Crítica: ‘A Cor Púrpura’ emociona mesmo fora de tom Crítica: ‘A Cor Púrpura’ emociona mesmo fora de tom

Crítica: ‘A Cor Púrpura’ emociona mesmo fora de tom

Apesar de músicas grandiosas e histórias impactante, é evidente como esses dois acertos não fazem de ‘A Cor Púrpura’ um grande filme

Matheus Mans   |  
7 de fevereiro de 2024 16:52

O livro A Cor Púrpura, de Alice Walker, conseguiu atravessar a barreira do tempo como poucos — mesmo mais de 40 anos após a publicação, continua sendo relevante. Afinal, esta sua história fala sobre preconceito, violência doméstica, sororidade. Temas que estão em voga. Por isso, não é surpreendente que A Cor Púrpura ganhe uma nova versão nos cinemas, 41 anos após a publicação do livro e 39 anos depois da primeira adaptação nas telonas por Steven Spielberg. 

No entanto, não espere encontrar um novo longa-metragem, já em exibição em grande circuito a partir desta quinta-feira, 8, como se fosse apenas um copia e cola do que Spielberg fez lá atrás. Não é nada disso. Dirigido pelo cineasta ganense Blitz Bazawule, o novo longa-metragem é uma adaptação não diretamente do livro de Walker, mas do musical que fez sucesso na Broadway lá pelos primeiros anos da década de 2000. Uma nova proposta.

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A história, porém, continua a mesma: Celie (Fantasia Barrino) é uma mulher maltratada pela vida. Foi abusada pelo pai, que a separou de seus dois filhos, e depois foi entregue para ser a esposa de Mister (Colman Domingo), um homem violento e que a enxerga apenas como empregada doméstica. Sua vida, porém, ganha novos contornos e significados com a chegada de outros personagens importantes, como Sofia (Danielle Brooks) e Shug (Taraji P. Henson).

Danielle Brooks, a nova Sofia, é um dos principais pontos altos de A Cor Púrpura (Crédito: Warner Bros Pictures)
Danielle Brooks, a nova Sofia, é um dos principais pontos altos de A Cor Púrpura (Crédito: Warner Bros Pictures)

Difícil não sentir, logo de cara, um estranhamento. É uma história pesada, sobre solidão, violência doméstica e abuso, mas é pontuada por músicas que não necessariamente conversam com a história. Há uma cena em que a jovem Nettie (Halle Bailey), irmã de Celie, fala que o pai tentou abusar dela e, por isso, fugiu de casa. Um minuto depois, há uma cena bastante dançante, com muita música, com a personagem de Bailey (A Pequena Sereia) querendo se divertir.

Obviamente, ela não precisa ficar cabisbaixa o tempo todo – afinal, está de olho em uma nova vida após isso. Só que isso prejudica bastante o ritmo do filme e, claro, a emoção que sentimos na história. Há uma perda de conexão.

A Cor Púrpura e seu grande elenco

Apesar disso, A Cor Púrpura vai se recuperando. Não exatamente essa falta de tom, que persiste em vários momentos até o final do filme, aqui e ali, mas principalmente pelo elenco que faz um trabalho impressionante – e aqui, neste ponto, é difícil não fazer comparações com o elenco original. Fantasia Barrino, por exemplo, é uma revelação: a jovem atriz, que venceu a versão americana do programa Ídolos, tem uma voz marcante e sabe colocar drama na história.

Sua personagem é a alma e a essência de A Cor Púrpura, nesta nova versão, misturando esses dois mundos que não se encaixam em um primeiro momento, mas que emocionam cada um à sua maneira. Apesar da corrida acirrada, ela merecia uma vaga no Oscar 2024. Não dá para dizer que é melhor do que Whoopi Goldberg, mas chega bem perto.

E não é só Fantasia que se sai bem. Todo o elenco de apoio está extraordinário: Domingo, indicado ao Oscar por Rustin, faz um Mister ainda mais odiável, com camadas de profundidade em sua personalidade que não vemos no filme de 1985; Brooks, que conquistou a única indicação ao Oscar do filme, é a Sofia perfeita, misturando toda a explosão da personagem com seu final triste e melancólico. Se sai melhor do que Oprah Winfrey naquele de 1985.

Cenas musicais de A Cor Púrpura são grandiosas, mas competem com o tom da história (Crédito: Warner Bros. Pictures)
Cenas musicais de A Cor Púrpura são grandiosas, mas competem com o tom da história (Crédito: Warner Bros. Pictures)

Acima de tudo, uma grande história

Nessa mistura de sensações, com cenas fora de tom e um elenco que transpira talento, fica a sensação de que A Cor Púrpura é daqueles filmes que não se encontram. Mas não é isso. Afinal, o longa produzido por Spielberg e Oprah continua emocionando simplesmente por conta de sua história. Como já dito, a jornada de Celie atravessa tempos e gerações e se faz necessária ser discutida ainda hoje. O texto de Walker se comporta como outros clássicos da literatura dos Estados Unidos, como A Letra Escarlate e As Vinhas da Ira, e continua dialogando com o agora.

Por mais que Bazawule não seja Spielberg, faltando imaginação na direção, há perícia aqui em contar a história desses personagens que sofrem com males que afetam a vida das pessoas até hoje. Não importa, no final das contas, a sensação de que o filme não sabe misturar músicas e drama tão bem. O público acaba arrebatado pela emoção, seja pela identificação, pela força da história ou pelo trabalho dos atores, e A Cor Púrpura consegue reproduzir o mesmo sentimento do filme de 1985: a sensação de que estamos vendo uma grande história sendo contada.

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