‘Boa Sorte, Leo Grande’ naturaliza um tabu: o sexo na meia-idade ‘Boa Sorte, Leo Grande’ naturaliza um tabu: o sexo na meia-idade

‘Boa Sorte, Leo Grande’ naturaliza um tabu: o sexo na meia-idade

Sexóloga e psicóloga comentam como um filme pode abrir o diálogo e acabar com o preconceito sobre um tema tão importante

Matheus Mans   |  
29 de julho de 2022 19:35
- Atualizado em 31 de julho de 2022 21:04

Assunto tabu pouquíssimo discutido, a sexualidade na meia-idade e na terceira idade é tratada sem quaisquer barreiras em ‘Boa Sorte, Leo Grande‘, filme que chegou aos cinemas na última quinta-feira, 28. Dirigido por Sophie Hyde (‘Animals’), o longa-metragem fala sobre a vida de Nancy Stokes (Emma Thompson), uma viúva de 55 anos que anseia por alguma aventura, conexão humana e um pouco de sexo. Para isso, paga os serviços de Leo Grande (Daryl McCormack).

Ainda que seja uma comédia dramática, ‘Boa Sorte, Leo Grande’ nunca trata o tema com escárnio ou desconsideração. Pelo contrário: com leveza e sem pesar a mão, Hyde vai mostrando todas as etapas de uma mulher, na meia-idade, que começa a se descobrir. “É sempre interessante quando um filme vai além da piada ou de um drama profundo, de sobriedade duvidosa”, diz a sexóloga Regina Garcia ao Filmelier. “É preciso naturalizar a conversa, o gesto, o desejo”.

Daryl McCormack e Emma Thompson estrelam filme sobre o prazer da meia-idade (Crédito: Divulgação/Paris Filmes)

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Na trama, Emma Thompson interpreta essa mulher que nunca teve um orgasmo na vida e que, mesmo após décadas de casada, também nunca teve espaço para explorar sua sexualidade. É por isso que a relação com Leo Grande é complexa: ela vê nele uma possibilidade de fazer coisas que nunca fez antes, mas também é um caminho sem volta. O garoto de programa, de alguma forma, é quem vai quebrar tabus da própria Nancy, descrente do prazer feminino.

“É surreal a quantidade de mulheres
que fala que nunca teve
experiência com o prazer”

“Chega a ser surreal a quantidade de mulheres que chegam no consultório e falam que nunca tiveram nenhuma experiência com o prazer”, diz a psicóloga Luiza de Castro. “São anos e anos não só de uma rotina reprimida sexualmente com o parceiro, como também a sociedade apontando o dedo e não discutindo que é possível, sim, ter prazer na terceira idade. Não existe uma chavinha que desliga quando a pessoa faz 50, 60 anos. O prazer existe”.

Importância de ‘Boa Sorte, Leo Grande’

Para as profissionais consultadas pelo Filmelier, é de suma importância que filmes falem sobre o tema. “Historicamente, filmes, livros, séries, músicas e novelas abrem espaço para o debate”, explica Luiza. “Nunca vou esquecer, há trocentos anos atrás, quando começaram a falar sobre violência contra idosos por conta de uma novela da Globo. Criaram leis, as pessoas discutiram o assunto. Um filme também pode falar de prazer na terceira idade”.

Regina, inclusive, já assistiu a ‘Boa Sorte, Leo Grande’ e destaca um aspecto essencial: a não sexualização exagerada da situação vivida por Nancy e Leo. “Nossa sociedade vive sempre mergulhada em uma sexualização exagerada de tudo, que embarreira tudo. A pornografia também”, diz. “Antes da nossa entrevista, fiz uma pesquisa de filmes sobre sexo na terceira idade. Só aparecia pornografia. ‘Boa Sorte, Leo Grande’ trata tudo com respeito, ainda que com alguma pimenta”.

Afinal, não dá para falar de sexo sem ousar um pouco. Sem se arriscar. Em um assunto como esse, não dá para ser insosso demais ou sexualizado em demasia. É o meio do caminho. Como outras opções sobre o tema, a sexóloga indica dois filmes: o elogiado dinamarquês ‘Final Feliz’ e o francês ‘E Se Vivêssemos Todos Juntos?’ — este último não tem o sexo na terceira ou na meia-idade como tema principal, mas trata do assunto com qualidade e com bons momentos.

“Espero que muitas mulheres por aí, ao verem uma atriz do calibre da Emma Thompson na tela, se inspirem. Não precisam, é claro, contratar um Leo Grande. Mas podem se conhecer mais. Masturbação, novas posições com o parceiro, que é algo importantíssimo nesse momento da vida em que vamos ficando com dificuldade de locomoção”, explica Regina. “O importante é as pessoas se amarem e se entenderem. Por isso acho a última cena do filme tão bonita. Mostra como nós podemos nos amar e sentir prazer com isso, seja aos 20, aos 40 ou aos 80 anos de idade”.

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* A versão original erroneamente classificava a protagonista de ‘Boa Sorte, Leo Grande’ como da terceira idade. O texto foi corrigido para refletir a real fase na vida da personagem de Emma Thompson.

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