‘Amsterdam’: Um passarinho Cuco que não se importa com nada ‘Amsterdam’: Um passarinho Cuco que não se importa com nada

‘Amsterdam’: Um passarinho Cuco que não se importa com nada

Novo filme reúne o diretor David O. Russell com Christian Bale e traz John David Washington e Margot Robbie liderando um grande elenco

Lalo Ortega   |  
7 de outubro de 2022 16:01
- Atualizado em 10 de outubro de 2022 14:17

Em dado momento de ‘Amsterdam‘, que chegou aos cinemas brasileiros ontem (6), alguns personagens falam sobre o hobby de observar pássaros – em uma metáfora sobre os acontecimentos da trama. Esse passatempo, segundo eles, os ajudou a treinar a arte do discernimento, de direcionar a atenção para onde importa.

E então eles mencionam um pássaro em particular: o Cuco. Falam da ave como o parasita que é: um animal que invade os ninhos dos outros para se reproduzir e sobreviver. “Ele não se importa com nada”, resumem.

Para o bem e para o mal, essa é uma metáfora que se aplica ao novo filme do diretor David O. Russell (‘Trapaça’; ‘O Lado Bom da Vida’), tanto nos bastidores quanto quanto em sua narrativa, ambientada na década de 1930.

A princípio, ‘Amsterdam’ é fundamentalmente um mistério sobre a investigação de um assassinato, um exemplar de “whodunit”, termo em inglês que faz referência a pergunta “quem matou?”. Após ser enquadrada pelo assassinato de sua cliente (Taylor Swift, com pouquíssimo tempo de tela), que solicita a autópsia de seu pai senador ao suspeitar de uma trama, o Dr. Burt Berendsen (Christian Bale) e seu melhor amigo, o advogado Harold Woodsman (John David Washington), devem encontrar o verdadeiro culpado e limpar seus nomes.

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É uma premissa bem concisa, mas Russell – que também assina o roteiro – decide tomar um caminho lento e cheio de bifurcações para fazer a trama engrenar.

Amsterdam: Três amigos envolvidos em uma trama maior do que qualquer um deles (Crédito: divulgação / 20th Century Studios)
Três amigos envolvidos em uma trama maior do que qualquer um deles (Crédito: divulgação / 20th Century Studios)

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Primeiro temos que saber que Berendsen é um médico desonrado por seus sogros classistas e racistas e, portanto, enviado para lutar na Primeira Guerra Mundial, onde conhece Woodsman. O destino os leva a ficarem gravemente feridos e a conhecer Valerie (Margot Robbie), uma animada enfermeira e artista com quem vivem juntos em Amsterdam desde o fim da guerra até que o dever chama Berendsen de volta aos Estados Unidos.

O que acompanhamos é uma história que tenta dividir seus dois pés entre comédia, romance e thriller de espionagem, enquanto o trio de amigos se envolve em uma teia que leva aos mais altos escalões do poder político global. Ao longo do caminho, casais são formados, terminados e restaurados.

Em outras palavras, muitas coisas estão acontecendo ao mesmo tempo e nem todas são necessárias, considerando que muitos dos personagens são tratados como meros adereços. O grande elenco é completado por nomes como Anya Taylor-Joy, Rami Malek, Zoe Saldaña, Chris Rock, Michael Shannon, Michael Myers e Andrea Riseborough, mas menos da metade deles são essenciais para a narrativa. Um roteiro que poderia ter usado um pouco de observação de pássaros.

Verdade seja dita, mesmo o trio principal de Bale, Washington e Robbie é inconsistente às vezes. Parece que os filmes de Russell tendem a ser melhores quando focam em menos personagens com interesses mais pessoais: uma carreira no boxe em ‘O Vencedor’ ou alguns casamentos condenados em ‘O Lado Bom da Vida‘, por exemplo.

Mas aqui, o desenvolvimento individual dos protagonistas se perde na multidão, fazendo com que raramente pareçam mais do que peões no grande esquema da história. História, que na realidade, é um relato fictício de uma conspiração fascista de empresários que buscaram derrubar o presidente Roosevelt em 1933, inspirados por Mussolini na Itália e Hitler na Alemanha.

Em ‘Amsterdam’, Robert De Niro é Gil Dillenbeck, uma versão fictícia de Smedley Butler (Crédito: 20th Century Studios)

Esta história de fundo, com Robert De Niro como uma versão ficcional do general Smedley Butler, ganha força no último terço do roteiro – já bastante confuso. Ainda assim, é a parte mais interessante e provavelmente a única coisa não tão esquecível quando os créditos rolam.

Em última análise, ‘Amsterdam’ se torna uma história sobre a luta contra o fascismo (em uma referência aos Cucos) para impedir que ele tome conta de nossas sociedades, algo que continua relevante, ainda no século XXI. Russell também acrescenta uma crítica aos criminosos que ficam impunes apesar das evidências, uma jogada ousada vinda de alguém que, cercado de polêmicas e controvérsias, não lançava um filme há sete anos (falando em Cucos…).

Discursos a favor da aceitação e contra a intolerância sempre serão valiosos. Mas podem ser muito mais efetivos quando acompanhados pela expressão artística de diretores mais capazes.

‘Amsterdam’ está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil. Para saber mais sobre o filme, ver o trailer e ter mais informações sobre onde assistir, clique aqui.

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