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Crítica: ‘O Mistério de Maya’, da Netflix, é filme difícil e emocionante

Quem vê o título do documentário O Mistério de Maya, lançamento da Netflix nesta segunda-feira, 19, pode pensar que este é mais um daqueles filmes de true crime da plataforma. Sobre um desaparecimento, um serial killer ou qualquer coisa do mundo do crime. Mas não: o longa-metragem, que poderia ter um título mais assertivo, fala sobre um caso desesperado e revoltante envolvendo política, indústria da saúde e um erro médico imperdoável.

Qual é a história de O Mistério de Maya?

Dirigido por Henry Roosevelt, estreante em longas, O Mistério de Maya acompanha a história da jovem Maya Kowalski. Norte-americana, ela foi diagnosticada quando criança com uma doença rara que provoca dores locais insuportáveis — além de diminuir consideravelmente sua capacidade de locomoção. Os pais de Maya, porém, fazem de tudo para curar essa doença e topam fazer um tratamento experimental e arriscado no México. Mas surpresa: Maya logo melhora.

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Só que, um tempo depois, Maya começa a sofrer com uma dor de barriga muito forte. Será a doença voltando? Ela, junto com os pais e o irmão mais novo, vão para um hospital da região para que ela seja devidamente medicada. E é aí que tudo dá errado. Os médicos desse local dizem que a garota não tem doença alguma e que tudo é instigado pela mãe, Beata Kowalski. Tiram a guarda dos pais, deixam a menina no hospital e ela deixa de tomar seus medicamentos. Aos poucos, a coisa vai deteriorando até chegar em um ponto trágico, catastrófico. Roosevelt, que conta a história toda de maneira bastante linear, é comedido na forma de filmagem: evita grandes artifícios com sua câmera, coloca uma fotografia mais escura e, enfim, deixa que a história choque por si só. Ele sabe, no final das contas, que não precisa de qualquer tipo de pirotecnia visual para impressionar. A história, por si só, é uma enxurrada de emoções.
Por um erro ou incapacidade de um hospital, uma família foi destruída (Crédito: Netflix)

O Mistério de Maya é um bom filme?

Há, por limitações da própria história, uma falta de dinamicidade em O Mistério de Maya. Apenas o pai da garota conta a história, com algumas imagens da rotina familiar, algumas poucas cenas de arquivo e gravações de áudio. Acaba sendo um filme engessado não exatamente por falta de iniciativa da direção, mas mais por conta da seriedade do que está sendo contado. É como se fosse uma matéria jornalística em um grande noticiário: não tem como inventar muito. Só no final que uma questão complicada, de decisão de produção e distribuição, surge: a história não está completa. Há pendências a serem resolvidas pela família Kowalski, provavelmente agora no final de 2023. A história fica incompleta. É claro que o espectador também fica com uma sensação similar da família, sentindo impotência e uma dificuldade em encerrar ciclos. Mas a Netflix poderia ter esperado um pouco mais pra entregar o filme completo. De qualquer forma, O Mistério de Maya é um filme forte, revoltante, desolador. Difícil não sentir uma profusão de sentimentos apenas pela força da história em si, que toma conta do documentário e, sem qualquer tipo de complicação visual, é contada de forma linear, comportada e, ainda assim, eficiente. É, afinal, uma tragédia quase clássica, com toques kafkianos, em que o Estado se mete onde não é chamado — e ninguém sabe como escapar.

O Mistério de Maya já está disponível na Netflix. Clique aqui para assistir.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus Mans

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