‘007: Sem Tempo para Morrer’ é a emotiva despedida que Daniel Craig merece ‘007: Sem Tempo para Morrer’ é a emotiva despedida que Daniel Craig merece

‘007: Sem Tempo para Morrer’ é a emotiva despedida que Daniel Craig merece

Mais do que isso: em tempos de ódio, principalmente nas redes sociais, temos a máxima representação do James Bond que ama

30 de setembro de 2021 15:46
- Atualizado em 3 de outubro de 2021 13:08

Nesta quinta (30), depois de um ano e meio de atraso por causa da pandemia da covid-19, ‘007: Sem Tempo para Morrer’ finalmente chega aos cinemas brasileiros. Se a espera foi um anticlímax para os fãs de cinema e do personagem, ao menos valeu a pena segurar a ansiedade até aqui. Mais do que qualquer coisa, o novo longa-metragem é uma merecida despedida (e homenagem!) ao James Bond de toda uma geração: Daniel Craig.

Já anunciado como último filme do ator na franquia da Eon Productions e da MGM, ‘Sem Tempo para Morrer’ é a conclusão daquele que é, sem dúvida alguma, o mais audacioso capítulo de uma cinessérie que já conta com 25 longas-metragens em quase 60 anos de história.

James Bond (Daniel Craig) e Paloma (Ana de Armas), que é um dos grandes destaques de 007: Sem Tempo para Morrer (Crédito: divulgação / MGM / Universal Pictures)
James Bond (Daniel Craig) e Paloma (Ana de Armas), que é um dos grandes destaques de ‘007: Sem Tempo para Morrer’ (Crédito: divulgação / MGM / Universal Pictures)

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“Audacioso” por um motivo simples. Historicamente, os filmes do 007 sempre flertaram com a fantasia. Quando pegamos a fase clássica, as transições entre as passagens de Sean Connery, George Lazenby e Roger Moore pelo personagem foram tratadas como uma única continuidade, sem se importar exatamente com o rosto em cena – ainda que, claro, houvesse nas tramas os registros de cada época em particular.

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Quando Timothy Dalton chegou à franquia, em meados dos anos 1980, foi a primeira grande mudança: tínhamos um Bond rejuvenescido, mas não era exatamente um reboot. Quando Pierce Brosnan assumiu o agente secreto, na década seguinte, soava como uma continuidade das histórias de Dalton.

Tudo isso mudou em 2006, quando os produtores Barbara Broccoli e Michael G. Wilson, responsáveis por esses filmes, finalmente conseguiram os direitos para adaptar ‘Cassino Royale’ (o primeiro livro do personagem escrito por Ian Fleming) e abraçaram essa possibilidade da melhor forma possível. Ali foi promovido uma clara reinicialização da franquia, com o público sendo apresentado a um Bond com uma licença para matar recém outorgada.

A partir disso, antes mesmo de universos compartilhados e estendidos se tornarem tendência em Hollywood, esse novo Bond, pela primeira vez, embarcou em filmes com uma continuidade bastante clara. Ok, talvez tenha faltado um maior planejamento – fatos como a greve dos roteiristas de 2007 e o pedido de concordata da MGM em 2009, entre outras coisas, claramente atrapalharam -, mas foi construída uma história com começo e meio.

Lashana Lynch interpreta Nomi, a nova 007 do MI6 (Crédito: divulgação / MGM / Universal Pictures)
Lashana Lynch interpreta Nomi, a nova 007 do MI6 (Crédito: divulgação / MGM / Universal Pictures)

A mesma audácia ocorreu na escolha do novo protagonista. Daniel Craig até que tinha feito alguns filmes de ação e suspense, como ‘Lara Croft: Tomb Raider’ e ‘Munique’. Porém, o ator inglês também vinha com títulos como ‘Sylvia: Paixão Além das Palavras’, ‘Amor Obsessivo’ e ‘Camisa de Força’ no currículo. Se, por um lado, ele poderia carregar nas cenas de ação física e no lado sedutor do personagem, do outro teve como agregar algumas camadas a mais no lado sentimental do agente secreto.

E assim foi feito. Ainda no final de ‘Cassino Royale’, quando o Bond de Craig é traído pela amada Vesper Lynd e fala (numa frase presente no livro de Fleming) “o trabalho está feito, a vaca está morta”, existe toda a dualidade do homem que quer se manter frio em relação ao seu trabalho, mas que por dentro está com o coração despedaçado.

Com tudo isso, o cinema do século XXI ganhou a sua representação desse personagem icônico, com os anseios do público de hoje e com a forma como filmes são feitos atualmente.

A hora e a vez de ‘007: Sem Tempo para Morrer’

Chegamos ao filme que está sendo lançado agora nos cinemas. Em vez de seguir com a história de Bond como se nada estivesse para acontecer, com Craig passando a tocha para o próximo ator a carregar a missão (como ocorreu entre Dalton e Brosnan ou entre Connery e Moore), ‘007: Sem Tempo para Morrer’ se empenha em encerrar todo o arco de histórias que foi iniciado em ‘Cassino Royale’.

Trata-se de um respeito a Daniel Craig: o ator entregou até mais do que poderia ao personagem e para sempre ficará com James Bond ligado à sua imagem, então nada mais justo que ele possa encerrar aquilo que começou.

Teria sido interessante ver mais conflitos entre Bond e o Blofeld de Christoph Waltz (Crédito: divulgação / MGM / Universal Pictures)
Teria sido interessante ver mais conflitos entre Bond e o Blofeld de Christoph Waltz (Crédito: divulgação / MGM / Universal Pictures)

Até por isso, certos pontos da trama do novo longa ficam em segundo plano. Rami Malek (‘Bohemian Rhapsody’), como o vilão Lyutsifer Safin, não é explorado da forma que poderia. Forjado a partir da busca da vingança contra a Spectre e com um plano de livrar o mundo de pessoas que (na visão doentia dele) são más, poderia ser um daqueles antagonistas que nos faz duvidar da nossa moral – e não é isso que acontece.

Tem as ações do M (Ralph Fiennes), o chefe do MI6, que são rapidamente colocadas como imorais, mas são abordadas de forma tão apressada que uma (interessante) discussão sobre a zona cinzenta das ações dos governos em conflitos acaba esquecida. Há outros furos aqui e ali no roteiro, se você quiser ser exigente. Isso mesmo com longas 2h43 de duração.

Também teria sido interessante ver mais um filme nesse universo, com mais embates contra a Spectre e o icônico vilão Ernst Stavro Blofeld (aqui mais uma vez interpretado por Christoph Waltz). Quem sabe mais dois longas, não? Até porque a chegada de Phoebe Waller-Bridge (‘Fleabag’) como roteirista entregou algumas ótimas falas ao agente secreto.

Infelizmente, a vida não é como a gente deseja. Aos 53 anos e esgotado pelo desgaste que é interpretar o 007, Daniel Craig quer (e precisa) se aposentar. Por isso, a história do novo filme não é sobre nenhum desses pontos destacados nos parágrafos anteriores. Gasta-se o tempo para fechar o ciclo e amarrar as pontas soltas, mas também para emocionar o público e deixar um subtexto sobre legado e amor.

James Bond ama - e Madeleine Swann entra para a história como o maior amor do personagem (Crédito: divulgação / MGM / Universal Pictures)
James Bond ama – e Madeleine Swann entra para a história como o maior amor do personagem (Crédito: divulgação / MGM / Universal Pictures)

Sim, porque James Bond ama. Já havia amado no passado, eu sei, mas a encarnação que se despede em ‘Sem Tempo para Morrer’ ama muito mais. Ele ama a M de Judi Dench quase que como sua segunda mãe. Ele ama Vesper Lynd, que, depois, descobrimos que se sacrificou por ele. Ele ama Felix Leiter (Jeffrey Wright), o verdadeiro irmão que nunca teve. Ele ama Madeleine Swann (Léa Seydoux), com quem finalmente – em 25 filmes! – teve momentos de felicidade um pouco mais duradoura. Ele ama até mais do que isso, mas guardarei as surpresas.

Em um mundo onde é disseminado o ódio todos os dias, onde pessoas comuns aproveitam as caixas de comentários nas redes sociais para desfilarem seus preconceitos e ferocidade, o cinema nos apresenta um James Bond que age por amor, e não simplesmente por sentimento de dever, pena ou pela adrenalina da ação.

Afinal, podemos até ficar sem tempo para morrer, mas nunca devemos deixar de ter tempo para amar.

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