‘Depois a Louca Sou Eu’ “é a história da geração Rivotril” ‘Depois a Louca Sou Eu’ “é a história da geração Rivotril”

‘Depois a Louca Sou Eu’ “é a história da geração Rivotril”

Em entrevista, a diretora Julia Rezende conta mais sobre o filme – que é estrelado por Débora Falabella e explora as ansiedades da vida moderna

Matheus Mans   |  
2 de março de 2021 11:26
- Atualizado em 3 de março de 2021 15:08

Depois a Louca Sou Eu’ estava naquela leva de filmes que deveriam ter estreado ainda no começo de 2020. No entanto, a pandemia varreu tudo para um futuro mais distante e incerto. Ficou quase um ano na gaveta. Agora, o longa-metragem finalmente está em cartaz nos cinemas. E, por incrível que pareça, o atraso fez bem ao longa, que está mais atual do que nunca.

Afinal, a história adaptada do livro homônimo de Tati Bernardi fala de um tema importantíssimo: a ansiedade. Espécie de representação da vida da própria autora, a protagonista Dani (Débora Falabella) não consegue levar uma vida sem preocupações. Com ataques severos de ansiedade, ela fica imóvel, congelada, até em momentos que deveriam ser apenas de prazer.

Débora Falabella é a protagonista da dramédia nacional ‘Depois a Louca Sou Eu’ (Crédito: Divulgação/Paris Filmes)

A partir daí, a diretora Julia Rezende (do excepcional ‘Ponte Aérea’) conta a história dessa mulher enfrentando o dia a dia e buscando meios de levar uma vida “normal”, sem os sustos e atropelos da ansiedade. “É a história de uma geração, da geração Rivotril. Todo mundo está medicado, com ansiedade”, contou a diretora durante coletiva de imprensa esta semana.

Entre o drama e a comédia

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Obviamente, ‘Depois a Louca Sou Eu’ não é o primeiro filme a falar sobre ansiedade e seus efeitos. Recentemente, ‘Vou Morrer Amanhã’ mergulhou no tema numa mistura de drama e fantasia para mostrar essa “outra pandemia”.  No entanto, este novo filme nacional acaba mirando em produções mais leves, como ‘As Vantagens de Ser Invisível’ e ‘Oitava Série’.

“A gente consegue retratar com humor uma história muito dramática de uma mulher tentando sobreviver a si mesma. É uma personagem muito forte. Apesar de toda a angústia que a paralisa, ela sempre está indo em frente”, continua Julia Rezende, falando sobre a adaptação. “Com o filme, abrimos diálogo com pessoas que passam por isso e nem sabem o que é”.

Para compor o clima do filme, Rezende apostou em muitos flashbacks. Alguns mais longos, como os que mostram os pais e avós da protagonista tentando lidar com a ansiedade de Dani quando era apenas uma criança. Outros, que duravam apenas alguns pouquíssimos segundos, mostravam cenas ágeis da personagem em situações de estresse, ansiedade, nervoso.

Com isso, segundo a produtora Mariza Leão (da franquia ‘De Pernas pro Ar’), foram necessárias mais de 70 locações e mais de 75 figurinos de Dani.

Além disso, há uma narração da própria protagonista ao longo do filme. Isso, apesar de cansar em alguns momentos, trazia um distanciamento interessante dos fatos. Afinal, a personagem estava sofrendo em cena e não dava pra fazer humor com aquilo. A narração, porém, permitia algumas observações mais ácidas sobre o dia a dia conturbado de Dani.

“No começo, tinha a imagem de que a personagem era a própria Tati [Bernardi]. Mas quando o roteiro chegou, vi que eram personagens diferentes. Tinha que criar minha própria personagem”, conta Falabella. “Várias coisas formaram a personagem. Além de experiências pessoais, experiências de amigos que passaram por isso. Tive muitas referências”.

‘Depois a Louca Sou Eu’ no tempo certo

Assim, o filme acabou ficando “mais vivo” com a pandemia. Afinal, a quarentena e o distanciamento social, além da imprevisibilidade do que vai acontecer em nossas vidas, aumentou os casos de ansiedade. Segundo uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, a ansiedade é o transtorno mais presente durante a pandemia de Covid-19 aqui no Brasil.

Filme fala sobre um sentimento que ganhou força com a pandemia do novo coronavírus (Crédito: Divulgação/Paris Filmes)

“É um assunto que está em pauta”, comenta a diretora. “Todo mundo está querendo falar de ansiedade, de saúde mental. E temos uma protagonista feminina muito forte, com liberdade sexual nas relações. São assuntos que estão em discussão e em voga em todo esse tempo da pandemia. Vai ser bom quando o público assistir e levantar discussões que o filme traz”. 

Além disso, o filme traz uma provocação desde o título: será que realmente a “louca” é a Dani? A resposta não é simples. “Todos ao redor da Dani são disfuncionais. O médico, a mãe, o namorado, a analista… Mas só ela é taxada de louca”, diz Julia. “É interessante ver como a mulher é reduzida, sendo que esse tipo de angústia paralisante acontece com todos”.

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