Crítica de 'Amigos Imaginários': alegria e fugas mentais

‘Amigos Imaginários’ (‘IF’) é uma proposta familiar encantadora que brilha por sua originalidade, mas se embaraça com sua lógica interna

Lalo Ortega | 17/05/2024 às 08:45 - Atualizado em: 17/05/2024 às 08:45


Nos últimos anos, propostas de cinema familiar como Amigos Imaginários (IF), que chega aos cinemas do Brasil em 16 de maio, são quase um milagre. Praticamente tudo o que chega às salas comerciais está baseado em alguma franquia estabelecida – este ano, por exemplo, veremos outra entrega de Transformers, agora animada – ou apela ao mínimo denominador comum que o marketing costuma produzir e embalar como “para todos os públicos” (como o Universo Cinematográfico da Marvel).

Até parece que o diretor e roteirista, John Krasinski – cujo salto bem-sucedido de ator a cineasta eficiente veio com o terror de Um Lugar Silencioso – está consciente disso. Seu novo filme transborda um ar de nostalgia tanto dentro quanto fora de sua narrativa. Há uma noção de um tempo melhor, mais vivo e imaginativo, com o qual é necessário se reconectar.

Se Krasinski tem sucesso em algo com Amigos Imaginários, é em contar uma história adequada para toda a família, que é uma ode à imaginação. Por momentos, até de uma beleza comovente... quando não se embaraça com suas próprias ambições e lógica.

Manter a alegria

Amigos Imaginários é a história de Bea (Cailey Fleming, de The Walking Dead), uma garota de Nova York que ainda está lidando com a perda de sua mãe alguns anos atrás, quando seu pai (Krasinski) precisa se submeter a uma cirurgia cardíaca que pode custar-lhe a vida. Enquanto ele está internado no hospital à espera da operação, Bea fica na casa de sua avó (Fiona Shaw, de Harry Potter).

Dada a sua situação, Bea é uma menina que foi obrigada a amadurecer cedo demais contra os desejos de seu pai, que costuma lembrar-lhe da felicidade de sua infância. No entanto, sua armadura começa a se abrir quando, no andar de cima, ela descobre algo curioso: criaturas que dizem ser imaginárias e que só ela e outro homem misterioso, Cal (Ryan Reynolds), podem ver.

Como são os únicos que podem ver os amigos imaginários, Bea e Cal têm uma missão: ajudar Blue (voz em inglês de Steve Carell), Blossom (voz de Phoebe Waller-Bridge) e outros seres semelhantes a voltarem para as crianças que já os esqueceram.

Há momentos de grande ternura em Amigos Imaginários (Crédito: Paramount Pictures)

A jornada de Bea, por esse caminho, é clara: ela deve reconectar-se com seu lado infantil – ou melhor, sua alegria infantil e sua capacidade de se maravilhar – para enfrentar a vida a partir de um lugar de amor e certa ingenuidade, alimentado por suas lembranças, para ajudar os outros.

Isso, em si, é uma ideia poderosa, e Krasinski escolhe levá-la a sério. Há humor, sem dúvida, mas não de uma forma condescendente ou infantilizante. Sua história consegue tocar, sem rodeios, o medo da morte e a nostalgia. Há momentos de beleza genuína, como uma cena protagonizada por Fiona Shaw sem necessidade de dizer uma palavra (a música de Michael Giacchino, compositor para filmes como Viva e Up, sem dúvida contribui para a causa).

Amigos Imaginários se atrapalha demais

Há muito o que elogiar no novo filme de Krasinski, mas o diretor e roteirista tropeça com suas próprias ambições. Por momentos, Amigos Imaginários parece não saber qual é sua trama principal, mudando de foco e lançando ideias que não são retomadas ou esclarecidas depois.

Um dos principais problemas é o personagem de Ryan Reynolds. Embora o ator faça o de sempre e resulte tão enternecedor quanto divertido, seu propósito na narrativa é mutável e ambíguo, de um modo que só parece servir à revelação do desfecho (e que se pode adivinhar com um pouco de observação).

Ryan Reynolds traz humor para Amigos Imaginários, mas seu personagem complica as coisas (Crédito: Paramount Pictures)

O resultado é que, embora haja uma imaginação decididamente inspirada nos designs dos personagens e de certas cenas, muitas delas acabam sendo supérfluas, embaraçando mais as coisas ao ponto de tornar o filme um pouco difícil de seguir para os menores do público. E é um tanto frustrante porque Amigos Imaginários não precisava de tanto.

Em seu núcleo, é uma bela história sobre o poder e a importância da imaginação, de lembrar e conectar tanto com outras pessoas, quanto com nós mesmos. É bastante mais do que a maioria da indústria hollywoodiana atual tem a dizer.

Amigos Imaginários já está em cartaz. Compre seus ingressos para assistir nos cinemas.

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Lalo Ortega
Lalo Ortega

Lalo Ortega é um crítico mexicano de cinema. Já escreveu para publicações como EMPIRE em español, Cine PREMIERE, La Estatuilla e mais. Hoje, é editor-chefe do Filmelier.

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