adicionado como uma quinta marca dentro do Disney+ já a partir de 23 de fevereiro. Para vê-lo, o usuário terá que mexer nas configurações de idade da sua conta – e haverá até senha para desbloquear esse conteúdo.

A Disney quer evitar que as crianças acessem os conteúdos do Star dentro do Disney+ (Imagem: reprodução / Disney)

Como essa sexta marca, o Star trará conteúdos de catálogo e produções novas que não tenham o mesmo apelo “família” de toda a plataforma – um exemplo mostrado na apresentação foi o filme ‘A Forma da Água‘. Por isso a separação.

Para comportar a entrada de mais conteúdo, haverá um aumento de preço de dois euros no Disney+ na Europa.

Star+

É aqui que as coisas começam a ficar um pouco confusas. Na América Latina não haverá a adição do Star ao Disney+, mas sim a criação de uma outra plataforma, totalmente separada, chamada Star+. A assinatura também será feita à parte.

O slide da apresentação que introduziu o Star+ (Imagem: reprodução / Disney)

Na nossa região, o Star+ terá tudo aquilo que é conteúdo da Disney e que não entrou no Disney+. Ou seja, muita coisa que veio do catálogo da 21st Century Fox, adquirida há alguns anos. ‘Kingsman: Serviço Secreto’ chegou a surgir, rapidamente, como um exemplo de filme que estará disponível por lá, além da série ‘Lost’.

Além disso, o serviço terá esportes ao vivo – e, nos intervalos dessas transmissões, publicidade. Explica-se: o leilão por direitos esportivos sai muito mais caro do que aquele que existe por filmes e séries.

Hoje, a Disney é dona na América Latina não só dos canais ESPN, mas também do Fox Sports, o que adiciona bastante conteúdo esportivo ao serviço logo de cara. Para o mercado argentino, está previsto cerca de 500 eventos ao vivo por mês, e 10 mil por ano.

Como será o visual do Star+, com filmes, séries e esportes (Imagem: reprodução / Disney)

Na prática, o Star+ existirá no Brasil para a mesma faixa de público que Hulu e ESPN+ ocupam nos EUA: conteúdo para nichos, mais adulto e muito esporte. Dessa forma, atendem a perfis mais diversos de assinantes.

O lançamento do Star+ por aqui será em junho de 2021 e a Disney estima que o preço será por volta de US$ 7,50 – hoje, quase R$ 40.

Pacotes de assinatura

Mais de uma vez, a Disney deixou claro na apresentação que os bundles, ou “pacotões”, são parte importante dessa estratégia para o VOD. “Flexibilidade” foi um mantra repetido diversas vezes.

Nos EUA já existe um bundle de Disney+, ESPN+ e Hulu. O pacote que existe no Brasil, com Disney+ e Globoplay, foi rapidamente citado como outro exemplo. Quando chegar ao nosso país, o Star+ também poderá ser adquirido em conjunto com o Disney+. Tudo isso com desconto na assinatura casada, claro.

No final da apresentação, a Disney indicou que pretende cobrar por volta de US$ 9 na América Latina pelo pacote com Disney+ e Star+, o equivalente a R$ 45. Ao que parece, a ideia é fazer a assinatura do bundle mais atrativa do que a aquisição separada.

Onde a Disney quer chegar?

Com todos esses caminhos e essa estratégia rebuscada, a Disney quer alcançar a marca total de 300 a 350 milhões de assinantes no final do ano fiscal (dos EUA, que acaba em 30 de setembro) de 2024. Além disso, informaram aos investidores que eles não vão contar duas ou três vezes aqueles usuários que assinam os bundles. O assinante do pacote será contabilizado apenas uma vez.

Disney+ e suas cinco marcas: Disney, Pixar, Marvel, Star Wars e National Geographic
As cinco marcas que são a base do Disney+ (Imagem: divulgação / Disney)

O número é ambicioso, mas factível. O Hulu está quase nos 39 milhões de assinantes, enquanto o Disney+ já passou dos 85 milhões – sendo por volta de 30% no Disney+ Hotstar, que tem outros 300 milhões de usuários na modalidade grátis. O isolamento social causado pela pandemia da covid-19 acelerou a mudança de comportamento das pessoas em relação ao streaming, e a adesão os serviços deve continuar crescendo.

O ano de 2024 é, também, quando o Disney+ e as outras plataformas irmãos passarão a dar lucro, prevê a empresa.

Conteúdo no centro

Além dos chamados serviços DTC (sigla, em inglês, para “direto ao consumidor”, que é como a empresa encara o streaming), a Disney focou bastante nos conteúdos para essas plataformas. Evocou até o exemplo de Walt Disney, que dizia que a narração de histórias estava no centro de tudo.

Por isso, diversos filmes e séries foram anunciados – teremos muitas produções dentro do universo de Star Wars e da Marvel no Disney+ nos próximos anos, por exemplo. Essa é uma vantagem da empresa do Mickey: o forte portfólio de “propriedades intelectuais”, como gostam de chamar as marcas e franquias reconhecidas pelo público.

Com isso, eles estimam que devem investir algo entre US$14 a US$ 16 bilhões na produção de conteúdo também até o final do ano fiscal de 2024.

Chapek apresenta o famoso organograma de Walt Disney: as histórias (e os filmes de cinema) ao centro de tudo (Foto: reprodução / Disney)

Isso não quer dizer que deixarão de lado a tela grande. “Nós criamos essas franquias por meio dos cinemas”, disse Bob Chapek, CEO da Disney. Porém, o executivo deixou claro que a pandemia chacoalhou as coisas, que tiveram que olhar o que estava acontecendo e a mudança de comportamento que veio junto. “Flexibilidade será muito importante pra gente [nos lançamentos dos cinemas e no streaming].”

Todas as armas da Disney agora estão na mesa – e o grupo já demonstrou que tem cacife para botar em prática um plano tão audacioso. Resta saber, agora, quais serão as cenas dos próximos capítulos – incluindo os contra-ataques dos concorrentes.

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