Crítica: ‘A Sala dos Professores’ surpreende com trama moralista, mas cheia de ideias

Mesmo com erros pelo caminho, 'A Sala dos Professores' acerta ao refletir sobre a justiça dentro de uma escola

Matheus Mans | 29/02/2024 às 05:36 - Atualizado em: 29/02/2024 às 05:41


A corrida pelo Melhor Filme Internacional no Oscar 2024 está praticamente decidida: o ótimo Zona de Interesse, que também está indicado nas categorias principais, deve levar sem grandes complicações. A Sociedade da Neve corre por fora, mas sem chances reais. Só que há um outro bom filme na competição, ainda que sem qualquer possibilidade de vitória, mas que merece ser discutido: A Sala dos Professores, que estreia nesta quinta-feira, 29.

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  • Na trama, a professora Carla Nowak (Leonie Benesch) está incomodada. Na escola, itens de professores estão sendo roubados, à luz do dia, e sem suspeitas concretas. Na ânsia de encontrar um culpado, professores acabam apontando para alunos estrangeiros e, no fim do dia, o desconforto toma conta da escola. É aí que Carla, cansada disso, decide fazer o impensável na Alemanha: gravar escondido e descobrir quem está por trás dos roubos.

    Dirigido pelo pouco experiente Ilker Çatak, o longa-metragem não só busca compreender os caminhos da justiça pelas próprias mãos, mas também quais são os limites entre a Justiça fora dos muros escolares e aquela dentro da sala de aula. Afinal, Carla tenta consertar erros cometidos principalmente contra imigrantes na escola, mas causa outro conflito. Quando descobre quem é a pessoa por trás dos roubos, cria um atrito feroz com um de seus alunos.

    Carla está em uma situação complicada na escola, entre a Justiça do mundo real e a da sala dos professores (Crédito: Sony Pictures)
    Carla está em uma situação complicada na escola, entre a Justiça do mundo real e a da sala dos professores (Crédito: Sony Pictures)

    A pedagogia, enfim, está no centro das discussões em A Sala dos Professores. Carla, independente de ser experiente ou não, fica em uma sinuca de bico complicada de sair. As coisas não são claras para ela, os caminhos são evidentemente complicados. A falta de uma orientação geral, assim como as diversas possibilidades de resolver vários conflitos, grita por injustiça. Parece que o mundo da escola não conversa com o mundo lá fora.

    Não à toa, o longa-metragem quase não tem cenas no exterior da escola – tirando uma de perseguição, mas que é a continuação de algo grave que acontece durante uma aula. Çatak quer compreender exatamente como esse microcosmos representa o mundo real e vice-versa. Não é uma tarefa fácil, mas o filme consegue entregar algumas boas reflexões na esfera social, enquanto também cria um clima de tensão que o torna mais atraente.

    Briga de discursos na sala dos professores

    Só é preciso notar como o diretor tropeça em algo que pode ser fatal: deixar o discurso de um único personagem dominar o discurso do filme. Aqui, mais especificamente, Carla é uma personagem muito moralista. Busca lições de moral sempre, atrás de uma ética que, por vezes, é só aparente, nunca efetiva. Seu discurso acaba por contaminar bastante da trama, que segue pelo mesmo caminho moralista – é o espectador que precisa fazer, aqui, a diferenciação do que é trama e do que é a visão da personagem, separando as coisas.

    Em A Sala dos Professores, o aluno como centro de tudo (Crédito: Sony Pictures)
    Em A Sala dos Professores, o aluno como centro de tudo (Crédito: Sony Pictures)

    O final de A Sala dos Professores, porém, resgata um pouco de sua linguagem própria ao colocar uma cena que, ridícula de tudo, comenta bastante sobre o papel das crianças na sociedade de hoje, a importância indevida que ganham em algumas situações e, até mesmo, como estão se tornando centro de discussões que não deveriam acontecer – além de mostrar como a escola é um ambiente à parte, ignorante do mundo lá fora, e que trata da própria experiência do diretor. Assim, apesar dos tropeços, o filme alemão acerta e, mais importante de tudo, nos faz pensar.

    A Sala dos Professores está em cartaz nos cinemas. Clique aqui para comprar ingressos.

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    Matheus Mans
    Matheus Mans

    Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.

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