Em ‘Os 7 de Chicago’, Aaron Sorkin traz frescor aos “filmes de tribunal” Em ‘Os 7 de Chicago’, Aaron Sorkin traz frescor aos “filmes de tribunal”

Em ‘Os 7 de Chicago’, Aaron Sorkin traz frescor aos “filmes de tribunal”

Um dos destaques da Netflix em 2020, ‘Os 7 de Chicago’ foca na história de um processo real para apontar para injustiças cometidas em instituições oficiais

Matheus Mans   |  
16 de outubro de 2020 10:06
- Atualizado em 20 de outubro de 2020 12:09

Ainda que não seja um gênero cinematográfico propriamente dito, os “filmes de tribunal” se tornaram histórias queridas por parte do público. Muito por conta de grandes produções como ‘Doze Homens e uma Sentença’, ‘O Sol é Para Todos’ e ‘Advogado do Diabo‘. Agora, após um hiato de bons filmes desse subgênero, o roteirista e diretor Aaron Sorkin (escritor de ‘A Rede Social‘) traz um frescor aos tribunais com ‘Os 7 de Chicago‘.

O filme, que é uma produção exclusiva da Netflix, conta a história real de oito indivíduos — e que depois se tornariam sete, por conta de várias trapalhadas do tribunal — acusados pelo governo dos Estados Unidos de incitar a população durante um protesto. Formação de quadrilha e vandalismo estão entre as acusações proferidas pelo promotor, que no longa-metragem é vivido por Joseph Gordon-Levitt, de ‘(500) Dias com Ela‘.

Sorkin comanda uma trama vigorosa, ainda que seja quase que completamente contada nas mesas de um tribunal (Crédito: Divulgação/Netflix)

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Ao contrário da maioria das produções desse subgênero, Sorkin opta por não criar uma trama realmente consistente fora das paredes do tribunal. Quase tudo que transcorre fora dali são apenas flashbacks ou sequências realmente rápidas. Assim como o clássico ‘Doze Homens e uma Sentença’, o foco é o processo em si. É mostrar a organização do advogado de defesa (Mark Rylance), as trapalhadas do juiz (Frank Langella) e coisas do tipo.

Injustiças em ‘Os 7 de Chicago’

Dessa forma, Aaron Sorkin exclui qualquer possível distração do caminho. O foco é mostrar como, mesmo na Justiça, erros são cometidos. No caso deste filme, partindo desde a acusação da promotoria com foco totalmente político até a condução do juiz, que começa o processo de maneira completamente parcial. Assim como ‘O Sol é Para Todos’, é difícil não sentir raiva de como a história vai se desenvolvendo e aparecendo na tela.

Mark Rylance (terceiro, da esq. para dir.) acaba sendo o elo entre o espectador e o “juridiquês” de todo o processo (Crédito: Divulgação/Netflix)

E para não deixar a produção cansativa, Sorkin acaba apostando suas fichas em uma edição inteligente — ao melhor estilo de Adam McKay, de ‘A Grande Aposta’. Falas são completadas por personagens diferentes, perguntas feitas no tribunal são respondidas com flashbacks e coisas do tipo. Além isso, o didatismo do processo acaba concentrado no personagem de Mark Rylance (vencedor do Oscar por ‘Ponte dos Espiões‘, em cima de Sylvester Stallone).

Por fim, Sorkin faz alterações pontuais em cima do material original e real. O personagem de Sacha Baron Cohen (do vindouro ‘Borat: Fita de Cinema Seguinte‘), por exemplo, acaba ganhando um ar muito mais cômico do que era, de fato, sua real personalidade. E alguns abusos cometidos pelo juiz no caso não foram realmente daquela maneira — ainda que a cena mais chocante do filme, envolvendo uma mordaça, tenha acontecido de fato.

Trilhando caminho para o Oscar

Mesmo que o filme ainda esteja “quentinho” no catálogo da Netflix, o burburinho de Oscar já começa a circular — ainda mais em um ano fraco, com muitas incertezas, como já comentamos anteriormente. Ainda que tenha força para concorrer em categorias principais, como Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro, o grande destaque do longa-metragem fica por conta das atuações, principalmente em um elenco cheio de estrelas.

Elenco é o grande destaque do longa-metragem, com foco em Mark Rylance e Sacha Baron Cohen (esq.) (Crédito: Divulgação/Netflix)

Rylance e Baron Cohen são os destaques absolutos em cena e ganham alguns pontos na corrida pela premiação, ainda que o ator de ‘Borat’ não seja realmente querido pela Academia por conta de problemas passados. Eddie Redmayne, que já faturou uma estatueta do Oscar por ‘A Garota Dinamarquesa’, também ganha força por sua “atuação cara limpa”, sem maquiagem ou uma caracterização mais extensa. A primeira desde ‘Sete Dias com Marilyn’.

Frank Langella (de ‘Frost/Nixon’) também se destaca como um juiz absolutamente inescrupuloso. Talvez seja lembrado também por conta da carreira. De resto, Alex Sharp, Jeremy Strong, John Carroll Lynch e Yahya Abdul-Mateen II estão bem, mas nada que roube a cena. O fato, enfim, é que ‘Os 7 de Chicago’ é uma das surpresas da temporada. Potente e, ainda que fale de um caso dos anos 1960, continua a ressoar na sociedade de hoje.

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