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‘Uma Máquina para Habitar’ e ‘City Hall’ discutem a dinâmica de grandes cidades
Filmes exibidos na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, trazem diferentes olhares sobre o funcionamento de grandes centros urbanos no Brasil e nos EUA
Se é difícil fazer um documentário biográfico sobre uma única pessoa, imagine a tarefa de falar sobre uma cidade. São diferentes características, fatos e histórias que precisam ser compreendidas em um curto espaço de tempo. É um trabalho difícil. No entanto, na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, dois excelentes filmes se arriscaram nesse caminho.
Primeiramente, o americano ‘Uma Máquina para Habitar’. Apesar da nacionalidade, este ótimo documentário experimental fala sobre Brasília e suas diferentes facetas. Estão ali, a partir de diferentes perspectivas e olhares, a arquitetura, os grandes espaços entre prédios, a população, a política, o misticismo das religiões do Centro-Oeste. Enfim, tudo da capital.
Por outro lado, quase que num sentido diametralmente oposto ao de ‘Uma Máquina para Habitar’, está o colossal ‘City Hall’. Com mais de 4h30 de duração, o documentário do celebrado diretor nonagenário Frederick Wiseman (de ‘National Gallery’) busca retratar os mais diferentes olhares na prefeitura de Boston, seja da agenda do prefeito ou pequenas tarefas.
Aspereza de ‘City Hall’
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Assim, enquanto ‘Uma Máquina para Habitar’ é experimental, poético e artístico, ‘City Hall’ busca a crueza e a aspereza do dia a dia de uma prefeitura. O tamanho exagerado do filme não é à toa. A partir desse formato, Wiseman traz dois sentimentos. Primeiro, o cansaço do espectador com a burocracia. Por outro, a valorização da humanidade de cenas. Afinal, após a exibição de longas sequências sobre blá-blá-blá político, reuniões que não importam ninguém e burocracias sem fim, Wiseman nos recompensa em pequenas doses com pessoas amando, se emocionando, se encontrando, se entendendo. Mostram como a política e a burocracia vão na contramão natural de nós, seres humanos, como seres pensantes. Em especial, destaque para uma cena, já na quarta hora de projeção do longa-metragem, quando um grupo de moradores de um bairro pobre de Boston discute a instalação de uma loja de maconha na região. As emoções saltam na tela. E, dessa forma, uma sequência de apenas vinte minutos se torna potente em comparação com todas as quatro horas restantes do filme.
Arte de ‘Uma Máquina para Habitar’
Enquanto isso, ‘Uma Máquina para Habitar’ aposta no minimalismo. A arte, a poesia e o experimentalismo ganham força ao falar sobre o cotidiano e tudo que é encontrado na capital do Brasil. Nada de seguir a narrativa linear óbvia de documentários biográficos, sejam eles sobre lugares, pessoas, instituições. Aqui, Yoni Goldstein e Meredith Zielke experimentam. “Em Brasília, foi a primeira vez que senti algum tipo de alienação. Toda aquela poeira, os espaços”, conta Sebastian Alvarez, produtor do longa-metragem americano ao Filmelier. “A gente nunca teve um roteiro, a gente tinha muitas ideias. Juntamos isso, com nosso passado de arte, performance e vídeo. A gente também escrevia nossos sonhos para influenciar na trama”. Alvarez conta que o primeiro esboço do filme surgiu em 2011. Desde então, ele e os dois diretores vinham anualmente à Brasília para trazer novos olhares, filmagens e formatos. Em um ano, focavam na arquitetura. Em outro, nas pessoas. E por aí vai. No final, criaram esse mosaico intenso e curioso sobre essa cidade que desperta tantas emoções e estranhezas. Além disso, a produção do filme fugiu da política. “A gente resistiu e decidimos não filmar coisas políticas. Depois disso, nos viramos para a poesia”, conta o produtor. “Mas, entre testemunhar um plenário e um encontro religioso de incorporação, vimos que a política é um ritual religioso. E esse culto aos poderes surge em cada lugar, em cada curva”.