‘Harry Potter e a Pedra Filosofal’ foi o teste de fogo do mundo mágico criado por JK Rowling nos cinemas. E, felizmente, deu muito certo. O diretor Chris Columbus usou de inspiração sua experiência em histórias infantis e familiares, como ‘Esqueceram de Mim’ e ‘Uma Babá Quase Perfeita’, e criou uma introdução ao mundo mágico de Harry Potter digna dos livros. Há aventuras infantis, há um clima de escola e, sobretudo, há momentos de um verdadeiro encantamento, como os complôs contra o professor Snape, os treinos de quadribol e as aulas de levitação. É o filme mais leve da franquia e que serve como um convite à todas pessoas, de todas as idades, a entrarem nos corredores mágicos do castelo de Hogwarts.
Ainda sob a batuta de Columbus, ‘Harry Potter e a Câmera Secreta’ vai além do tom infantil do primeiro filme. Começa a ganhar contornos juvenis e, principalmente, a dar formato à grande rivalidade da saga entre Harry Potter e Lord Voldemort. O suspense toma conta do terço final do filme, que marca uma verdadeira divisão de águas na história. No entanto, apesar disso tudo, continua a trazer elementos de encantamento do primeiro longa e a explorar ainda mais a personalidade dos protagonistas Harry, Rony e Hermione, além de aprofundar a participação de personagens como Hagrid e Dumbledore. É a consolidação da fórmula e das histórias vistas no primeiro filme, ganhando fôlego e atingindo novos públicos.
Depois de dois filmes com pegada infantojuvenil, a saga dá uma guinada no terceiro longa-metragem. Sob direção do premiado cineasta mexicano Alfonso Cuarón (‘Filhos da Esperança’, ‘Roma’), o filme adquire de vez um tom mais sombrio na vida de Harry Potter. Os Dementadores -- fantasmas pretos e sem rosto, que sugam a alma -- se tornam determinantes na trama, assim como a participação do querido Sirius Black. Mas, mais do que isso, ‘O Prisioneiro de Azkaban’ coloca camadas e personagens na briga contra Lorde Voldemort e, principalmente, faz experimentações de roteiro e direção -- se tornando, assim, o filme favorito da crítica, de grande parte do público e, inclusive, da autora JK Rowling.
Após três filmes construindo a personalidade dos personagens e mostrando ao público o que é Hogwarts, ‘Harry Potter e o Cálice de Fogo’ se propõe a ser um ponto de virada. Afinal, sem os tons sombrios e inventivos de Cuarón e com a direção leve de Mike Newell (da comédia ‘Quatro Casamentos e um Funeral’), a saga passa a mostrar os dilemas da vida adolescente, como a relação entre Harry, Rony e Hermione, os primeiros namoros, os clichês e os tipos clássicos da comédia escolar. Além disso, Newell arrisca um filme que quebra a sequência rotineira de aulas em Hogwarts para apostar totalmente na o Torneio Tribruxo, com cenas de tirar o fôlego. E vale lembrar: o filme tem um dos finais mais angustiantes e fortes de toda a saga, com Lord Voldemort finalmente tomando forma.
É a partir daqui, porém, que a saga de ‘Harry Potter’ ganha a cara e a forma que todos conhecemos. Afinal, o cineasta David Yates firma sua parceria de longa data com JK Rowling e passa a ser o diretor oficial da franquia -- perdurando até os spin-offs de ‘Animais Fantásticos’. Há uma plasticidade no que é feito, quase um ritmo industrial, trazendo uma típica condução inglesa à saga. É mais lenta, mais contemplativa, as coisas ficam mais estranhas -- no bom e no mau sentido. Além disso, há muitas subtramas políticas, por conta da interferência do Ministério da Magia. No entanto, ‘Harry Potter e a Ordem da Fênix’, ao contrário do que possa parecer, é um dos mais empolgantes filmes da saga, com Harry ensinando feitiços para outros alunos, Dumbledore mostrando seus poderes e, enfim, travando o embate mais famoso da franquia contra Lord Voldemort, já vivo e poderoso.