‘A Queda’ e a sensação de não ter para onde correr ‘A Queda’ e a sensação de não ter para onde correr

‘A Queda’ e a sensação de não ter para onde correr

Filme, que acaba de estrear nos cinemas, investe naquela sensação de nervoso e desespero – só que também deixa claro que o subgênero não tem mais para onde ir

Matheus Mans   |  
29 de setembro de 2022 17:52

Becky Connor (Grace Caroline Currey) está vivendo um período de luto, após perder o namorada em uma escalada esportiva. Não sai de casa, não quer saber de escalar de novo e não ouve os conselhos do pai (Jeffrey Dean Morgan). Até que a melhor amiga Shiloh (Virginia Gardner), que também estava na escalada, a convence a fazer algo insano: escalar uma das mais altas, e agora desativada, torre de transmissão de TV dos Estados Unidos. Essa é a história central de ‘A Queda‘, longa-metragem que chega aos cinemas brasileiros já a partir desta quinta-feira, 26.

Dirigido por Scott Mann (de ‘Refém do Jogo’), que também assina o roteiro ao lado de Jonathan Frank, o longa-metragem tem em seu coração uma história de sobrevivência. Afinal, do alta da antena, essas duas personagens entram em desespero. A antena se mostra frágil, em frangalhos, e não há meios de descer dali — uma escada, que as levou até o ponto mais alto, caiu. O tempo vai passando e elas não sabem mais o que fazer. Como escapar dali, como sobreviver, como enfrentar as intempéries? São questões que vão surgindo conforme a trama vai avançando.

Semelhanças de ‘A Queda’

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Essa é basicamente a mesma história, apenas com espaços diferentes, de uma série de outros filmes que ganharam os cinemas recentemente. A começar por ‘Medo Profundo‘, de 2017, que surpreendeu nos cinemas com a história de duas mergulhadoras que ficam presas em uma gaiola no fundo do mar cercada por tubarões. Tem também uma certa semelhança com ‘Águas Rasas‘, filme com Blake Lively sobre uma surfista presa em uma ilha. Por fim, difícil não lembrar de ‘Vidas à Deriva‘, com Shailene Woodley, em que um casal fica preso em um barco à vela no meio do mar.

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São todos filmes de sobrevivência, em que o desejo de viver é o objetivo final, mas que destoam de outras produções desse subgênero que sobrevive no cinema há décadas. O motivo? Todos são sobre pessoas presas em um lugar inóspito (mar, ilha, fundo do mar), com pouco ou nenhum recurso, e que desafia o espectador a pensar também sobre como essas pessoas vão efetivamente sair dali. É diferente de ‘Náufrago‘, por exemplo, que trata o personagem de Tom Hanks a partir de uma ótica mais dramática e humana, tentando sobreviver, do que aflitiva e desesperadora.

Além disso, todos eles possuem reviravoltas no final que se assemelham — principalmente ‘Medo Profundo’, ‘Vidas à Deriva’ e o filme em questão, ‘A Queda’. Parece que não há mais criatividade em desenvolver e pensar em ideias que façam a trama dar um giro de 180º, apostando sempre nas mesmas coisas. No caso desta produção de 2022, dava pra saber exatamente qual seria o ponto de virada. Fica a sensação, cada vez mais proeminente, de mais do mesmo. Será que não tinha outra ideia, outra possibilidade de virada da história, outra maneira de surpreender o público ao final?

Entre dúvidas e qualidades

Há acertos na história, porém. Ainda que em cenários distintos, o desespero das personagens e refletido na trama é o mesmo. Não só há uma terrível sensação de impotência, como de aflição. Você, como espectador, quer tirar as personagens daquela situação, ajudá-las a escapar disso, mas não vê saídas. A câmera de Mann, que valoriza a altura do espaço, ajuda a levar vertigem e desespero ao público. As talentosas Grace Caroline Currey (‘Shazam!‘) e Virginia Gardner (‘Projeto Almanaque’) ajudam com atuações que sabem como mostrar o desespero e uma verdadeira aflição.

A Queda: 'Medo Profundo' nas alturas: filme repete fórmula de filme sobre fundo do mar (Crédito: Divulgação/Paris Filmes)
‘Medo Profundo’ nas alturas: filme repete fórmula de filme sobre fundo do mar (Crédito: Divulgação/Paris Filmes)

No entanto, apesar de toda a tensão de ‘A Queda’, há esse problema natural, que nasce da semelhança com ‘Medo Profundo’: a fórmula batida. A história é a mesma. Segue o mesmo bê-á-bá, as mesmas consequências, os mesmos tipos de personagens. Fica a sensação de que não há mais para onde correr, caminhos a encontrar. ‘A Queda’, assim, termina sem surpreender, sem chocar. Toda a emoção se esvai na primeira hora de filme, enquanto o restante segue um caminho previsível, chato e sem surpresas. O filme poderia ter ousado mais, surpreendido muito mais.

Fica a dúvida se há espaço, assim, para mais histórias assim. Enquanto ‘Medo Profundo’ chamou a atenção e até fez parte de algumas listas importantes de melhores filmes do ano, ‘A Queda’ pode até causar uma certa comoção, mas não tem como ir além disso. Mesmice, afinal, não traz lembranças a longo prazo. Fica a dúvida, então: como mudar o cinema de sobrevivência? Como ir além do que já está sendo feito há cinco, seis anos? Chegou a hora de mudar de novo o cinema de sobrevivência, buscando novas fórmulas e histórias.

Fica a torcida para encontrarem o caminho.

‘A Queda’ está em cartaz nos cinemas. Clique para saber mais detalhes, assistir ao trailer e encontrar o link para a compra de ingressos.

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