“Criamos um quilombo audiovisual”, diz Jeferson De sobre ‘Correndo Atrás’

    Diretor e parte do elenco, como Ailton Graça e Hélio de la Peña, comentam estreia do longa-metragem no Telecine

    Matheus Mans | 22/06/2021 às 10:07 - Atualizado em: 23/06/2021 às 16:57


    Rodado em 2016, mas lançado apenas no último sábado, 19, a comédia ‘Correndo Atrás’ é daquelas que podem ser chamadas de pioneiras. Afinal, o cineasta Jeferson De (do badalado ‘M8: Quando a Morte Socorre a Vida’) comandou uma história com sua essência preta. Na produção, apenas profissionais negros. E na frente das telas predominam os atores negros.

    “Criamos um quilombo audiovisual”, afirma o cineasta Jeferson De, celebrando a conquista com o filme e seu lançamento nos canais pagos e no serviço de streaming do Telecine, depois de ficar com a produção engavetada ao longo de cinco anos. “É bom quando o homem, branco e heterossexual é minoria. Isso já nos coloca em um lugar de muita vanguarda”.

    Cena de Correndo Atrás
    Cena de 'Correndo Atrás', com Ailton Graça e Juan Paiva (Crédito: Divulgação/Telecine)

    De, inclusive, conta que o filme foi gravado antes mesmo de produções como ‘Pantera Negra’ -- quando começou uma preocupação maior entre produtores e estúdios em levar visibilidade e diversidade para as telas. Esse atraso tirou um pouco do brilho da produção, que poderia começar o mesmo movimento no Brasil. Mas, é claro, ainda mantém o pioneirismo.

    História de ‘Correndo Atrás’

    Na trama, adaptada do livro ‘Vai na bola, Glanderson!’, de Hélio de La Peña, acompanhamos a história de Ventania (Ailton Graça). Ele é um homem que vive de pequenos trabalhos, seja vendendo itens em um semáforo ou tentando a sorte grande por aí. No entanto, seu grande sonho é conseguir o sucesso que sempre almejou nas quadras. Agora, sendo empresário.

    Esse caminho, então, começa a ser trilhado quando Ventania conhece e descobre o talento de Glanderson (Juan Paiva), um rapaz do subúrbio carioca que tem um talento quase sobrenatural com a bola. Vendo essa oportunidade, e tendo contato com Berinjela (La Peña), um empresário de jogadores na capital, começa a apostar no sucesso que pode vir do futebol.

    “Esse filme é um acontecimento pra gente. A gente pensava em como fazer esse cinema negro acontecer no Brasil”, diz Ailton Graça. “Afinal, iríamos inaugurar esse cinema produzido, escrito, dirigido, fotografado e ‘petrogonizado’ por negros. Mexeu com todo mundo. Tinha toda a questão do roteiro maravilhoso e tinha a bandeira que a gente queria inaugurar”.

    Emocionado, Ailton conta que é a primeira vez nas telas que faz um casal totalmente negro -- desta vez, com Juliana Alves. Ela, claro, também se emociona. “Quando eu me vejo como artista, o sentido desse ofício se torna mais real e bem sucedido quando conseguimos fazer um filme como ‘Correndo Atrás’. Mostra, afinal, um poder que a gente tem”, finaliza.

    Mudança de tom

    Na história, há algumas coisas interessantes e que aprofundam a narrativa além de uma comédia banal e esquecível. Primeiramente, há toda a história envolvendo o sonho de Ventania em ganhar espaço entre as linhas de um campo de futebol -- antes como jogador, depois como empresário. É a história, o sonho e a esperança de muitas pessoas ao redor do Brasil.

    Além disso, Hélio de la Peña, muito conhecido por integrar a trupe do Casseta & Planeta, conta que a ideia vai além. Afinal,  cinema geralmente fala sobre comunidades mais pobres e periféricas de maneira negativa. É o caso de ‘Cidade de Deus’ e ‘Tropa de Elite’, por exemplo, que colocam o crime organizado, o tráfico e a violência nas telas sem qualquer pudor.

    “Eu queria mostrar que o subúrbio não é só tráfico, milícia. Tem isso, mas não é só isso. E tudo comandado e protagonizado por negros. Nunca tínhamos visto isso antes no cinema nacional. Se o elenco era todo preto, o comando era branco”, diz. “O filme não passa pano em nada, mas mostra que o mundo comporta várias outras situações, visões e histórias”.

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    Matheus MansMatheus Mans

    Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.

    Matheus Mans
    Matheus Mans

    Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.

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