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Após dramas, cinema nórdico mira ação e aventura
Consolidado com dramas potentes, o cinema do norte da Europa começou a fazer sucesso com produções grandiosas de ação e aventura
O cinema nórdico se consolidou, ao longo das últimas décadas, como um dos mais interessantes polos do audiovisual. Nomes como Ingmar Bergman, Thomas Vinterberg e Lars Von Trier ajudaram a dar novos rumos aos dramas da Noruega, Dinamarca, Suécia, Finlândia e Islândia. Mas, agora, cineastas criam uma nova força na região: filmes de ação e aventura.
Títulos como ‘A Onda’, ‘Terremoto’ e ‘O Túnel’ comprovam essa nova fase. Ainda que produções experimentais e dramas pessoais continuem a fazer sucesso por lá, como foi o caso recentemente de ‘Border’, filmes-catástrofe surpreenderam com boas bilheterias e narrativas explosivas, próximas do “cinemão blockbuster americano” e de fórmulas consideradas prontas.
O próprio norueguês ‘A Onda’, por exemplo, bateu perto de US$ 13 milhões de bilheteria ao redor do mundo em 2015 — não é à toa que rendeu uma continuação, ‘Terremoto’, em 2019. O recente ‘O Túnel’ também fez bons números, chegando perto da marca de US$ 3 milhões. Nada mal para filmes de países sem muita tradição no gênero e que começam a testar formatos.
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“O cinema nórdico sempre refletiu a cultura do próprio povo. São um pouco frios para nós, mais acostumado com novelas calorosas, e com dilemas familiares e psicológicos, e provocações morais”, diz a pesquisadora Tuna Fernandes ao Filmelier. “Nesses novos filmes de ação, estamos vendo cineastas mesclando a tradição nórdico com essência dos Estados Unidos”.
Sucessos
Nos três casos destacados acima, observa-se uma semelhança acentuada com outras produções americanas. ‘A Onda’ lembra o drama ‘O Impossível’, com Ewan McGregor; ‘Terremoto’ é parecido com o blockbuster ‘Terremoto: A Falha de San Andreas’; e ‘O Túnel’ se assemelha — e muito! — ao elogiado ‘Daylight’, filme de ação dos anos 1990, estrelado por Sylvester Stallone. Além disso, Tuna chama a atenção para outros filmes que não chegaram aos cinemas brasileiros, mas fizeram boa carreira em festivais ou no digital. É o caso de ‘Mergulho Profundo’, suspense sobre um mergulhador no Mar do Norte; a fantasia ‘Ragnarok’, sobre um grupo que descobre o significado de antigas runas; e ‘Headhunters’, suspense baseado no livro de Jo Nesbø.
Fórmula nórdica
Segundo a análise de Tuna, os realizadores desses filmes estão bebendo da fonte dos EUA e começando a adaptar essas aventuras para suas realidades. Assim, filmes como o próprio ‘O Túnel’ conseguem acrescentar mais camadas à história. Afinal, segundo ela, o diretor emulou o clima de frio e claustrofobia de maneira mais “coesa” do que ‘Daylight’, por exemplo. “Há décadas os EUA se vale do inverno rigoroso para incrementar suspense ou dificultar a jornada do mocinho no filme de ação. E ninguém no mundo sabe mais de frio do que os nórdicos”, afirma a pesquisadora. “Chegou a hora de brincarem com as possibilidades das nevascas que enfrentam por lá. Chamo a atenção para ‘O Túnel’ por isso. Nórdicos falam do que sabem”. Além disso, segundo ela, as produtoras da região estão com “verba sobrando”. “No mundo todo, estamos vendo uma retração de gastos e investimentos no cinema. No entanto, a qualidade de vida é tão boa e o dinheiro público da região nórdica é tão bem administrado, que não há problemas em fazer gastos em grandes produções dos cinemas”.
Cinema nórdico no Brasil
Quanto à bilheteria desses filmes, sempre há um desempenho melhor nos seus próprios países de origem — a Noruega consome seus próprios filmes de ação sem problemas ou preconceitos. Dos US$ 13 milhões de ‘A Onda’, cerca de US$ 10 milhões vieram do país de origem. Nos Estados Unidos, fez “apenas” US$ 177 mil — cifra baixa, mas interessante para um filme de fora. No Brasil, a Califórnia Filmes não divulgou detalhes de bilheteria de ‘A Onda’. No entanto, ‘Terremoto’ teve um bom desempenho. Segundo o site Box Office Mojo, a sequência chegou perto de uma arrecadação de US$ 90 mil nos cinemas — e vale ressaltar que a estreia foi prejudicada pela pandemia de coronavírus, que fechou as salas apenas logo após a estreia. “É interessante notar que o cinema nórdico de ação e aventura fica no meio do caminho no Brasil. O público de blockbuster pode achar cult demais, o público cult deve achar blockbuster demais”, afirma a pesquisadora. “Mas, ainda assim, creio que temos um caminho brilhante pela frente. Talvez seja o cinema que vai fazer o elo entre esses dois públicos e quebrar barreiras”.