‘Missão Planeta Terra’: a aventura que deu errado, mas que pode nos inspirar ‘Missão Planeta Terra’: a aventura que deu errado, mas que pode nos inspirar

‘Missão Planeta Terra’: a aventura que deu errado, mas que pode nos inspirar

Matt Wolf, diretor do documentário ‘Missão Planeta Terra’, reflete sobre todas as facetas do fracassado Projeto Biosfera 2

6 de novembro de 2020 14:12
- Atualizado em 9 de novembro de 2020 17:29

Quando pesquisamos qualquer coisa sobre o Projeto Biosfera 2, é inevitável: as imagens que saltam aos olhos são recheadas de bizarrices. Afinal, os participantes desse tal projeto vestem macacões vermelhos vindos direto de um filme de ficção científica. Ao fundo, uma colossal pirâmide de vidro cria ainda mais confusão. O que raios está acontecendo aqui? O que é isso?

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Foi essa curiosidade que também saltou aos olhos de Matt Wolf, documentarista norte-americano experiente e que acaba de lançar mais um título seu no Brasil com ‘Missão Planeta Terra‘. No filme, ele analisa o Projeto Biosfera 2, iniciativa da empresa Space Biosphere Ventures, no início dos anos 1990, que queria recriar a Terra no deserto do Arizona.

Imagem de 'MIssão Planeta Terra'
Fotos do Projeto Biosfera 2 parecem saídas de um filme de ficção científica (Foto: Divulgação/Synapse)

“Eu fiz muitos filmes com imagens de arquivo. Estava fazendo pesquisas para me inspirar quando me deparei com essas imagens. Parecia ficção científica”, conta Matt Wolf em entrevista ao Filmelier. “Nesse momento, eu entendi que essa história épica estava completamente esquecida. Foi aí que resolvi fazer o filme, recuperar os detalhes e contar a história do projeto”.

Detalhes do Projeto Biosfera 2

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Ao se aprofundar nos detalhes do projeto, muito bem esmiuçados no documentário de Wolf, a história fica ainda mais interessante e empolgante. Afinal, começou como um experimento com objetivos financeiros, em que a tal empresa Space Biosphere Ventures iria se valer de ecossistema artificial instalado no coração do deserto do Arizona para compreender a Terra.

Seria, assim, um projeto que entregaria aos pesquisadores uma massiva quantidade de material para compreender a sociedade, o ecossistema e o ser humano em si. “Os oito selecionados para integrar o projeto foram responsáveis por criar suas próprias atmosferas e produzir a própria comida para subsistir. Deveriam reimaginar o mundo”, complementa Wolf.

Imagem de 'Missão Planeta Terra'
A biosfera, cravada no coração do deserto do Arizona, existe mesmo trinta anos depois (Foto: Divulgação/Synapse)

No entanto, apesar da expectativa de ser uma experiência de um século, o Projeto Biosfera 2 existiu por apenas dois anos, entre 1991 e 1993. O projeto, afinal, foi por água abaixo. “Mais do que um experimento científico, foi um espetáculo de teatro que atraiu a mídia em todo o mundo. Muitas coisas acabaram sendo plantadas e o projeto foi considerado um fracasso”, afirma.

Os “tripulantes” não conseguiram cuidar de todo o complexo e, ainda, cuidar deles próprios. O isolamento acabou se revelando fraudulento e a composição do ar atingiu níveis baixos de oxigênio. A riqueza do solo levou à proliferação de microrganismos, as plantas foram mortas por pragas e das 26 espécies no local, só seis sobreviveram — incluindo muitas, muitas baratas.

O filme ‘Missão Planeta Terra’

Para contar essa história e deixá-la saborosa na tela, Wolf não ficou no lugar comum, nem quis contar a história de maneira totalmente linear — como o cineasta já fez em filmes elogiados, como ‘Wild Combination’ e ‘Teenage’. Primeiramente, deixou ao seu lado um vasto material de arquivo para cobrir todas as histórias e subtramas dentro do Projeto Biosfera 2.

Imagem de 'Missão Planeta Terra'
Matt Wolf buscou diversas maneiras para contar a história dos oito “tripulantes” na Biosfera (Foto: Divulgação/Synapse)

“O material veio de diferentes fontes. Tivemos sorte de ter tanto arquivo”, comemora o cineasta. Ao ser questionado sobre a forma de contar essa história, Wolf explica. “Nós não focamos apenas na missão, fomos muito além disso. Falamos das origens da Biosfera. Queríamos criar uma metáfora, reimaginando o mundo e suas possibilidades”, completa Matt.

E será que teríamos um mundo diferente hoje se a Biosfera tivesse funcionado? “Acho que não. Mas teríamos muitas ideias sobre mudanças climáticas e como as pessoas poderiam viver juntas”, diz. “Quando eu fiz o filme, eu estava pensando nas mudanças climáticas. Com a quarentena, eu imagino que o filme seja instrutivo sobre o que significa ter um novo normal. O normal de antes não era sustentável, era injusto e destrutivo. Espero que agora tenhamos um mundo muito mais justo e sustentável”.

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