Com ‘A Suspeita’, Glória Pires vive policial com Mal de Alzheimer Com ‘A Suspeita’, Glória Pires vive policial com Mal de Alzheimer

Com ‘A Suspeita’, Glória Pires vive policial com Mal de Alzheimer

Com personagem, atriz mostra que doença pode afetar pessoas de várias idades e, com isso, ter efeitos diversos na vida, rotina e memória do paciente

Matheus Mans   |  
16 de junho de 2022 12:41

Entrei na sala de entrevistas de ‘A Suspeita‘, em um hotel na zona sul de São Paulo, com um certo nervosismo. Apesar dos anos e anos de experiência entrevistando personalidades nacionais e internacionais, era Glória Pires que estava do outro lado daquela sala. É a pessoa que interpretou Ruth, Raquel, Pierina, Dona Lindu. É uma instituição do cinema e da TV no Brasil. A maior de sua geração. E que, agora, repete seu bom trabalho com o filme policial ‘A Suspeita’.

Estreia dos cinemas desta quinta-feira, 16, Glória Pires não é “apenas” uma policial na produção. Seria pouco para ela. Aqui, ela interpreta Lúcia, uma investigadora já na casa dos 50 anos que, durante uma investigação sobre o tráfico, presencia uma cena que não faz sentido: seu colega mata um escritor que estava sendo investigado e, depois, é morto por um terceiro na sua frente. Ela, enquanto isso, sobrevive enquanto precisa lidar com um precoce Mal de Alzheimer.

A Suspeita com Glória Pires
Glória Pires leva força e verdade para a história de ‘A Suspeita’ (Crédito: Divulgação/Imagem Filmes)

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É uma situação adversa, quase absurda, mas que transpira realidade pela atuação de Glória. “O [diretor] Pedro Peregrino me apresentou um livro que foi fundamental pra mim”, conta ela sobre sua preparação para a personagem. “A gente pensa mesmo em pessoas mais velhas com Alzheimer, mas existem pessoas mais jovens com essa situação. Só que há a dificuldade de diagnosticar. Com os mais jovens, a coisa fica diferente, com diferentes tipos de sintomas”.

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Em ‘A Suspeita’, por exemplo, Lúcia começa aos poucos a mostrar detalhes dos efeitos do Alzheimer. Esquece coisas, não lembra onde fica seu apartamento, erra letras. São pequenas mudanças que vão afetando sua rotina e, com isso, prejudicando o trabalho como investigadora. Como conduzir uma investigação dessa quando a memória é inimiga? O desafio é posto rapidamente pelo filme, que aos poucos vai amplificando ainda mais a tensão dessa situação.

“A autora desse livro teve uma sacada que foi começar a registrar os sintomas da doença imediatamente. Ela ainda tinha memória para registrar as ausências da memória. É incrível”, conta Pedro. Isso, no final, inclusive acabou influenciando a história de ‘A Suspeita’, já que Lúcia começa a escrever um livro para falar sobre os efeitos da doença e como suas memórias e lembranças estão começando inclusive a borrar limites temporais e fatos importantes.

Glória não lembra o nome do livro que Pedro emprestou — ele, aliás, fica em dúvida se foi ele que indicou o livro ou se foi a própria atriz. Mas, ainda assim, essa foi a peça central. “A autora conta como era a rotina dela com o Alzheimer, como estava se transformando. Sempre questões sutis”, explica. “O conhecimento do lado de dentro da polícia, como tudo se organiza com pessoas tão diferentes. Tudo isso foi pra levar pra dentro da personagem, pouco pra fora”.

Nos bastidores de ‘A Suspeita’

Este é o primeiro longa-metragem que Glória Pires produz, seguindo inclusive os caminhos da filha, Cleo, que acabou de assinar a produção de ‘Me Tira da Mira’. Ela e Pedro contam que viveram alguns momentos de tensão, como a sobreposição de projetos — Glória já estava escalada para o elenco da novela ‘Éramos Seis’ e Pedro ia começar a rodar ‘Órfãos da Terra’, precisando encontrar um momento único e bem limitado para fazer as gravações de ‘A Suspeita’.

“Terminei de filmar em uma sexta e, na segunda, já tava começando a pré-produção de ‘Órfãos da Terra’. Depois já fui pra ‘Éramos Seis’. Fiz duas novelas nesse tempo, a Glória uma”, conta Pedro. Tudo isso com animação do início ao fim.

Bem no comecinho do projeto, por exemplo, Pedro prospectou Glória com uma folha de papel. “O Luiz Eduardo Soares escreveu o argumento do filme e me chamou. Achei a história tão interessante, falando sobre a memória no ponto de vista feminino com essa personagem peculiar, que fiquei empolgado. Tão empolgado que tive a ousadia de chamar a Glória Pires com uma folha de argumento”, diz. “Falei que estava dentro se fosse produtora”, completa Pires.

No final, deu certo: Glória entrou no filme, assinou como produtora, conseguiram rodar em apenas quatro semanas e, ainda, aconteceu algo raro de se ver no cinema nacional. “Dois anos depois que terminamos a gravação do filme, a [produtora] Formata deu uma diária para rodarmos algumas coisas que estavam faltando durante a montagem”, conta o diretor. “Isso é algo muito ousado, muito difícil de ver. Por isso comemoro tanto o filme, hoje, chegar aos cinemas”.

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