‘A Tragédia de Macbeth’ absorve expressionismo alemão para amplificar Shakespeare ‘A Tragédia de Macbeth’ absorve expressionismo alemão para amplificar Shakespeare

‘A Tragédia de Macbeth’ absorve expressionismo alemão para amplificar Shakespeare

Denzel Washington e Frances McDormand interpretam os protagonistas de ‘A Tragédia de Macbeth’, filme que acaba de chegar ao Apple TV+ e que amplia a força da peça de William Shakespeare

Matheus Mans   |  
18 de janeiro de 2022 12:26
- Atualizado em 19 de janeiro de 2022 13:03

Foi lá pelos idos de 1600 que William Shakespeare escreveu a tragédia ‘Macbeth’. Pensado para os palcos ingleses daquele século XVII, quando o Barroco dominava as artes, o texto conta a história de Lorde Macbeth, um general que encontra três bruxas no seu caminho. Nada de feitiço, porém: o que nasce desse encontro é uma visão grandiosa.

Segundo elas, Macbeth irá se tornar Rei da Escócia. Como? Ninguém sabe, muito menos o protagonista. É aí que começa a loucura do personagem. Atiçado por ideias e pensamentos da esposa, Lady Macbeth, ele começa a ter ideias de morte, assassinato, traição. Tudo para fazer com que as previsões das bruxas se cumpram e ele se torne rei, enfim.

A história, que é a mais curta do autor de peças como ‘Hamlet’ e ‘Romeu e Julieta’, virou um fenômeno. Ainda que considerada amaldiçoada por muitos no mundo teatral anglófono, e por isso chamada apenas de “a peça escocesa”, ‘Macbeth’ ganhou dezenas de adaptações nos palcos dos teatros e, a partir do século XX, as telas do cinema.

Bastidores de A Tragédia de Macbeth
Nos bastidores de ‘A Tragédia de Macbeth’, Joel Coen divide o brilho com elenco estrelar e fotografia de Bruno Delbonnel (Crédito: Divulgação/Apple)

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Ganhou interpretações de nomes como do italiano Mario Caserini (1908), do austríaco Richard Oswald (1921), do norte-americano Orson Welles (1948), do japonês Akira Kurosawa (1957), do polonês Roman Polanski (1971) e do australiano Justin Kurzel (2015) com ‘Macbeth: Ambição e Guerra‘. Mas poucos tiveram êxito como Joel Coen.

Enfim, ‘A Tragédia de Macbeth’

Conhecido por trabalhos ao lado do irmão Ethan Coen, como ‘Fargo‘ e ‘Bravura Indômita‘, o Joel assumiu a bucha de fazer uma nova adaptação. Afinal, além da empreitada solitária, Joel precisava fazer com que ‘A Tragédia de Macbeth’, estreia da última semana no Apple TV+, soasse como algo original. Como competir com Welles e Kurosawa?

A primeira solução foi não adaptar o texto de Shakespeare. Há apenas alguns retoques, aqui e ali. Mas o rebuscado da peça teatral de 1600 está ali — não é à toa que o começo do filme é complicado, difícil de acostumar. Além disso, outra opção lembra um pouco o que Welles fez em ‘Macbeth: Reinado de Sangue’: um elenco pouco óbvio e original.

Denzel Washington (‘Dia de Treinamento’), afinal, é um homem negro, mais velho, e que não se encaixa em uma Escócia da Idade Média, ainda mais no papel de Macbeth. O mesmo vale para a esposa do personagem principal, interpretada aqui por Frances McDormand (‘Nomadland‘), que ajuda a dar uma carga mais emocional à personagem.

Mas é o visual que muda tudo

Tudo bem: o elenco está muito acima da média, com atuações dignas de ganhar o Oscar (e não só receberem indicações na temporada), e a direção de Joel Coen é firme. Só que nada se equipara ao visual do longa, em termos de design de produção e fotografia. Rodado em preto e branco, em formato padrão (1.37:1, aquele quase quadrado, conhecido como Academy Ratio e comum no cinema até os anos 1950), o visual tem algo a dizer.

Além de uma clara inspiração no cinema de Ingmar Bergman, principalmente no visual da Bruxa que puxa para a Morte em ‘O Sétimo Selo‘, o filme é todo calcado no visual do expressionismo alemão. Com clássicos como ‘Nosferatu‘ e ‘Metrópolis’, o movimento conta com cenários angulares, grandiosos e que mostram a pequenez do ser humano.

Cena de A Tragédia de Macbeth
Frances McDormand leva potência e verdade para a personagem de Lady Macbeth (Crédito: Divulgação/Apple)

É uma estética que encaixa com perfeição dentro da ideia geral de ‘A Tragédia de Macbeth’. Mais do que falar sobre a história da loucura de um homem, o texto de William Shakespeare fala sobre angústias da existência humana. Macbeth está desesperado por poder e, principalmente, por saber sobre o que pode ser o futuro. É essa visão que o atormenta.

A estética angular, com portais grandiosos e escadas monumentais, diminuem o personagem dentro daquele cenário. A tela, no formato mais quadrada, também vai “apertando” os personagens dentro daquela história que nada mais é do que um caldeirão em ebulição. Welles, Kurosawa e Polanski filmaram bem, mas Coen acertou a estética.

Fica difícil, agora, pensar em novas adaptações de ‘Macbeth’. O expressionismo alemão, as atuações, a fotografia e o design de produção consolidam o filme como uma união quase perfeita entre teatro e cinema, em que as duas artes conversam e se entendem. Denzel, Frances, Coen e Delbonnel elevaram Shakespeare em pleno século XXI.

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