“É um grito de desespero”, diz Robert Guédiguian sobre ‘O Mundo de Gloria’ “É um grito de desespero”, diz Robert Guédiguian sobre ‘O Mundo de Gloria’

“É um grito de desespero”, diz Robert Guédiguian sobre ‘O Mundo de Gloria’

O Filmelier entrevistou o diretor do Intenso e provocativo ‘O Mundo de Gloria’, que conta a história de uma família em uma França moderna e vazia de oportunidades

Matheus Mans   |  
25 de fevereiro de 2021 15:23
- Atualizado em 26 de fevereiro de 2021 10:39

A garotinha que dá título ao filme ‘O Mundo de Gloria’ não tem uma única fala sequer. Na verdade, aparece apenas de relance algumas vezes, trazendo certa graciosidade à tela. Afinal, ela é uma bebê, recém-nascida, que não tem ainda consciência do mundo que a cerca. E é a crueldade e a beleza dessa ignorância que Robert Guédiguian quer mostrar ao público.

Dono de uma filmografia vasta, com filmes como ‘A Cidade Está Tranquila’, e o recente ‘Uma Casa à Beira Mar’, Guédiguian traz ecos de Ken Loach e Hirokazu Koreeda neste seu novo longa-metragem, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 25. Afinal, ‘O Mundo de Gloria’ quer falar sobre a ausência de oportunidades que afeta gerações após gerações.

Cena de O Mundo de Gloria
Em ‘O Mundo de Gloria’, a sensação é de ausência completa de oportunidades (Crédito: Divulgação/Imovision)

O avô de Gloria acabou de sair da prisão, sem nunca ter conquistado nada em sua vida. A avó se desdobra em dois trabalhos enquanto luta até com sindicatos para não correr o risco de ser demitida. A mãe não tem oportunidades de trabalho e o pai, coitado, só consegue viver como Uber — e olhe lá. E há os tios, que parecem bem-sucedidos, mas só na superfície.

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Claramente, Guédiguian constrói uma narrativa triste, quase depressiva, que busca segurar a cabeça do espectador, balançá-la e alertar: a vida dos avós não foi boa, a dos pais não é boa. Como será a de Gloria? “É um grito de desespero pela vitória do egoísmo de todos os tipos que rege nossas sociedades, até nas classes trabalhadoras”, resume o diretor em entrevista exclusiva ao Filmelier.

Pessimismo de ‘O Mundo de Gloria’

Esse olhar mais “pra baixo”, tão claro no cinema mais recente de Guédiguian, parece algo que está começando a ganhar corpo não só na sétima arte francesa. Já citados, Ken Loach e até Hirokazu Koreeda trouxeram esse olhar preocupado sobre classes sociais. O primeiro com ‘Você Não Estava Aqui’ e ‘Eu, Daniel Blake’. O outro, ‘Assunto de Família’.

Assim como Ken Loach, Robert Guédiguian é um cineasta que tem investido cada vez mais no cinema social e de denúncia (Crédito: Valentine Guédiguian/WikiCommons)

São histórias que alertam para a displicência com pessoas à margem, sem oportunidades. Na França, há mais casos de filmes que estão miram essa discussão, como ‘Em Guerra’ e ‘Filles de joie’. “É um cinema internacional que me faz sentir próximo desses cineastas”, diz o diretor. “Mas, felizmente, por sermos de países diferentes, os filmes ganham novas formas”.

E para construir esse tipo de história, Guédiguian alerta que é preciso tomar cuidado com a narrativa e a forma de contar a jornada daquelas pessoas. “Precisava fazer um filme que o espectador não condenasse os personagens, mas a sociedade que produz tal comportamento”, diz.  “O cinema deve criticar o tempo presente e anunciar os novos tempos”. 

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