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“Assumimos grandes riscos”, diz roteirista sobre Superman matar em ‘O Homem de Aço’

Lançado em 2013, um dos mais polêmicos pontos do filme ‘O Homem de Aço’ é no final, quando o protagonista quebra o pescoço do vilão General Zod. Afinal, na visão de muitos, a posição de assassino não caberia no Superman. Neste sábado (25), sete anos depois, o roteirista David S. Goyer abordou o polêmico assunto durante um painel focado em sua carreira na Comic-Con@Home, a versão online da San Diego Comic-Con.

No papo, visivelmente procurando as melhores palavras para expressar a sua versão para a escolha feita no roteiro, Goyer contou que a ideia do longa-metragem dirigido por Zack Snyder era trazer um Homem de Aço ainda em começo de carreira, imaturo e com pouco conhecimento de seus poderes. Além disso, houve a tentativa de ir para caminhos pouco explorados nos filmes anteriores do personagem – o que significa assumir riscos maiores. 

Antes, relembre a cena a seguir:

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“Há uma decisão editorial [dos quadrinhos], de que o Superman não mata. Há uma regra que é imposta em um mundo ficcional. Mas, as vezes, quando é um soldado ou um policial… E, novamente, um Superman imaturo. Naquela história ele voou pela primeira vez dias antes. Ele não tem conhecimento de seus poderes – e está enfrentando alguém que diz que não irá parar”, explicou o roteirista, afirmando que o personagem ficou sem saída na luta contra o vilão e escolheu o único caminho que acreditava ter para salvar vidas humanas. “Nós estávamos tentando contar uma história diferente do Superman, que nunca foi contada antes. E, para isso, é necessário assumir grandes riscos. Nós falamos sobre a possibilidade das pessoas não aceitarem isso. O pessoal do editorial da DC aceitou isso. Não foi um erro”, justificou Goyer. “Certo ou errado, e eu adoro o filme do [Richard] Donner, essa era uma nova versão”, disse o roteirista citando ‘Superman: O Filme’, de 1978 – que traz um Homem de Aço bem mais escoteiro e certinho. “Eu acho que os filmes são quase como histórias em universos paralelos [dos quadrinhos]. Essa era a intenção: ele estava nessa situação terrível e, logo em seguida, jura que nunca fará isso novamente”, continuou.  De qualquer forma, vale lembrar que aquela não foi, no mundo da ficção, a primeira vez que o Superman matou. Dentro da cronologia oficial da DC Comics nas histórias em quadrinhos, o herói já fez isso – e justamente contra o mesmo Zod. Em 1988, em uma história publicada na revista Superman #22, Zod e seus asseclas juram retornar à Terra e matar todos no planeta. Sem outra escolha, Kal-El se vê forçado a executá-los com kryptonita. Para parte dos fãs mais antigos, tal ato representou de vez o “fim” do Superman clássico.

Assumindo riscos

“Eu absolutamente entendo que as pessoas tenham problemas com isso. Quando eu adapto coisas assim, claro que preciso ser respeitoso ao material original, mas não posso me proteger contra falhas. Para grandes riscos há grandes prêmios”, afirmou.
‘O Homem de Aço’ traz um Superman ainda jovem, descobrindo seus poderes e a sua origem (Foto: divulgação / Warner Bros.)
Além disso, Goyer explicou que, ainda na pré-produção, escreveu uma cena que fortaleceria a questão moral de Kal-El na hora de tirar a vida de um oponente.  “Há uma cena escrita, mas que não filmamos, onde o Jonathan leva o jovem Clark para caçar, e eles matam um cervo. O jovem Clark se sente mal – e Jonathan diz que é algo poderoso tirar uma vida, mesmo que forçado a fazer isso. Eu sempre achei que teria sido uma cena interessante”, explicou.

Versão alternativa

Ainda no roteiro, David S. Goyer explicou que chegou a pensar em um outro subterfúgio para não ter que colocar o Superman matando o inimigo no último ato do filme.  “Haveria uma espécie de ‘pods criogênicos’ na nave que acaba se tornando a Fortaleza da Solidão, que permitiriam colocar o Zod e jogá-lo ao espaço. Nós falamos sobre isso, e alguns poderiam ficar felizes com isso, mas me pareceu que era sair pela tangente, para a história que estávamos contando.
Renan Martins Frade

Jornalista especializado em cinema, TV, streaming e entretenimento. Foi por 11 anos editor do Judão e escreveu para veículos como UOL, Superinteressante e Mundo dos Super-Heróis. Também trabalhou com a comunicação corporativa da Netflix. Foi editor-chefe do Filmelier.

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