Lenda do cinema, compositor Ennio Morricone morre aos 91 anos
O compositor italiano Ennio Morricone morreu na madrugada desta segunda, 6, em Roma, aos 91 anos. O italiano estava internado em uma clínica após sofrer uma queda na última semana, fraturando o fêmur. Ele não resistiu às complicações.
Morricone é famoso por suas diversas contribuições ao cinema em uma carreira de 60 anos, incluindo as trilhas de filmes como ‘Três Homens em Conflito’, ‘Cinema Paradiso’ e os ‘Os Intocáveis‘. Em 2016, ele venceu o Oscar por ‘Os Oito Odiados‘.
Vida & obra de Ennio Morricone
Compositor, orquestrador, condutor e trompetista, Ennio Morricone nasceu em 10 de novembro de 1928. Com apenas 12 anos, em 1940, entrou em um conservatório musical. A partir daí começaria uma vida dedicada à música.
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Em 1946, Morricone já começava a produzir as primeiras composições. Na década seguinte, em 1953, passou a produzir para o rádio. Mesclando medleys ao estilo americano e canções “sérias”, ao estilo clássico, ele foi ficando popular na Itália. Já abraçando o jazz e estilos mais populares, o italiano foi produzir para a RAI, a rádio e televisão estatal de seu país. Ele passou, também, a trabalhar ao lado de vários músicos famosos do jazz, como Jimmy Fontana, Gino Paoli, e muito outros. O cinema veio como caminho natural dessa carreira, inicialmente compondo sem crédito para outros compositores já famosos. O primeiro filme conhecido com o trabalho de Morricone foi ‘A Morte de um Amigo’, de 1960. A partir daí, Ennio Morricone trabalhou em diversas comédias leves italianas. Porém, foi em outro gênero pelo qual o compositor se tornou conhecido: os westerns.
Os faroestes da carreira de Morricone
Em 1963, ele assinou a trilha sonora de ‘Duelo no Texas’, do diretor Ricardo Blasco. O filme fazia parte de um interessante movimento dentro do cinema italiano, que buscava mimetizar os elementos dos faroestes americanos. Era o spaghetti western. No entanto, o ponto de virada para o compositor (e para o cinema italiano) foi a chamada ‘Trilogia dos Dólares’, do cineasta Sergio Leone e estrelada por Clint Eastwood. Os dois juntos realizaram ‘Por Um Punhado de Dólares’ e ‘Por Uns Dólares a Mais’. A terceira parte, ‘Três Homens em Conflito’, de 1966, é o ponto maior dessa parceria. Para compor a trilha, Morricone mistura sons de tiros, grilos, trompetes, uma guitarra elétrica Fender e muito mais – contornando um orçamento enxuto, mas também trazendo uma personalidade a um longa-metragem já cheio de personalidade. A trilogia como um todo, mas sobretudo a terceira parte, se tornaram uma referência de cinema nas décadas seguintes. Em 1968, Morricone assiniu a trilha de ‘Era Uma Vez no Oeste’, outro filme do gênero que virou um sucesso – vendendo 10 milhões de cópias apenas da trilha sonora.
Sucesso global
Com o reconhecimento, Ennio Morricone se transformou em um sucesso mundial do cinema, inclusive trabalhando no cinema dos Estados Unidos e em dramas. São inúmeros os destaques dessa época. Entre eles, a trilha do tocante ‘Cinema Paradiso’, de 1988. Como era marca do trabalho de Morricone, as músicas são quase que um personagem do longa, que venceu o Oscar de Filme Estrangeiro. Em 1978, o italiano compôs a trilha da Copa do Mundo de 1978, na Argentina. O trabalho de Morricone chegava ao esporte. Nesse período, ele venceu seis vezes o Prêmio BAFTA e duas o Globo de Ouro. Foi também indicado a seis Oscars – por longas como ‘A Missão’, ‘Cinzas no Paraíso’ e ‘Os Intocáveis’. Venceu apenas em 2016, por ‘Os Oito Odiados’, de Quentin Tarantino. Foi a primeira, e única, estatueta competitiva da Academia para o italiano. Além dessa, ele recebeu uma honorária, pelo conjunto da obra, em 2007.
A relação com Tarantino
Assumido fã do cinema e da TV de antigamente, Quentin Tarantino costuma misturar essas referências em seus filmes. Ennio Morricone sempre foi parte dessa caldeirão do cineasta. Nos dois volumes de ‘Kill Bill’, por exemplo, o americano recicla trilhas de filmes anteriores do italiano. O mesmo se repetiu em ‘Bastardos Iglórios’, quando Morricone não estava disponível para compor músicas originais para o longa. A união foi só acontecer em 2012, com ‘Django Livre’, quando Morricone compôs uma única música especialmente para a produção. Em 2016, Tarantino finalmente pode contar com uma trilha totalmente inédita e composta para ele, em ‘Os Oito Odiados’. E o Oscar, finalmente, veio. Morricone deixa a esposa, Maria Travia, três filhos e uma filha. E milhões de fãs de suas eternas trilhas sonoras, que viverão para sempre na sétima arte.
Renan Martins Frade
Jornalista especializado em cinema, TV, streaming e entretenimento. Foi por 11 anos editor do Judão e escreveu para veículos como UOL, Superinteressante e Mundo dos Super-Heróis. Também trabalhou com a comunicação corporativa da Netflix. Foi editor-chefe do Filmelier.